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Testosterona, desejo sexual e conflito de interesse: periódicos biomédicos como espaços privilegiados de expansão do mercado de medicamentos* * As ideias iniciais que deram origem ao presente artigo foram apresentadas em Buenos Aires, em 2013, na Conferência Internacional da International Association for the Study of Sexuality Culture and Society (IASSCS) e, posteriormente, retomadas na tese de doutorado defendida pela primeira autora no Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. O projeto de doutorado foi contemplado com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e da IASSCS, através do programa IASSCS Emerging Scholars International Research Fellowship.

Testosterone, sexual desire and conflict of interest: biomedical journals as a privileged space for the expansion of the pharmaceutical market

Resumo

Este artigo focaliza a articulação entre pesquisa biomédica e indústria farmacêutica com base nos estudos da tecnociência. Abordamos o caso do medicamento Intrinsa – adesivo de testosterona, cujo propósito é o aumento do desejo sexual em mulheres – examinando artigos que relatam resultados de ensaios clínicos, publicados em periódicos científicos. Buscamos demonstrar como a população visada pelos ensaios clínicos foi paulatinamente expandida de modo a englobar um número cada vez maior de mulheres, o que pressupôs rearranjos na maneira de definir as disfunções para as quais o medicamento seria indicado e as possíveis causas subjacentes. Foi possível identificar três caminhos de ampliação do mercado para o Intrinsa: o primeiro baseou-se na alteração do status de menopausa. A terapia com testosterona passou a ser vinculada também ao envelhecimento (incluindo, portanto, a pré-menopausa e a menopausa “natural”) e não mais exclusivamente à menopausa cirúrgica; o segundo focalizou a dissociação entre o uso do Intrinsa e a terapia com estrógenos; o terceiro buscou vincular o medicamento ao aumento de “bem-estar”.

Palavras-chave
biomedicalização; indústria farmacêutica; sexualidade feminina; testosterona

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