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Os discursos literários, científicos e filosóficos em C. S. Peirce1 1 O artigo aqui apresentado é uma versão revisada e estendida de uma palestra proferida em 30 de junho de 2023 como contribuição para o colóquio internacional “Filosofia e Literatura” na Escola de Humanidades da Universidade de Nanchang, China. Algumas das ideias aqui desenvolvidas foram parcialmente antecipadas num artigo publicado na revista brasileira Intexto em 2016 com o título “Análise de discurso com Peirce: interpretar, raciocinar e o discurso como argumento” (Nöth, 2016a). Porém, os contextos e as linhas de argumentação desses dois artigos se distinguem significativamente pelos seus focos. O artigo anterior tinha o seu foco na metodologia da semiótica discursiva, enquanto o artigo que segue trata da relação entre os discursos filosóficos, científicos e literários.

Literary, scientific, and philosophical discourse in C. S. Peirce

Resumo

Para Charles S. Peirce (1839-1914), fundador do pragmatismo filosófico e da semiótica moderna, não há antagonismo entre os discursos literário e científico. Ambos os textos literário e científico são signos que propõem argumentos por meio de símbolos, índices e ícones. De modo similar, argumentos científicos e literários exercem uma agência semiótica autônoma e criam suas próprias realidades. O artigo apresenta Peirce como um cientista, bem como um leitor e crítico da literatura mundial e faz um resumo do trívio semiótico peirceano da gramática especulativa, lógica crítica e retórica especulativa e da sua aplicabilidade ao estudo do discurso literário.

Palavras-chave
literatura e filosofia; Charles S. Peirce; semiótica literária; gramática especulativa; lógica crítica; retórica especulativa; interpretação

Abstract

For Charles S. Peirce (1839-1914), the founder of philosophical pragmatism and modern semiotics, there was no antagonism between literary and scientific discourse. Both literary and scientific texts are signs that propose arguments by means of symbols, indices, and icons. Similarly, scientific and literary arguments exert an autonomous semiotic agency and create realities of their own. The paper presents Peirce as a scientist as well as a reader and critic of world literature and gives an outline of his semiotic trivium of speculative grammar, critical logic, and speculative rhetoric and its applicability to the study of literary discourse.

Keywords
literature and philosophy; Charles S. Peirce; Literary semiotics; speculative grammar; critical logic; speculative rhetoric; interpretation

Introdução: Charles S. Peirce e sua visão não dualista dos discursos científico e literário

O filósofo e fundador do pragmatismo Charles S. Peirce (1839-1914) era um polímata. Ele tinha não só interesse, mas também contribuiu produtivamente e em grande escala na pesquisa de campo das Ciências Humanas e Naturais. Em 1863, ele obteve o Bacharelado de Ciências em Química pela Harvard University e, até 1891, a sua carreira profissional voltava-se principalmente ao trabalho científico para a United States Coast and Geodetic Survey. A sua carreira acadêmica como um filósofo foi curta. Entre 1865 e 1866 e novamente em 1903, ele palestrou a respeito da lógica da ciência, pragmatismo e outros tópicos da lógica na Harvard University e no Lowell Institute, em Boston, além de professor assistente de lógica na Johns Hopkins University, em Baltimore, entre 1879 e 1884 (ver EP 1, p. ix).

Embora Peirce não tenha conseguido uma posição acadêmica permanente, ele obteve em vida reconhecimento nacional e internacional consideráveis como um filósofo e cientista. Em 1867, foi eleito à Academy of Arts and Sciences. Em 1877, representou os Estados Unidos na conferência da International Geodetic Association em Stuttgart, Alemanha. Em 1880, foi eleito para a London Mathematical Society e, um ano depois, membro da Association for the Advancement of Science.

Após 1914, seus artigos publicados e não publicados, que contabilizam em torno de 100.000 páginas, sofreram da negligência dos grandes filósofos. A novidade e a complexidade radicais do seu sistema filosófico não ajudou na disseminação entre os pesquisadores da próxima geração, para os quais sua obra era “fragmentária, enigmática e intrincada”, como Morris Cohen a descreve em 1923 (p. xx)COHEN, M. R. Introduction. In: Peirce, C. S. Chance, Love, and Logic: Philosophical Essays. Lincoln, NE: University of Nebraska Press, 1998 (1923), p. xix-xlv.. Até mesmo William JamesJAMES, W. A defense of pragmatism. Popular Science Monthly, New York, NY, v. 70, p. 193-206, 1907., o companheiro de juventude de Peirce em Harvard, seu amigo e apoiador de longa data, admitiu que ele não entendia integralmente Peirce, embora reconhecesse a sua genialidade, como quando, em 1903, ao palestrar a respeito do pragmatismo em Harvard, diz sobre os “relances de luz brilhante, libertas da escuridão ciméria” [flashes of light relieved against Cimmerian darkness], adicionando que “nenhum de nós, eu imagino, entende tudo o que ele dizia” (1907, p. 194). Levou décadas até Peirce tornar-se reconhecido como “um dos filósofos mais originais e versáteis dos Estados Unidos” (Fisch, 1986FISCH, M. Peirce, Semeiotic, and Pragmatism. Bloomington, IN: Indiana University Press, 1986., p. 1), como “uma das maiores figuras na história da Semiótica”, ou como “o fundador da teoria moderna dos signos” (Weiss; Burks, 1945WEISS, P.; BURKS, A. Peirce’s sixty-six signs. Journal of Philosophy, New York, NY, v. 42, p. 383-89, 1945., p. 383).

Apesar de Peirce ter realizado contribuições consideráveis às mais diversas ciências individualmente, da Lógica, Matemática, Cartografia, Psicologia, Metafísica, Ciências Cognitivas, ao Design das Máquinas Lógicas, a sua pesquisa possuía um esquema abrangente e único na sua semiótica ou semeiotica, tal como ele denominou o estudo geral dos signos. Em uma carta muito mencionada e enviada à Lady Welby em 23 de dezembro de 1908, ele declara que:

Nunca esteve em meus poderes estudar qualquer coisa, — matemática, ética, metafísica, gravitação, termodinâmica, ótica, química, anatomia comparada, astronomia, psicologia, fonética, economia, a história da ciência, Uíste, homens e mulheres, vinho, metrologia, exceto como um estudo de semiótica

(SS, p. 85. Tradução de Santaella, Nöth, 2017______. Introdução à semiótica: passo a passo para compreender os signos e a significação. São Paulo: Paulus, 2017.).

Para Peirce, a Semiótica foi uma metodologia de superação da “grande divisão cultural”, tal como cientista e romancista britânico C.P. Snow (1959)SNOW, C. P. 1959. The Two Cultures and the Scientific Revolution. Oxford: Oxford University Press. a batizou, entre as Ciências Naturais e as Humanidades, ou entre a ficção literária e o discurso científico. Se, tal como ele estava convencido, “todo o universo está permeado de signos, se é que ele não seja composto exclusivamente de signos (CP 5.448 fn., 1905. Tradução de Santaella, 2007______. Sinequismo e onipresença da semiose. Cognitio, São Paulo, v. 8, n. 1, p. 141-149, 2007.), o estudo da natureza e da cultura é necessariamente um estudo de signos.

Peirce como leitor e crítico da literatura mundial

A obra de Charles S. Peirce é rica em referências a personagens ficcionais ou históricas e a cenas da literatura mundial. Em seus escritos, encontram-se referências às biografias de figuras na história universal, tal como Alexandre, o Grande, Julius Caesar, Pompeo Magno (senador e general romano), Ptolomeu II Filadelfo (rei do Egito), Napoleão, George Washington, François-Dominique Toussaint L’Ouverture (principal líder da Revolução Haitiana), David Glasgow Farragut (almirante da Guerra Civil Americana), Theodore Roosevelt (26º presidente dos Estados Unidos) ou Vitória do Reino Unido (CP 8.178, 2.265, 5.285).

Peirce era um leitor apaixonado da literatura mundial, — drama, poesia, prosa, biografias e historiografias. Em uma carta de 9 de março de 1906 (não enviada) a Lady Welby, ele se descreve como “um leitor altamente treinado sem eloquência” (citado em W 8, p. 454). Os escritos de Peirce contêm referências a obras literárias, da Antiguidade — Homero, Sófocles, Sêneca, Horácio, Luciano de Samósata, Lucrécio ou Pérsio (Nöth; Linde, 2014______; Linde, G. A note on Peirce’s quotations of Persius’s half-line hoc loquor inde est. Transactions of The Charles S. Peirce Society, Bloomington, IN, v. 50, n. 2, p. 281-285, 2014.) — da Idade Média — Dante Alighieri, Geoffrey Chaucer, Marco Polo ou Jean Froissart — e dos clássicos literários. Shakespeare era o escritor favorito de Peirce, mas não faltam referências a Miguel de Cervantes, John Milton, François Rabelais, Jonathan Swift, Oliver Goldsmith, Molière, Voltaire, Honoré de Balzac, Émile Zola, Edward Gibbon, Sir Walter Scott, Carlyle, William Wordsworth, Charles Dickens, Edgar Allan Poe, Mark Twain, Ralph Waldo Emerson (cf. por ex. Nöth, 2014a______. Peirce’s guess at the Sphinx’s Riddle: The symbol as the mind’s eyebeam. In: THELLEFSEN, T.; SØRENSEN, B. (eds.) Charles S. Peirce in His Own Words: 100 Years of Semiotics, Communication and Cognition. Berlin: Mouton de Gruyter, 2014a, p. 194-200.), Sherlock Holmes ou As Mil e Uma Noites.

Evidências da familiaridade de Peirce com a história mundial da literatura encontra-se também na sua classificação dos poetas e romancistas da literatura mundial como a primeira das três classes das Grandes personagens da história (Great personages of history), nas listas que ele compôs entre 1884 e 1892. A última delas, publicada no volume 8 dos seus Writings, contém os nomes de 44 escritores, poetas, romancistas, ensaístas e dramaturgos. Em conformidade com o seu sistema das três categorias universais, Peirce classificou “poetas, escritores, romancistas e dramaturgos” como homens de sentimento, contrastando-os com os homens de ação e com os de pensamento (“Men for Feeling, Action, Thought”; W 5, p. 35-38).

Sem ao menos considerar-se como um escritor literário, Peirce também elaborou poesias e prosas literárias (cf. Brent, 1993BRENT, J. Charles Sanders Peirce. Bloomington, IN: Indiana University Press, 1993., p. 330). Em 1892 (e c.1897), sob o pseudônimo Karolos Kalerges, ele escreveu um conto semiautobiográfico com o título Embroidered Thessaly [Found among the papers of a recently deceased lawyer]. A narrativa está publicada no volume 8 dos seus Writings (W 8, p. 296-340). Sem dúvida, o texto de Peirce que mais chamou a atenção nos estudos literários foi um artigo, escrito em 1970, mas somente publicado em 1929, intitulado Guessing, que narra uma experiência autobiográfica, seguido de reflexões sobre os métodos investigativos de detetives. Umberto Eco e Thomas A. Sebeok tornaram famosa essa pequena obra com o seu livro The Sign of Three: Dupin, Holmes, Peirce, na qual eles apresentam a lógica abdutiva de Peirce como uma ferramenta para a análise de romances policiais (Eco; Sebeok, 1983ECO, U.; SEBEOK, T. A. (eds.). The Sign of Three: Dupin, Holmes, Peirce. Bloomington, IN: Indiana University Press, 1983.).

Afinidades entre ciência e literatura

Peirce não só rejeita o dualismo entre a filosofia e a literatura, mas também via afinidades entre os métodos dos cientistas e dos poetas em geral. Tais afinidades estavam entre os tópicos do artigo seminal “Uma conjectura ao enigma” (A Guess at the Riddle), de 1887/88 (W 6, p. 166-210; EP 1, p. 245-79). O enigma a ser adivinhado combina um mito literário com um problema filosófico. A questão é feita pela esfinge grega de Tebas (W 6, p. 438-439) e trata-se de um problema com o qual os primeiros filósofos gregos preocupavam-se: “O mundo é feito do quê?” O tópico das afinidades entre a poesia e a ciência só é abordado de passagem nesse artigo, mas o contexto poético-filosófico no qual essa questão está situada é significativo. Peirce argumenta que:

A obra de arte do poeta ou romancista não é tão absolutamente distinta da obra do cientista. O artista introduz uma ficção. Porém, ela não é arbitrária, mas exibe afinidades as quais a mente aprova, quando as julga belas, o que não é exatamente a mesma coisa como dizer que a síntese é verdadeira ou algo deste tipo geral. O agrimensor desenha um diagrama, o que, se não é exatamente ficção é ao menos uma criação, e por meio de observação desse diagrama, é capaz de sintetizar e mostrar relações entre os elementos, que antes pareciam sem conexões necessárias. As realidades nos obrigam a colocar algumas coisas numa relação muito estreita e outras menos assim, numa maneira altamente complicada e de certa maneira ininteligível

(EP 1, p. 261-262; CP 1.383, 1877-78).

Três afinidades entre a ciência e a poesia destacam-se nesse confronto denso da poesia com a ciência.

Primeiro, poetas e cientistas são objetos de estudo para a primeira e a última das três Ciências Normativas peirceanas, que são a Estética, a Ética e a Semiótica. Uma ciência normativa, segundo Peirce, preocupa-se com questões que contam com a nossa “aprovação”. “A Estética considera aquelas coisas cujos fins são os de encarnar qualidades de sentimento, a ética, aquelas coisas cujos fins residem na ação e a lógica, aquelas coisas cujo fim é representar algo” (CP 5.129, 1903). Ao passo que os artistas lutam pela aprovação da beleza e da admiração de sua obra, os cientistas, tais como os agrimensores, objetivam a aprovação da veracidade de suas mensurações e das conclusões lógicas que derivam delas. O que distingue poetas e romancistas dos cientistas e filósofos é que os primeiros são homens de sentimento, enquanto os últimos são homens do pensamento, tal como Peirce classifica-os em sua lista Men of Feeling, Action, and Thought, de 1884 (W 5, p. 35-37), mas ambas as classes de homens e mulheres se preocupam com as normas.

Segundo, o que o agrimensor também possui em comum com o poeta é que ambos são criadores de representações icônicas, sejam os seus discursos ficcionais ou determinados pela precisão em relação aos fatos externos. Enquanto os ícones utilizados pelos poetas são principalmente imagens e metáforas, os agrimensores, assim como outros cientistas, operam com ícones diagramáticos por meio dos quais eles revelam relações entre os seus objetos de estudo.

Terceiro, ambos, agrimensores e escritores de ficção literária, são compelidos “a colocar algumas coisas em relação muito estreita e outras menos”. É mais evidente que agrimensores são “compelidos” a fazê-lo, visto que os dados, por cuja precisão eles lutam, lhes são impostos pelos fatos topológicos de seu território, mas exige-se maiores explicações para que poetas e escritores de ficção devam também ser “compelidos” de maneira similar.

Dois elementos do sistema filosófico de Peirce podem também ajudar a entender em que sentido os escritores de ficção, assim como os agrimensores, restritos pelos dados do seu território, podem também ser “compelidos” pelos fatos do seu próprio universo ficcional, (1) o conceito peirceano expandido de realidade e (2) o seu conceito de um universo ficcional.

Realidade, para Peirce, não é somente a realidade dos fatos externos, das coisas que existem independentemente daquilo que possamos pensar a respeito delas. Peirce distingue três tipos de realidade, das quais a realidade do existente externamente é somente a segunda (cf. Nöth, 2016b______. Semiotic reconstructions of reality: Reflections on John Deely’s Purely Objective Reality. Chinese Semiotic Studies, Berlin, v. 12, n. 3, p. 437-443, 2016b.), a realidade das possibilidades e a realidade dos hábitos, das leis e das regras são as outras duas realidades. Possibilidades e leis são reais, porque elas exercem uma influência real em nossas vidas e as quais, de certo modo, não podemos ignorar. A realidade das leis e das regras exerce a sua influência sobre ambos, cientistas e romancistas, na medida em que eles não podem ignorar as regras que a sua língua impõe sobre eles, a menos que eles queiram tornar-se enigmáticos e inteligíveis. A possibilidade e a impossibilidade impõem, do mesmo modo, restrições sobre ambos, poetas e cientistas. Se é provável que motoristas, em um estado de embriaguez, causarão um acidente, eles não devem dirigir. A mera possibilidade possui um efeito real sobre a vida diária dos cidadãos. A possibilidade altera a realidade.

É essa concepção expandida de realidade que faz Peirce enxergar afinidades entre os discursos poético e científico (cf. Nöth, 2016a______. Análise de discurso com Peirce: interpretar, raciocinar e o discurso como argumento. Intexto, Porto Alegre, v. 37, p. 34-46, 2016a.). Romancistas, cientistas e filósofos atuam segundo a tendência de diferentes modos de realidade. As realidades da poesia e da ficção pertencem ao primeiro domínio de realidade, que é a realidade do possível. A realidade com a qual os cientistas são confrontados é a do segundo, a da realidade dos fatos empíricos. E a realidade com a qual o filósofo é confrontado, a realidade das leis do pensamento, é do terceiro tipo. Cada uma dessas três realidades obriga os escritores de sua categoria a detectar “rastros de significação” no domínio da sua realidade, tal como afirma Peirce, e transforma esses rastros em “formas inteligíveis”.

O universo ficcional tem uma realidade própria. Uma vez criado, o universo ficcional volta-se contra os seus autores e intérpretes e diz-lhes que eles não podem manipulá-los ad libitum. O universo criado pelo romancista impõe restrições próprias sobre a imaginação e o potencial criativo do autor. A fim de tornarem-se inteligíveis e obedecerem às leis da verossimilhança, os autores tornam-se cada vez mais “compelidos” pelas realidades do universo ficcional que eles previamente criaram. Tais restrições agem sobre as suas mentes criativas, assim como as restrições impostas pelo território sobre as mentes dos cartógrafos e sobre os mapas que eles desenham. O efeito sobre a mente do autor é, na verdade, uma agência que deve ser atribuída ao próprio discurso literário, que, de certo modo, utiliza o autor como a sua ferramenta.

Concluímos esse capítulo com duas reflexões de Peirce a respeito de como signos que usualmente consideramos irreais, no entanto, criam uma realidade própria. A primeira ilustra a realidade externa criada por um sonho. Um sonho é uma experiência real, cuja realidade não podemos negar:

Uma ficção é um produto da imaginação de alguém; ela possui características tais quais o seu pensamento imprime sobre ela. O fato que essas características são independentes de como você ou eu penso, é uma realidade externa. No entanto, há fenômenos dentro das nossas próprias mentes, dependentes do nosso pensamento, que são simultaneamente reais, no sentido de que nós realmente pensamos neles. Mas, apesar das suas características dependerem de como nós pensamos, elas não dependem do que pensamos que essas características sejam. Assim, um sonho possui uma existência real como um fenômeno mental, se alguém realmente o sonhou. [...] Assim, podemos definir o real como aquilo cujas características são independentes do que quer que qualquer pessoa pense o que são

(CP 5.405, 1877).

O segundo comentário lida com a realidade da ficção, que Peirce ilustra com um exemplo a partir do universo ficcional criado por Xerazade, a narradora ficcional de As Mil e Uma Noites. Peirce escreve:

É verdade que, quando o romancista árabe nos conta que havia uma senhora chamada Xerazade, ele não sugere que deve ser entendido como se falasse do mundo das realidades externas e que há uma grande dose de ficção naquilo que ele fala. Pois o ficcional é aquilo cujas características dependem de quais características alguém lhe atribui; e a história é, obviamente, a mera criação do pensamento do poeta. Não obstante, uma vez que ele imaginou Xerazade e a fez jovem, bonita e dotada de um dom para contar histórias, torna-se um fato real de como ele a imaginou, cujo fato ele não pode destruir ao fingir ou pensar que a imaginou de outra maneira

(CP 5.152, 1903).

O novo trívio semiótico

A abordagem peirceana ao estudo de textos literários encontra-se na sua bem conhecida teoria geral dos signos, na sua teoria semiótica da interpretação (do interpretante) e na sua concepção de um novo trívio semiótico, com as três disciplinas gramática especulativa, lógica crítica e retórica universal ou também especulativa detalhado no meu artigo “Análise de discurso com Peirce: interpretar, raciocinar e o discurso como argumento” (Nöth, 2016a; cf. Bergman, 2004BERGMAN, M. Fields of Signification: Explorations in Charles S. Peirce’s Theory of Signs. Vantaa: Dark Oy, 2004.; Santaella, 2001______. Matrizes da linguagem e pensamento. São Paulo: Iluminuras, 2001.). Emprestado da gramática especulativa do escolástico Tomás de Erfurt (Kloesel, 1981KLOESEL, C. J. W. Speculative grammar: From Duns Scotus to Charles Peirce. In: C. S. Peirce Bicentennial International Congress. Proceedings…, KETNER, Kenneth L. et al. (eds.), Lubbock, TX: Texas Tech Press, 1981, p. 127-133.), o adjetivo “especulativo”, neste contexto, é um sinônimo de “teórico” (EP 2, p. 328, 1904). As três disciplinas da nova semiótica de Peirce inspirada pelo fundamento semiótico dos escolásticos antecipam a subdivisão da semiótica pelos três ramos da sintaxe, semântica e pragmática popularizada por Charles Morris (1938)MORRIS, C. W. Foundations of the Theory of Signs. Chicago, IL: Chicago University Press, 1938. – Port. Fundamentos da teoria dos signos. Rio de Janeiro: Eldorado Tijuca, 1976., que se tornou igualmente fundamental para a linguística contemporânea (Nöth, 2011______. Semiotic foundations of pragmatics. In: BUBLITZ, W.; NORRICK, N. R. (eds.). Foundations of Pragmatics. Berlin: de Gruyter Mouton, 2011, p. 167-202.).

O sonho de Peirce de coroar o seu projeto semiótico, anteriormente restrito à gramática especulativa, com uma lógica crítica e uma retórica especulativa ecoa o sonho de Leibniz de um cálculo do raciocínio (calculus rationalis), o projeto de um calculador para avaliar a combinação racional das ideias e até de uma arte criativa de gerar textos e argumentos, uma ars inveniendi (Nöth, 1990NÖTH, W. Handbook of Semiotics. Bloomington, IN: Indiana University Press., p. 274), que nunca se concretizou, por enquanto a não ser se o ChatGPT esteja no caminho da sua realização (cf. Santaella, 2023______. Há como deter a invasão do ChatGPT? Barueri: Estação das Letras e Cores, 2023.).

A interpretação

O trívio semiótico peirceano oferece ferramentas valiosas para o estudo de textos literários (Santaella, 2001______. Matrizes da linguagem e pensamento. São Paulo: Iluminuras, 2001., 2021______. A assinatura das coisas: Peirce e a literatura, 2ª ed. São Paulo: Editora Livraria da Física, 2021.). O termo chave é o do interpretante, que não é o intérprete, mas o efeito de um signo sobre uma mente que interpreta um signo (CP 8.148, 1901). O interpretante de um signo pode ser um sentimento, uma ação ou um raciocínio. Na literatura, o primeiro efeito corresponde à função poética dos textos literários de Roman Jakobson (1973)JAKOBSON, R. Linguística e comunicação. São Paulo: Cultrix, 1973., mas já a teoria da catarse de Aristóteles, que postula uma purificação da alma como efeito literário de uma tragédia se situa no domínio da primeiridade de Peirce.

O segundo efeito é menos predominante na literatura mundial. Ele era o programa da literatura Agitprop (literatura como ‘agitação e propaganda’) das primeiras décadas da União Soviética (Kenez, 1985KENEZ, P. The Birth of the Propaganda State, Cambridge: Cambridge University Press, 1985.) e tem sucessores em diversas tendências da literatura, que visam à ação para alcançar reformas políticas e sociais.

Na literatura raciocinativa predomina a reflexão da filosofia vivida. Para ela é relevante o seguinte: “Por raciocínio [...] queremos dizer ‘qualquer processo segundo o qual o conhecimento já possuído por uma mente é levado a um conhecimento maior’, [...] reconhecemos que qualquer interpretação de um signo é um raciocínio” (MS 667, 1910). Um dos textos nos quais Peirce trata do papel do raciocínio na literatura é seu ensaio Reason’s rules [‘Regras da razão’], de 1902 (cf. Nöth, 2016a______. Análise de discurso com Peirce: interpretar, raciocinar e o discurso como argumento. Intexto, Porto Alegre, v. 37, p. 34-46, 2016a.):

Raciocínio, segundo nossos autores mais antigos, como Shakespeare, Milton etc. é chamado “discurso da razão” ou simplesmente “discurso”. A expressão não é ainda obsoleta no dialeto dos filósofos. Mas “discurso” também significa conversa, especialmente conversa monopolizada. Que essas duas coisas, raciocínio e conversa terem sido chamadas pelo mesmo nome em inglês, francês, italiano e espanhol, um nome que, no latim clássico, significa simplesmente estar ocupado, é um dos desenvolvimentos curiosos do discurso; mas não existem muitas línguas, se é que há alguma na face do planeta, – julgando por uma amostra toleravelmente ampla – que não reconheçam que o raciocínio é um tipo de conversa consigo mesmo

(Peirce, 1902, p. 2; cf. Gorlée, 1998GORLÉE, D. Hacia una semiótica textual Peirciana 2. Signa: Revista de la Asociación Española de Semiótica, Madrid, v. 7, p. 185-201, 1998.).

Peirce distingue entre as interpretações raciocinativas e argumentativas. A interpretação raciocinativa está inicialmente aberta no que diz respeito à sua significação. A solução ao problema tematizada no texto está ainda em busca. A interpretação argumentativa, por outro lado, é guiada pela estratégia de um argumentador de influenciar os seus destinatários em suas crenças. Com essa definição do discurso argumentativo, Peirce antecipa a teoria da manipulação da semiótica narrativa de Greimas e Courtés (1983, p. 269-271)GREIMAS, A. J.; COURTÉS, Joseph. Dicionário de semiótica. Tradução Alceu Dias Lima et al. São Paulo: Cultrix, 1983. sem implicar as conotações polêmicas inerentes à palavra manipulação da semiótica greimasiana:

Não podemos dizer que o raciocínio é um argumento dirigido a si mesmo. Pois um argumento é uma comunicação pela qual o argumentador esforça-se para produzir uma crença predeterminada na mente a quem ele se dirige. Ao raciocinar, por outro lado, nós buscamos a verdade, qualquer que ela seja, sem saber de antemão que ela é a verdade. Duas pessoas que conversam podem cooperar nesta tarefa. É uma operação na qual os argumentos que podem ser propostos, de um lado e do outro, são buscados por fatos “em excesso” que parecem como se eles pudessem ser pertinentes e agrupando-os de diversas maneiras. Os argumentos possíveis, uma vez sugeridos, são submetidos à crítica. Cada um é julgado como sendo muito forte, moderadamente forte, fraco ou totalmente inútil. Destarte, uma opinião é escolhida e adotada com um certo grau de confiança consciente. Com base nisso, nós devemos estar preparados para moldar as nossas ações, seja ousada ou cautelosamente

(Peirce, 1902; MS 597, p. 2-3).

A obra literária como argumento

A definição peirceana de um signo não se restringe somente aos signos verbais. “Poemas, ensaios, contos, romances, discursos, peças, óperas, artigos de jornal, relatórios científicos e demonstrações matemáticas” são exemplos daquilo que Peirce considera como um signo (Fisch, 1986FISCH, M. Peirce, Semeiotic, and Pragmatism. Bloomington, IN: Indiana University Press, 1986., p. 357). “Todas as palavras, os livros e outros signos convencionais são símbolos” (CP 2.292) postula Peirce em 1902, e em 1907 os seus exemplos de um signo são “bibliotecas, a literatura, a língua ou qualquer outra coisa composta por palavras” (MS 318, 1907). Não só qualquer ser humano, homem ou mulher, é um signo, “pois, assim como o fato de que todo pensamento é um signo, tido em conjunto com o fato de que a vida é uma linha de pensamento, prova que o homem é um signo; portanto, que todo pensamento é um signo externo, prova que o homem é um signo externo” (CP 5.314, 1868). Todo o universo é um signo, “um grande símbolo do propósito de Deus, concretizando suas conclusões em realidades vivas” (CP 5.119, 1903).

Se um discurso é um signo, surge a questão a qual classe sígnica ele pertence. Das dez classes principais de signo que Peirce distingue só pode ser a última, quer dizer o argumento, que é símbolo ao mesmo tempo (cf. Nöth, 2016a______. Análise de discurso com Peirce: interpretar, raciocinar e o discurso como argumento. Intexto, Porto Alegre, v. 37, p. 34-46, 2016a.). Mas, de que modo, um discurso é um argumento? Um texto não é um argumento no sentido de um discurso argumentativo, em contraste com um discurso raciocinativo. Até 1905, a concepção de argumento de Peirce era ainda a do modelo da lógica crítica. Em 1899, por exemplo, Peirce definiu o argumento como um signo que “professa nos esclarecer quanto às conexões racionais dos fatos e dos fatos possíveis” (MS 142, p. 6). Em 1904, o argumento é um signo que “determina logicamente um interpretante particular” (MS 939, p. 48-49, 1904; Bergman; Paavola, 2014______. 2009. Peirce’s Philosophy of Communication: The Rhetorical Underpinnings of the Theory of Signs. London: Continuum.). No entanto, a partir de 1906, Peirce adota a perspectiva da retórica especulativa, na qual as definições focam no efeito de um argumento sobre os intérpretes. A mais sucinta dessa série de definições é a de 1908, quando Peirce simplesmente define um argumento como “qualquer processo do pensamento que tende razoavelmente a produzir uma crença definitiva” (CP 6.456).

Dois anos antes, em seus Prolegomena to an Apology for Pragmaticism [Prolegômenos a uma apologia do pragmaticismo], Peirce pensou em substituir o conceito de argumento por uma palavra emprestada do grego, déloma. Nesse artigo, a definição concentra-se igualmente no efeito do argumento sobre os seus intérpretes: um déloma é um “signo que possui a Forma de tender a agir sobre o intérprete por meio de seu próprio autocontrole, representando um processo de mudança em pensamentos ou signos, como se quisesse induzir essa mudança no intérprete” (CP 4.538, 1906).

Peirce restringe a sua explicação da palavra neoclássica delome (na sua forma inglesa), à observação de que a pronúncia dessa palavra em inglês seria “deeloam” e que advém do grego dḗlōma (δήλωμα) (CP 4.538, 1906). Nem Peirce e até 2016 (Nöth, 2016a______. Análise de discurso com Peirce: interpretar, raciocinar e o discurso como argumento. Intexto, Porto Alegre, v. 37, p. 34-46, 2016a.), nem os seus comentadores explicaram o sentido etimológico desse termo. De acordo com o dicionário de grego clássico de Liddell e Scott, de 1901LIDDELL, H. G.; SCOTT, R. A Greek English Lexicon. 8 ed. New York, NY: American Book Company, 1901., o próprio Peirce deve ter utilizado ao criar o termo, a palavra significa “um meio de tornar conhecido” (1901, p. 338). Com esta escolha terminológica, Peirce conecta o conceito de argumento com a sua teoria da informação (Nöth, 2012______. Charles S. Peirce’s theory of information: A theory of the growth of symbols and of knowledge. Cybernetics & Human Knowing, Exeter, v. 19, n. 1-2, p. 172-192, 2012.), segundo a qual os signos são informativos quando trazem à tona novos conhecimentos. Na medida em que a obra literária é um deloma, ela é um signo que transmite conhecimento.

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    O artigo aqui apresentado é uma versão revisada e estendida de uma palestra proferida em 30 de junho de 2023 como contribuição para o colóquio internacional “Filosofia e Literatura” na Escola de Humanidades da Universidade de Nanchang, China. Algumas das ideias aqui desenvolvidas foram parcialmente antecipadas num artigo publicado na revista brasileira Intexto em 2016 com o título “Análise de discurso com Peirce: interpretar, raciocinar e o discurso como argumento” (Nöth, 2016a______. Análise de discurso com Peirce: interpretar, raciocinar e o discurso como argumento. Intexto, Porto Alegre, v. 37, p. 34-46, 2016a.). Porém, os contextos e as linhas de argumentação desses dois artigos se distinguem significativamente pelos seus focos. O artigo anterior tinha o seu foco na metodologia da semiótica discursiva, enquanto o artigo que segue trata da relação entre os discursos filosóficos, científicos e literários.
  • (Tradução autorizada do inglês: Victor Sancassani)

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Nov 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    29 Set 2023
  • Aceito
    01 Nov 2023
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