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Análise comparativa dos efeitos de duas intervenções de fisioterapia respiratória em pacientes com bronquiolite durante o período de internação hospitalar

Resumos

Objetivo

Avaliar e comparar os efeitos de duas intervenções fisioterapêuticas em pacientes com bronquiolite aguda durante internação hospitalar.

Métodos

Estudo prospectivo e randomizado, com amostra de 83 atendimentos de 29 pacientes com idade entre 3 meses e 1 ano internados por bronquiolite aguda. Os pacientes foram randomizados em dois grupos: Grupo 1, submetido à drenagem postural, tapotagem e aspiração nasotraqueal; e Grupo 2, submetido à drenagem postural, aceleração do fluxo expiratório e aspiração nasotraqueal. Foram realizadas avaliações antes e 10 e 60 minutos após o término da fisioterapia. Os pacientes também foram submetidos a tratamento medicamentoso. O objetivo foi comparar duas intervenções fisioterapêuticas quanto à melhora clínica de lactentes com bronquiolite aguda por meio da saturação periférica de oxigênio e do escore Respiratory Distress Assessment Instrument. Um questionário sobre o tratamento ministrado foi aplicado ao responsável, antes da última avaliação, para mensurar a satisfação dos mesmos em relação às intervenções.

Resultados

Os grupos foram similares em relação ao uso de antibiótico e broncodilatador. Observamos um número maior de pacientes que utilizaram corticoide no Grupo 2. Observou-se melhora significante no escoreRespiratory Distress Assessment Instrument com o tratamento fisioterapêutico, com redução do mesmo, 10 minutos após as intervenções e manutenção dos valores 60 minutos após, sem diferenças entre as técnicas empregadas. Não houve variação significativa da oximetria de pulso após o atendimento fisioterapêutico. A maioria dos itens avaliados pelo questionário teve respostas satisfatórias.

Conclusão

Não foram observadas diferenças entre os grupos em relação aos itens avaliados (tempo necessário para o paciente atingir alta do estudo, oximetria de pulso em ar ambiente e gravidade da doença pelo escoreRespiratory Distress Assessment Instrument). O questionário teve respostas favoráveis dos pais sobre efeitos da fisioterapia na maioria dos itens, tanto para a técnica aceleração do fluxo expiratório quanto para a tapotagem.

Bronquiolite/reabilitação; Modalidades de fisioterapia; Criança hospitalizada


Objective

To evaluate and compare the effects of two chest physiotherapy interventions in patients hospitalized due to acute bronchiolitis.

Methods

Prospective randomized study with a sample of 83 calls for 29 patients aged between 3 months and 1 year hospitalized for acute bronchiolitis. Patients were distributed randomly into two groups: Group 1, submitted to postural drainage, tapping and tracheal aspiration; and Group 2, submitted to postural drainage, expiratory acceleration flow and tracheal aspiration. Assessments were made before and 10 and 60 minutes after the end of therapy. Patients also underwent drug treatment. The endpoint was to compare two physical therapy interventions as to clinical improvement in infants with acute bronchiolitis by means of oxygen saturation and the Respiratory Distress Assessment Instrument score. The parents/guardians was requested to answer a questionnaire about the treatment applied before the last evaluation in order to measure their satisfaction related to the interventions made.

Results

The groups were similar regarding the use of antibiotics and bronchodilators. A greater number of patients used corticosteroids in Group 2. A relevant improvement was observed on Respiratory Distress Assessment Instrument score with physical therapy, with reduction of the score 10 minutes after interventions, and the same score 60 minutes later, with no differences between techniques applied. There was no significant variation of pulse oximetry after chest physiotherapy. Most items assessed by the questionnaire had satisfactory answers.

Conclusion

No differences were observed between groups regarding the items assessed (time required to discharge from study, pulse oximetry in room air and disease severity according to the Respiratory Distress Assessment Instrument score). Parents answered positively about the effects of therapy in the majority of items in the questionnaire, both for the expiratory acceleration flow technique and for tapping.

Bronchiolitis/rehabilitation; Physical therapy modalities; Child; hospitalized


INTRODUÇÃO

A bronquiolite aguda é considerada uma das doenças respiratórias mais comuns no primeiro ano de vida. O vírus sincicial respiratório (VSR) é o principal agente etiológico, contudo outros vírus, como parainfluenza, adenovírus, influenza A e B, também podem ocasionar bronquiolite.(1Carvalho WB, Johnston C, Fonseca MC. Bronquiolite aguda, uma revisão atualizada. Rev Assoc Med Bras. 2007;53(2):182-8.,2D’Elia C, Barbosa MC. [Approach in acute respiratory tract disfunction]. J Pediatr (Rio J). 1999;75(Suppl 2):S168-76. Portuguese.) Esses patógenos agem nas células epiteliais ciliadas, ocasionando inflamação pela produção de mediadores inflamatórios.(1Carvalho WB, Johnston C, Fonseca MC. Bronquiolite aguda, uma revisão atualizada. Rev Assoc Med Bras. 2007;53(2):182-8.,3D´Elia C, Siqueira MM, Portes SA, Sant’Anna CC. [Respiratory syncytial virus -- associated lower respiratory tract infections in hospitalized infants]. Rev Soc Bras Med Trop. 2005;38(1):7-10. Portuguese.) As manifestações clínicas são coriza, febre, tosse, dificuldade respiratória e chiado.(4Albernaz EP, Menezes AM, César JA, Victora CG, Barros FC. [Hospitalization for bronchiolits: a risk factor for recurrent wheezing]. Cad Saude Publica. 2000;16(4):1049-57. Portuguese.) Os achados radiográficos de tórax são caracterizados por hiperinsuflação, infiltrados grosseiros, atelectasias e preenchimento peribrônquico.(1Carvalho WB, Johnston C, Fonseca MC. Bronquiolite aguda, uma revisão atualizada. Rev Assoc Med Bras. 2007;53(2):182-8.)

O tratamento da bronquiolite é bastante controverso e inclui hidratação, oxigenação, fisioterapia respiratória e medicamentos, como broncodilatadores, adrenalina, mucolíticos e corticoide inalatório.(1Carvalho WB, Johnston C, Fonseca MC. Bronquiolite aguda, uma revisão atualizada. Rev Assoc Med Bras. 2007;53(2):182-8.,5Fischer GB. Bronquiolite viral aguda. In: Rozov T, editor. Doenças pulmonares em Pediatria: diagnóstico e tratamento. 2a ed. São Paulo: Atheneu; 1999. p. 193-7.,6Nascimento JB. Fisioterapia na bronquiolite viral aguda. In: Sarmento GJ, editor. Fisioterapia respiratória no paciente crítico: rotinas clínicas. São Paulo: Manole; 2005. p. 413-6.) É indicado oxigênio suplementar em pacientes com saturação periférica de oxigênio (SpO2) <92%.(1Carvalho WB, Johnston C, Fonseca MC. Bronquiolite aguda, uma revisão atualizada. Rev Assoc Med Bras. 2007;53(2):182-8.) A fisioterapia respiratória tem sido utilizada com os objetivos de desobstrução brônquica, desinsuflação pulmonar e recrutamento alveolar, por meio de diversas técnicas, como drenagem postural, aceleração do fluxo expiratório (AFE), vibrocompressão, tapotagem e aspiração das vias aéreas.(7Balachandran A, Shivbalan S, Thangavelu S. Chest physiotherapy in pediatric practice. Indian Pediatr. 2005;42(6):559-68.,8Perrotta C, Ortiz Z, Roqué M. Chest physiotherapy for acute bronchiolitis in paediatric patients between 0 and 24 months old. Cochrane Database Syst Rev. 2007;24;(1):CD004873. Review. Update in: Cochrane Database Syst Rev. 2012;2:CD004873.)

A drenagem postural consiste no posicionamento do paciente, favorecendo a aplicação de forças gravitacionais, que aumentam o transporte de muco de lobos e segmentos específicos do pulmão, em direção às vias aéreas centrais.(9Lamari NM, Martins AL, Oliveira JV, Marino LC, Valério N. Bronchiectasis and clearence physiotherapy: emphasis in postural drainage and percussion. Braz J Cardiovasc Surg. 2006;21(2):206-10.) A tapotagem tem como objetivo mobilizar e remover a secreção pulmonar, facilitando sua condução das regiões periféricas para as centrais, e promovendo sua eliminação, melhorando a função pulmonar.(1010 Liebano RE, Hassen AM, Racy HH, Corrêa JB. [Main manual kinesiotherapeutic maneuvers used in the respiratory physiotherapy: description of techniques]. Rev Cienc Med. 2009;18(1):35-45. Portuguese.) A aspiração nasotraqueal é considerada uma técnica efetiva para a desobstrução traqueobrônquica de crianças com bronquiolite, levando-se em consideração que aproximadamente 60% da resistência respiratória está localizada nas vias aéreas superiores. A técnica de aspiração deve ser um procedimento estéril para remoção de secreção por meio de um sistema a vácuo.(1Carvalho WB, Johnston C, Fonseca MC. Bronquiolite aguda, uma revisão atualizada. Rev Assoc Med Bras. 2007;53(2):182-8.)

Algumas técnicas de fisioterapia utilizadas na faixa etária pediátrica foram uma adaptação dos métodos utilizados em pacientes adultos, como tapotagem, vibrocompressão e drenagem postural. No decorrer dos anos, surgiram técnicas específicas para cada faixa etária, destacando-se, entre elas, a AFE, que consiste na AFE por meio de um estímulo passivo na região torácica do paciente, com prolongamento do tempo expiratório. A pressão de aceleração dada pela mão do fisioterapeuta deve ser simétrica. O início da pressão expiratória se dá assim que o paciente inicia a expiração. A aceleração deve ser feita a uma velocidade superior à da expiração normal e próxima à da tosse. As mãos do fisioterapeuta se posicionam uma no tórax (mão da pressão expiratória) e a outra nas costelas inferiores, minimizando o aumento da pressão abdominal.(1010 Liebano RE, Hassen AM, Racy HH, Corrêa JB. [Main manual kinesiotherapeutic maneuvers used in the respiratory physiotherapy: description of techniques]. Rev Cienc Med. 2009;18(1):35-45. Portuguese.)

A escolha de uma determinada manobra fisioterapêutica depende, muitas vezes, da preferência do profissional, do tipo de formação e dos protocolos de cada serviço.(1010 Liebano RE, Hassen AM, Racy HH, Corrêa JB. [Main manual kinesiotherapeutic maneuvers used in the respiratory physiotherapy: description of techniques]. Rev Cienc Med. 2009;18(1):35-45. Portuguese.,1111 Mucciollo MH, Simionato NA, de Paula LC, Feola AI, Monteiro VC, Ceccon ME. [Respiratory physiotherapy in children with acute viral bronchiolitis: critical view]. Pediatria (São Paulo). 2008;30(4):257-64. Portuguese.) É necessária a realização de mais estudos que avaliem a efetividade de diferentes técnicas de fisioterapia respiratória em pacientes com bronquiolite aguda.

OBJETIVO

Avaliar e comparar os efeitos de duas intervenções fisioterapêuticas após 10 e 60 minutos da terapia em pacientes com bronquiolite aguda durante a internação hospitalar; comparar o tempo necessário para o paciente atingir alta do estudo por meio da avaliação da oximetria de pulso em ar ambiente (AA) e gravidade da doença pelo escore Respiratory Distress Assessment Instrument(RDAI) entre os dois grupos; avaliar a aceitação dos pais em relação às intervenções fisioterapêuticas.

MÉTODOS

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein, sob o número de aprovação 10/1352.

Estudo prospectivo e randomizado, no qual foram avaliados 83 atendimentos de 29 pacientes com bronquiolite aguda internados na unidade de terapia intensiva (UTI) e ala pediátrica do Hospital Israelita Albert Einstein, no período de julho de 2010 a dezembro de 2011.

Foram incluídas no estudo crianças com idade de três meses a um ano com diagnóstico clínico de bronquiolite aguda, após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelos pais ou responsáveis. Não foram incluídas crianças com cardiopatia congênita não corrigida, neuropatia, doença pulmonar de base, necessidade de suporte ventilatório, escore clínico de desconforto respiratório RDAI ≤4 associado à SpO2≥92% em AA e não concordância dos responsáveis em participar da pesquisa. Apenas quatro pacientes não foram incluídos no estudo, devido à recusa dos pais por não aceitarem a manobra de AFE.

Neste estudo, os pacientes foram randomizados em dois grupos: Grupo 1, submetido à drenagem postural associada à tapotagem e à aspiração nasotraqueal; e Grupo 2, submetido à drenagem postural associada à AFE e à aspiração nasotraqueal. No Grupo 1, foram incluídos 16 pacientes, totalizando 48 atendimentos e, no Grupo 2, 13 pacientes, totalizando 35 atendimentos. Essas intervenções foram realizadas em todos os atendimentos, até a alta do estudo ou alta hospitalar.

As crianças elegíveis ao estudo foram avaliadas diariamente, no primeiro atendimento fisioterapêutico do dia, em três diferentes momentos (antes, 10 minutos e 60 minutos após a intervenção fisioterapêutica), pelo mesmo profissional. Todas as fisioterapeutas do Departamento Materno-Infantil foram treinadas para a realização do estudo.

Consideramos que o paciente estava apto a receber alta do estudo, ou seja, finalização da coleta de dados, quando apresentasse menor gravidade da doença (escore RDAI≤4), associada à oxigenação adequada em AA (SpO2≥92%).

Antes da última intervenção fisioterapêutica foi entregue aos pais ou responsável um questionário composto por 14 questões, para mensurar a satisfação dos mesmos em relação às intervenções fisioterapêuticas realizadas. Os pais ou responsáveis foram orientados quanto ao tratamento e estiveram presente em todos os atendimentos, observando a evolução clínica da criança.

O objetivo foi comparar duas intervenções fisioterapêuticas quanto a melhora clínica de lactentes com bronquiolite aguda, por meio da SpO2 e do escore RDAI.

O escore RDAI avalia a gravidade da doença analisando variáveis clínicas, com pontuação de 1 a 17, de acordo com a localização e a intensidade de retrações e sibilos. Esse escore foi considerado leve quando o valor era ≤4.(1212 Lowell DI, Lister G, Von Koss H, McCarthy P. Wheezing in infants: the response to epinephrine. Pediatrics. 1987;79(6):939-45.,1313 Plint AC, Johnson DW, Patel H, Wiebe N, Correll R, Brant R, Mitton C, Gouin S, Bhatt M, Joubert G, Black KJ, Turner T, Whitehouse S, Klassen TP; Pediatric Emergency Research Canada (PERC). Epinephrine and dexamethasone in children with bronchiolitis. N Engl J Med. 2009;360(1):2079-89.) A oximetria de pulso em AA foi verificada por meio de oxímetro de pulso da marca Nellcor®, modelo OxiMax® N560, estando o paciente sem oxigênio suplementar por um período entre 5 e 10 minutos. Pacientes com valores de oximetria de pulso abaixo de 90% retomavam o uso do oxigênio de imediato, e os valores de oximetria de pulso foram categorizados em <92% e ≥92%.

A drenagem postural foi realizada nos decúbitos dorsal, laterais (direito e esquerdo) e/ou posição sentada. A tapotagem e a AFE foram realizadas durante 10 minutos em cada postura.

A aspiração consistiu de procedimento estéril, com duração de 10 a 15 segundos, utilizando sonda de aspiração traqueal e luva cirúrgica. Antes do procedimento, foi instilado soro fisiológico 0,9% nas narinas para a umidificação das vias aéreas superiores.

O número de atendimentos de cada paciente foi determinado pela fisioterapeuta, conforme a necessidade e a gravidade, com variabilidade de uma a quatro sessões ao dia, semelhante para os dois grupos.

Na análise estatística, as comparações das características nos grupos foram realizadas com testes de χ2 de Pearson ou exatos de Fisher. Para as análises ao longo do tempo, foram utilizados testes de Friedman, para avaliar a diferença entre os diferentes momentos, e testes de Mann-Whitney, para avaliar a diferença entre os grupos, no caso das variáveis com distribuição não normal. Para as variáveis com distribuição normal, utilizamos análise de variância com medidas repetidas, estudando a presença de interação entre grupo e tempo. Na presença de interação, foram realizadas correções de Bonferroni ao nível de significância (nível de significância ajustado de 0,05/número de comparações). Para todos os testes do estudo foi considerado um nível de significância de 5%. As análises foram realizadas com o auxílio do programa estatísticoStatistical Package for the Social Science (SPSS Inc. Released 2008, SPSS Statistics for Windows, Version 17.0. Chicago: SPSS Inc.).

RESULTADOS

Os grupos foram similares em relação a sexo, idade, uso de antibiótico e broncodilatador. Houve maior número de atendimentos em UTI no Grupo 1 e um número maior de atendimentos referentes a pacientes que utilizaram corticoide no Grupo 2 (Tabela 1).

Tabela 1
Características dos grupos

O tempo mediano até alta do estudo no Grupo 1 foi de 3 dias, variando de 2 a 5 dias. No Grupo 2, o tempo mediano até alta foi de 2 dias, variando de 1 a 5 dias. Não houve diferença estatisticamente significante entre os dois grupos (p=0,408).

Na maioria dos atendimentos os pacientes apresentaram SpO2≥92%, sem grandes variações ao longo do tempo para os dois grupos (Tabela 2).

Tabela 2
Comparação dos sinais clínicos ao longo do tempo nos dois grupos

As comparações de RDAI ao longo do tempo mostraram que os dois grupos se comportaram de maneira similar (p=0,098) e que não houve diferenças entre os dois grupos (p=0,196). Os dois grupos apresentaram diminuição de RDAI 10 minutos após as intervenções (p<0,001) e mantiveram esses valores 60 minutos após. No Grupo 1, o escore passou de 5,02 para 3,06 após 10 minutos e para 3,13 após 60 minutos. Já no Grupo 2, o escore passou de 5,8 para 3,6 após 10 minutos e para 3,26 após 60 minutos (Figura 1 e Tabela 2).

Figura 1
Intervalos de confiança de 95% para os escores médios doRespiratory Distress Assessment Instrument, segundo o grupo e o tempo de avaliação

As respostas sobre os efeitos da fisioterapia foram satisfatórias na maioria dos itens avaliados pelo questionário utilizado, não havendo diferença entre os dois grupos (Tabela 3).

Tabela 3
Itens do questionário sobre a satisfação dos pais/responsáveis em relação às intervenções fisioterapêuticas realizadas

DISCUSSÃO

O tratamento da bronquiolite geralmente é composto por terapêutica farmacológica, que objetiva atenuar o quadro fisiopatológico, e pela fisioterapia, com o objetivo de proporcionar higiene brônquica, otimização da reexpansão pulmonar e melhora da mecânica respiratória, com consequente prevenção de complicações pulmonares.(1414 Costa D, Gomes EL, Monteiro KD, Medeiros DR. [Highlighting the treatments applied on infants with acute viral bronchiolitis: a retrospective analysis]. Fisioter Bras. 2012;13(1):41-4. Portuguese.,1515 Patel H, Platt R, Lozano JM, Wang EE. Glucocorticoids for acute viral bronchiolitis in infants and young children. Cochrane Database Syst Rev. 2004;(3):CD004878. Update in: Cochrane Database Syst Rev. 2008;(1):CD004878.)

Apesar da fisiopatologia da infecção ocasionada pelo VSR sugerir uma terapêutica efetiva com corticoide com ação anti-inflamatória no tratamento da bronquiolite, estudos não demonstram benefício da utilização dessa terapêutica.(1616 Pinto LA, Pitrez PM, Luisi F, de Mello PP, Gerhardt M, Ferlini R, et al. Azithromycin therapy in hospitalized infants with acute bronchiolitis is not associated with better clinical outcomes: a randomized, double-blinded, and placebo-controlled clinical trial. J Pediatr. 2012;161(6):1104-8.) Segundo as Diretrizes Clínicas na Saúde Complementar da Sociedade Brasileira de Pediatria, o uso de corticosteroides não é recomendado no tratamento ambulatorial ou hospitalar da bronquiolite aguda (grau de recomendação A).(1717 Projeto Diretrizes [homepage on the Internet]. Diretrizes Clínicas na Saúde Suplementar. Bronquiolite aguda: tratamento e prevenção [cited 2013 Dec 01]. Available from: http://www.projetodiretrizes.org.br/ans/diretrizes/bronquiolite_aguda-tratamento_e_prevencao.pdf
http://www.projetodiretrizes.org.br/ans/...
)

A terapêutica com broncodilatadores é mais efetiva no estágio inicial da infecção, momento em que as pequenas vias aéreas não estão obstruídas com secreções.(1616 Pinto LA, Pitrez PM, Luisi F, de Mello PP, Gerhardt M, Ferlini R, et al. Azithromycin therapy in hospitalized infants with acute bronchiolitis is not associated with better clinical outcomes: a randomized, double-blinded, and placebo-controlled clinical trial. J Pediatr. 2012;161(6):1104-8.) De acordo com as Diretrizes Clínicas na Saúde Complementar da Sociedade Brasileira de Pediatria, o uso rotineiro de broncodilatadores inalatórios não é recomendado no tratamento ambulatorial ou hospitalar para melhorar o prognóstico da bronquiolite aguda (grau de recomendação A).(1717 Projeto Diretrizes [homepage on the Internet]. Diretrizes Clínicas na Saúde Suplementar. Bronquiolite aguda: tratamento e prevenção [cited 2013 Dec 01]. Available from: http://www.projetodiretrizes.org.br/ans/diretrizes/bronquiolite_aguda-tratamento_e_prevencao.pdf
http://www.projetodiretrizes.org.br/ans/...
)

No estudo de Pinto et al., cerca de 40% dos pacientes utilizaram antibiótico, sem diferenças entre os grupos, similarmente a estudo recente, randomizado, com 184 crianças menores que 12 meses de idade e hospitalizadas com bronquiolite. O tratamento com antibiótico não reduziu a duração da internação e nem a necessidade de oxigênio suplementar, concluindo que, na bronquiolite, o tratamento com antibióticos não deve ser utilizado rotineiramente, mas somente quando houver evidência de uma infecção bacteriana.(1616 Pinto LA, Pitrez PM, Luisi F, de Mello PP, Gerhardt M, Ferlini R, et al. Azithromycin therapy in hospitalized infants with acute bronchiolitis is not associated with better clinical outcomes: a randomized, double-blinded, and placebo-controlled clinical trial. J Pediatr. 2012;161(6):1104-8.)

A fisioterapia respiratória tem sido empregada rotineiramente em pacientes com bronquiolite, porém seus benefícios ainda são questionados, pela escassez de ensaios clínicos sobre o tema e pela limitada qualidade metodológica das pesquisas, que compromete qualquer afirmação que possa ser feita com relação a efeitos positivos da fisioterapia em pacientes com bronquiolite.(1818 Schivinski CI, Parazzi PL. [The benefit of respiratory physiotherapy in acute viral bronchiolitis]. Pediatria Moderna. 2014;50(6):270-80. Portuguese.)

Já em estudo recente, em que a fisioterapia foi realizada em todos os pacientes, foram evidenciadas menores necessidades de internação em UTI e de suporte ventilatório, em relação aos dados descritos na literatura.(1414 Costa D, Gomes EL, Monteiro KD, Medeiros DR. [Highlighting the treatments applied on infants with acute viral bronchiolitis: a retrospective analysis]. Fisioter Bras. 2012;13(1):41-4. Portuguese.)

Alguns estudos relataram que a fisioterapia não deve ser indicada na fase aguda da bronquiolite, pelo fato de as manobras de higiene brônquica causarem agitação na criança, levando à hipoxemia e desencadeando broncoespasmo. Por outro lado, estudos relatam que a fisioterapia causa grande benefício nessas crianças, promovendo diminuição do tempo de internação hospitalar e evitando a necessidade de suporte ventilatório.(6Nascimento JB. Fisioterapia na bronquiolite viral aguda. In: Sarmento GJ, editor. Fisioterapia respiratória no paciente crítico: rotinas clínicas. São Paulo: Manole; 2005. p. 413-6.,1919 Lourenção LG, Salomão Junior JB, Rahal P, Souza FP, Zanetta DM. Respiratory syncytial virus infections in children. Pulmão RJ. 2005;14(1):59-68.)

A literatura compara ainda as diferentes intervenções, como tapotagem e vibração, associadas à drenagem postural, e não demonstra benefícios na evolução do quadro clínico da doença.(8Perrotta C, Ortiz Z, Roqué M. Chest physiotherapy for acute bronchiolitis in paediatric patients between 0 and 24 months old. Cochrane Database Syst Rev. 2007;24;(1):CD004873. Review. Update in: Cochrane Database Syst Rev. 2012;2:CD004873.,2020 Bohé L, Ferrero ME, Cuestas E, Polliotto L, Genoff M. [Indications of conventional chest physiotherapy in acute bronchiolitis]. Medicina (B Aires). 2004;64(3): 198-200. Spanish.) Porém, estudos franceses demonstram benefícios na remoção da secreção pela técnica AFE, além das intervenções já citadas.(2121 Luisi F. Role of chest physiotherapy in acute viral bronchiolitis. Scientia Medica. 2008;18(1):39-44.) A AFE potencializa a fisiologia pulmonar normal por meio das variações de fluxos aéreos, para a desobstrução brônquica e homogeneização da ventilação pulmonar.(2222 Ribeiro MA, Cunha ML, Etchebehere EC, Camargo EE, Ribeiro JD, Condino-Neto AC. [Effects of cisapride and chest physical therapy on the gastroesophageal reflux of wheezing babies based on scintigraphy]. J Pediatr (Rio J). 2001; 77(5):393-400. Portuguese.)

No estudo de Castro et al., no qual foram avaliados os efeitos da fisioterapia respiratória em pacientes com bronquiolite, não foram observadas diferenças estatisticamente significantes em relação à oxigenoterapia e à SpO2antes e após os atendimentos.(2323 Castro G, Remondini R, Santos AZ, Prado C. Analysis of symptoms, clinical signs and oxygen support in patients with bronchiolitis before and after chest physiotherapy during hospitalization. Rev Paul Pediatr. 2011;29(1): 599-605.) Neste estudo, em ambos os grupos, na maioria dos atendimentos, os pacientes apresentaram SpO2≥92% em todos os momentos observados, sem alterações significativas.

O escore RDAI apresenta boa confiabilidade na avaliação da presença e localização de sibilos e retrações, com pontuação de 1 a 17, de acordo com a intensidade dos sinais. Escores mais elevados indicam doença mais grave, sendo que uma pontuação <4 indica doença leve e uma pontuação >15, doença grave.(1313 Plint AC, Johnson DW, Patel H, Wiebe N, Correll R, Brant R, Mitton C, Gouin S, Bhatt M, Joubert G, Black KJ, Turner T, Whitehouse S, Klassen TP; Pediatric Emergency Research Canada (PERC). Epinephrine and dexamethasone in children with bronchiolitis. N Engl J Med. 2009;360(1):2079-89.) No presente estudo, ambos os grupos se comportaram de maneira similar na avaliação do escore RDAI, sendo observada uma redução significativa do escore do momento pré para 10 minutos.

Durante a análise do questionário entregue aos responsáveis, foi observada redução imediata do desconforto respiratório após a fisioterapia respiratória, sendo esse benefício evidente. Apesar da escassez de evidências científicas sobre a repercussão da fisioterapia respiratória em pacientes com bronquiolite aguda, as técnicas de higiene brônquica têm sido solicitadas para o tratamento desses pacientes em diversos serviços, devido à melhora do quadro respiratório e à redução de complicações pulmonares, observadas na prática clínica. Tais técnicas são recomendadas em casos de obstrução brônquica devido à secreção. (1818 Schivinski CI, Parazzi PL. [The benefit of respiratory physiotherapy in acute viral bronchiolitis]. Pediatria Moderna. 2014;50(6):270-80. Portuguese.)

Na aplicação diária de técnicas fisioterapêuticas, foi identificada uma redução mais rápida de sintomas respiratórios e clínicos, como diminuição da febre e dispneia, aumento do apetite, melhora da ausculta pulmonar e da tosse.(2424 Postiaux G, Bafico JF, Masengu R, Lahaye JM. [Paramètres anamnestiques et cliniques utiles au suivi et à l’achévement de la toilette bronchopulmonaire du nourrisson et de l’enfant]. Ann Kinésithér. 1991;18(3):117-24. French.) No presente estudo, foram observadas respostas satisfatórias sobre os efeitos da fisioterapia na maioria dos itens avaliados pelos responsáveis. Todos os pacientes apresentaram melhora da respiração após a intervenção fisioterapêutica. Foi constatada pouca diferença entre os pacientes que apresentaram ou não melhora da alimentação e do humor, porém sem significância estatística.

Dentre as limitações deste estudo, podemos citar a dissimilaridade dos grupos, em relação ao uso de corticoide e internação na UTI, e as recusas por parte dos pais em relação à manobra AFE, devido à agitação e à irritabilidade observadas nas crianças submetidas a essa manobra.

CONCLUSÃO

Não foram observadas diferenças entre os grupos em relação aos itens avaliados (tempo necessário para o paciente atingir alta do estudo, oximetria de pulso em ar ambiente e gravidade da doença pelo escore Respiratory Distress Assessment Instrument). A fisioterapia respiratória promoveu melhora do desconforto respiratório em pacientes com bronquiolite, principalmente após 10 minutos, e manutenção de oxigenação adequada em todos os momentos, sendo similar em ambos os grupos. Além disso, foram observadas respostas satisfatórias dos responsáveis sobre os efeitos da fisioterapia na maioria dos itens avaliados, tanto para a técnica aceleração do fluxo expiratório quanto para a tapotagem. Apesar dos resultados positivos deste estudo, faz-se necessária a realização de mais ensaios clínicos, a fim de avaliar e comparar a efetividade de diferentes técnicas fisioterapêuticas nesses pacientes.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos às fisioterapeutas do Departamento Materno-Infantil do Hospital Israelita Albert Einstein e às pessoas que prestaram considerável assistência para a realização deste estudo.

REFERENCES

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Oct-Dec 2014

Histórico

  • Recebido
    21 Jul 2014
  • Aceito
    22 Out 2014
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