Resumo
A tarefa “impossível” que parte da literatura brasileira mais recente tem atribuído a si mesma pode ser resumida na vontade de testemunhar, através da escrita, as feridas e as marcas sangrentas que a ditadura militar deixou atrás de si e que o novo regime autoritário tenta novamente apagar, repetindo o gesto de rasura do passado aviado pela Lei da Anistia. Nesse contexto de “exceção”, no qual o poder instituído tenta impor uma nova (e, todavia, já tragicamente experimentada) ordem discursiva, a literatura desenvolve um papel fundamental, colocando-se numa posição periférica, num espaço-tempo ainda “excepcional” que lhe permite dar voz e corpo às vítimas. Para exemplificar essa tentativa de recuperação da memória pessoal e coletiva, este artigo analisa as obras de Bernardo Kucinski, detendo-se, em particular, em Os visitantes.
Palavras-chave:
Bernardo Kucinski; K.: relato de uma busca; Os visitantes; pós-verdade