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“E ENTÃO ELE FOI CHAPINHANDO ATÉ A PORTA”: UMA ANÁLISE DE TRADUÇÃO DE MODO DE MOVIMENTO EM INGLÊS PARA POLONÊS E PORTUGUÊS BRASILEIRO

“HE SPLASHED TO HIS DOOR”: ANALYSIS OF MANNER OF MOTION TRANSLATION FROM ENGLISH TO POLISH AND BRAZILIAN PORTUGUESE

Resumo

O objetivo do artigo é analisar padrões de lexicalização de modo de movimento nas traduções de um texto literário em inglês para polonês e para português brasileiro. Apoiados na classificação talmiana de línguas com frame nos satélites e línguas com frame nos verbos, como também na teoria Thinking for Translating de Slobin, comparamos as frequências da presença do componente modo de movimento e a sua lexicalização com o auxílio de verbos de modo ou de verbos de trajetória nos textos sob escrutínio. Como esperado, os textos em inglês e em polonês contêm mais verbos de modo do que o texto brasileiro, embora, surpreendentemente, esse último expresse o modo com frequência apenas ligeiramente mais baixa do que o texto original. A análise de técnicas de tradução demonstrou que o texto brasileiro se mantém mais fiel na tradução do modo, enquanto o texto polonês exibe numerosas modulações e adições do modo, ausentes no texto original. Concluímos, portanto, que os padrões de lexicalização, influenciados pela direcionalidade linguística, resultam também das decisões criativas dos tradutores.

Palavras-chave
análise de tradução; padrões de lexicalização de modo de movimento; técnicas de tradução

Abstract

The aim of this paper is to analyse lexicalization patterns of manner of motion in translations to Polish and Brazilian Portuguese from a literary text in English. Based on Talmian language classification into satellite-framed and verb-framed, as well as on Slobin’s Thinking for Translation theory, we compare the manner of motion’s frequencies and its lexicalization with use of manner verbs or path verbs in the analysed texts. As expected, the English and Polish texts contain more manner verbs than the Brazilian text, although, surprisingly, the latter expresses manner of motion only somewhat less frequently than the original. The translation techniques’ analysis demonstrated that the Brazilian manner translation is more accurate, whereas the Polish text contains numerous manner modulations and additions, absent in the original text. We conclude that the lexicalization patterns, influenced by the linguistic directionality, result also from the creative translators’ decisions.

Keywords
translation analysis; manner of motion lexicalization patterns; translation techniques

As estruturas linguísticas específicas de cada língua natural afetam o modo como as mensagens são formuladas e como o pensamento é expresso. Embora a hipótese de relativismo linguístico na sua versão forte não tenha sido cientificamente comprovada (Moura & Cambrussi, 2018Moura, Heronides & Cambrussi, Morgana. Uma breve história da linguística. Petrópolis: Vozes, 2018.), o fato de que as línguas fornecem aos seus falantes ferramentas e perspectivas necessárias para verbalização das experiências parece evidente. Nas palavras de Slobin (2000, p. 107, grifos do autor)Slobin, Dan. “Verbalized events: a dynamic approach to linguistic relativity and determinism”. In: Niemeier, Susanne & Dirven, René (Orgs.). Evidence for linguistic relativity. Berlin: Mouton de Gruyter, 2000. p. 107-138. DOI: https://doi.org/10.1075/cilt.198.10slo
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, “[...] o mundo não apresenta ‘eventos’ para serem codificados na língua. Antes, no processo de falar e de escrever, as experiências são filtradas pela língua para se tornarem eventos verbalizados1 1 Todas as traduções apresentadas no texto são nossas. ”.

O “filtro” da língua se torna especialmente perceptível no processo da tradução, o qual exige uma aplicação das estruturas da língua-alvo, porém mantendo a expressividade e as informações mais relevantes do texto originalmente concebido na língua-fonte. O objetivo deste artigo é analisar esse processo nas traduções inglês-português e inglês-polonês de um texto literário, com o enfoque nas expressões do componente semântico modo (manner) nos eventos de movimento (motion events). O arcabouço teórico deste artigo é a tipologia de padrões de lexicalização de eventos de movimento de Talmy (1985)Talmy, Leonard. “Lexicalization patterns: semantic structure in lexical forms”. In: Shopen, Timothy (Org.). Language typology and syntactic description, vol. 3: grammatical categories and the lexicon. Cambridge: Cambridge University Press, 1985. p. 36-149., a qual classifica a língua inglesa e polonesa como línguas com frame nos satélites (satellite-framed languages, doravante línguas-S) e a língua portuguesa como línguas com frame nos verbos (verb-framed languages, doravante línguas-V). A análise será apoiada também na teoria Pensar para traduzir (Thinking for translating) de Slobin (2000Slobin, Dan. “Verbalized events: a dynamic approach to linguistic relativity and determinism”. In: Niemeier, Susanne & Dirven, René (Orgs.). Evidence for linguistic relativity. Berlin: Mouton de Gruyter, 2000. p. 107-138. DOI: https://doi.org/10.1075/cilt.198.10slo
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; 2005)Slobin, Dan. “Relating narrative events in translation”. In: Ravid, Dorit & Shyldkrot, Hava (Orgs.). Perspectives on language and language development: essays in honor of Ruth A. Berman. Dordrecht: Kluwer, 2005. p. 115-130. DOI: http://dx.doi.org/10.1007/1-4020-7911-7_10
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e nas técnicas de tradução, como apresentadas por Ibarretxe (2003)Ibarretxe, Iraide. “What translation tells us about motion: a contrastive study of typologically different languages”. International Journal of English Studies, 3(2), p. 151-175, 2003. https://revistas.um.es/ijes/article/view/48421/46371
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e Molés-Cases (2018)Molés-Cases, Teresa. “Some advances in the study of the translation of manner of motion events: integrating key concepts of descriptive translation studies and ‘thinking for translating’”. Review of Cognitive Linguistics, 16(1), p. 152-190, 2018. DOI: https://doi.org.10.1075/rcl.00007.mol
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.

O livro que serve de corpus para a nossa pesquisa é intitulado Winnie-the-Pooh e foi escrito em 1926 pelo escritor britânico Alan Alexander Milne (1882-1956). Trata-se de uma obra para o público infantil, cujos protagonistas foram inspirados no filho do autor e nos seus bichos de pelúcia. O texto foi escolhido por ser rico em descrições de movimento físico, usar uma linguagem relativamente coloquial e por ter sido traduzido para várias línguas. Entre muitas traduções das aventuras de um dos ursos mais icônicos da Grã-Bretanha, encontramos a tradução de Irena Tuwim (1898-1987) para a língua polonesa (Milne, 2019Milne, Alan. Kubuś Puchatek. Tradução de Irena Tuwim. Warszawa: Nasza Księgarnia, 2019.) e de Mônica Stahel para o português brasileiro (Milne, 2018Milne, Alan. Ursinho Pooh. Tradução de Monica Stahel. São Paulo: Martins Fontes, 2018.).

Embasamento teórico

Línguas-S e línguas-V

Segundo Talmy (1985, p. 59)Talmy, Leonard. “Lexicalization patterns: semantic structure in lexical forms”. In: Shopen, Timothy (Org.). Language typology and syntactic description, vol. 3: grammatical categories and the lexicon. Cambridge: Cambridge University Press, 1985. p. 36-149., o fenômeno de lexicalização ocorre, em termos gerais, quando “[...] um componente específico de significado aparece em uma associação regular com um morfema particular”. Essa definição pressupõe a possibilidade de um isolamento de elementos de significado, tais como “movimento”, “trajetória”, “figura”, entre outros, e de elementos de superfície, ou seja, constituintes sintáticos, tais como “verbo”, “adjunto”, “oração subordinada”. O objetivo é identificar a relação entre esses elementos de significado e os de superfície, a qual não costuma ser simples nem unívoca. Em outras palavras, uma combinação de elementos semânticos pode ser expressa por um único elemento de superfície, ou um único elemento semântico pode ser expresso por uma combinação de elementos de superfície. A partir dessas relações, Talmy (1985)Talmy, Leonard. “Lexicalization patterns: semantic structure in lexical forms”. In: Shopen, Timothy (Org.). Language typology and syntactic description, vol. 3: grammatical categories and the lexicon. Cambridge: Cambridge University Press, 1985. p. 36-149. busca definir os padrões de lexicalização mais usuais dentro de uma língua ou de uma família de línguas.

Para o objetivo deste artigo, focaremos a nossa atenção na tipologia talmiana referente aos padrões de lexicalização de eventos de movimento. Um evento mínimo de movimento é composto, segundo o teórico, por quatro elementos semânticos. São eles a figura (Figure) que é um objeto em movimento ou localizado em referência a um outro objeto, o fundo (Ground); o movimento (Motion), o qual indica a presença ou a ausência de um movimento; e a trajetória (Path), que corresponde ao caminho percorrido ou ao lugar ocupado pela figura. Adicionalmente a esses elementos internos, o evento de movimento pode ser acompanhado de um coevento (Coevent), composto por elemento modo (Manner) e/ou causa (Cause) do movimento da figura (Talmy, 1985Talmy, Leonard. “Lexicalization patterns: semantic structure in lexical forms”. In: Shopen, Timothy (Org.). Language typology and syntactic description, vol. 3: grammatical categories and the lexicon. Cambridge: Cambridge University Press, 1985. p. 36-149.).

Talmy (2016)Talmy, Leonard. “Properties of main verbs”. Cognitive Semantics, 2(2), p. 133-163, 2016. DOI: https://doi.org/10.1163/23526416-00202001
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introduziu uma tipologia de línguas, cujo critérios de classificação foram constituintes sintáticos da sentença que costumam expressar um componente semântico específico, a saber: a trajetória. Assim, foram identificados dois grupos principais de línguas que expressam a trajetória tipicamente: i) em verbos, chamadas de verb-framed languages (línguas-V); ii) em satélites e/ou preposições, chamadas de satellite-framed languages (línguas-S). O termo “satélite” refere-se a um “constituinte em uma construção juntamente com o verbo principal (raiz) e sintaticamente subordinado a ele [...]” (Talmy, 2016Talmy, Leonard. “Properties of main verbs”. Cognitive Semantics, 2(2), p. 133-163, 2016. DOI: https://doi.org/10.1163/23526416-00202001
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, p. 134). O conceito pode abranger também preposições entendidas como “um constituinte em uma construção com um sintagma nominal, o qual pode consistir em uma preposição e/ou uma posposição e/ou de um afixo do nome desse SN” (Talmy, 2016Talmy, Leonard. “Properties of main verbs”. Cognitive Semantics, 2(2), p. 133-163, 2016. DOI: https://doi.org/10.1163/23526416-00202001
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, p. 134).

A frase (1), abaixo, retirada do livro que é objeto desta pesquisa, ilustra bem essa diferença do elemento sintático que expressa a trajetória entre a língua inglesa, a língua polonesa (ambas línguas-S) e a língua portuguesa (língua-V):

1.

a. Inglês: Rabbit went out by the back door.

‘coelho foi para fora por a traseira porta’.

b. Pol.: Królik wyszedł przez kuchenne drzwi (p. 28) 2 2 Os exemplos em polonês e em português referem-se sempre às traduções da obra: Milne (2019) e Milne (2018), respectivamente. .

‘coelho para fora-andou por de cozinha porta’.

c. Port.: O Coelho saiu pela porta de trás (p. 40).

Percebemos que tanto em inglês como em polonês a trajetória do movimento não está expressa na raiz do verbo. No primeiro caso, ela está indicada pelo satélite “out” (‘para fora’), enquanto no polonês esse mesmo significado está contido no prefixo verbal “wy-”. Na versão portuguesa da mesma sentença, o elemento semântico “para fora” já está expresso no verbo “sair”.

Línguas de alta ou de baixa saliência de modo

Inspirado pela tipologia de Talmy (1985)Talmy, Leonard. “Lexicalization patterns: semantic structure in lexical forms”. In: Shopen, Timothy (Org.). Language typology and syntactic description, vol. 3: grammatical categories and the lexicon. Cambridge: Cambridge University Press, 1985. p. 36-149., Slobin (1991)Slobin, Dan. “Learning to think for speaking: native language, cognition, and rhetorical style”. Pragmatics, 1(1), p. 7-25, 1991. DOI: http://dx.doi.org/10.1075/prag.1.1.01slo
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propõe a hipótese Pensar para falar (thinking for speaking), a qual se refere a um “tipo especial do pensar que é intimamente ligado à língua, a saber, o pensar que acontece em tempo real no processo da fala” (Slobin, 1991Slobin, Dan. “Learning to think for speaking: native language, cognition, and rhetorical style”. Pragmatics, 1(1), p. 7-25, 1991. DOI: http://dx.doi.org/10.1075/prag.1.1.01slo
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, p. 11). Essa forma especial de pensar, mobilizada para a comunicação, faz com que, no momento da fala, o usuário da língua adapte o seu pensamento às estruturas linguísticas disponíveis. Em outras palavras, para a efetivação da expressão verbal, ele escolherá as características de objetos e de eventos que podem ser facilmente codificadas na sua língua, deixando de fora as mais dificilmente expressas verbalmente. Nas suas pesquisas de padrões de lexicalização de movimento nas línguas-V e línguas-S, Slobin (2000)Slobin, Dan. “Verbalized events: a dynamic approach to linguistic relativity and determinism”. In: Niemeier, Susanne & Dirven, René (Orgs.). Evidence for linguistic relativity. Berlin: Mouton de Gruyter, 2000. p. 107-138. DOI: https://doi.org/10.1075/cilt.198.10slo
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observou que os falantes dessas primeiras costumam expressar o modo do movimento com menos frequência do que os falantes das línguas-S. Seguindo o raciocínio de Pensar para falar, ele concluiu que os falantes de línguas-S costumam estar mais atentos ao modo de movimento, pois foram, de certa maneira, “treinados” pelas suas línguas a perceberem mais os padrões de movimento, velocidade, ritmo, intenção, etc. do que os falantes de línguas-V. Deste modo, Slobin (2000)Slobin, Dan. “Verbalized events: a dynamic approach to linguistic relativity and determinism”. In: Niemeier, Susanne & Dirven, René (Orgs.). Evidence for linguistic relativity. Berlin: Mouton de Gruyter, 2000. p. 107-138. DOI: https://doi.org/10.1075/cilt.198.10slo
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chamará as línguas-S de línguas com alta saliência de modo (high-manner-salient languages) e as línguas-V de línguas com baixa saliência de modo (low-manner-salient languages), deixando, no entanto, claro que, antes de uma dicotomia, trata-se de um contínuo de línguas com a saliência de modo maior ou menor.

É importante frisar que tanto Talmy (1985)Talmy, Leonard. “Lexicalization patterns: semantic structure in lexical forms”. In: Shopen, Timothy (Org.). Language typology and syntactic description, vol. 3: grammatical categories and the lexicon. Cambridge: Cambridge University Press, 1985. p. 36-149. na sua tipologia de línguas-S e línguas-V como Slobin (2000)Slobin, Dan. “Verbalized events: a dynamic approach to linguistic relativity and determinism”. In: Niemeier, Susanne & Dirven, René (Orgs.). Evidence for linguistic relativity. Berlin: Mouton de Gruyter, 2000. p. 107-138. DOI: https://doi.org/10.1075/cilt.198.10slo
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na sua análise de saliência de modo se baseiam nos padrões mais característicos, frequentes e coloquiais de uso linguístico. A classificação de uma língua como língua-V não significa que não existam nela construções que expressem a trajetória nos satélites ou os verbos que fundem os elementos semânticos de modo e de movimento. A classificação indica que essas construções serão mais raras no uso linguístico de seus falantes, o que tem implicações no seu estilo retórico. Como bem resumiu Ibarretxe (2003)Ibarretxe, Iraide. “What translation tells us about motion: a contrastive study of typologically different languages”. International Journal of English Studies, 3(2), p. 151-175, 2003. https://revistas.um.es/ijes/article/view/48421/46371
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, as diferenças de padrões de lexicalização entre línguas-S e línguas-V têm duas consequências principais nos seus estilos retóricos: i) as narrativas nas línguas-S contêm mais informação sobre o modo do movimento; ii) as narrativas nas línguas-S costumam incluir descrições mais detalhadas de trajetórias de movimento. O motivo da segunda consequência é a habilidade de línguas-S de lexicalizar trajetórias complexas com o uso de um verbo apenas, acompanhado de vários satélites, como pode ser visto no exemplo a seguir, extraído da obra analisada:

2.

a. Ing.: (…) marched Bear down open slopes of gorse and heather, over rocky beds of streams, up steep banks of sandstone into the heather again; and so at last, tired and hungry, to the Hundred Acre Wood.

‘o urso marchou para baixo dos declives cobertos de tojo e urze, através dos leitos pedregosos dos riachos, para cima da ribanceira de arenitos, para dentro de urze de novo; e finalmente, cansado e faminto, até o Bosque de Cem Acres’.

b. Pol.: Wędrował przez polany porosłe jałowcem i wrzosem, poprzez kamieniste łożyska potoków, przez piachy i znów przez wrzosowiska, aż w końcu, zmęczony i głodny, do-brnął do Stumilowego Lasu (p. 44).

caminhava pelos prados cobertos de tojo e urze, através de leitos pedregosos dos riachos, pelos arenitos e de novo pelo urze, e finalmente, cansado e faminto, até-foi com muita dificuldade até o Bosque de Cem Acres’.

c. Port.: O Urso caminhava descendo declives cobertos de tojo e urze, atravessando os leitos pedregosos dos riachos, subindo ribanceira de arenito para voltar à urze. Finalmente cansado e faminto, chegou ao Bosque dos Cem Acres (p. 60).

O fragmento original, em inglês, representa uma trajetória complexa composta por cinco trechos, porém lexicalizada somente com um verbo (“to march”) e cinco preposições que expressam a trajetória. Embora ambas as traduções tenham mantido os cinco trechos da trajetória complexa, cada uma delas se valeu de um padrão de lexicalização diferente. Enquanto na língua polonesa (língua-S) a narrativa é construída de modo semelhante ao original, com cinco preposições e adição de um verbo, na língua portuguesa (língua-V) observamos a adição de cinco verbos de trajetória (que expressam a trajetória+movimento na raiz, doravante Vtraj), que substituem as preposições do inglês: “descer” (“down”), “atravessar” (“across”), “subir” (“up”), “voltar” (“back”) e “chegar” (“to”). É interessante observar também que a tradutora brasileira se valeu de uma construção pouco esperada nas línguas românicas, na qual o verbo da oração principal lexicaliza o modo de movimento (“caminhava”) e os das orações subordinadas, as trajetórias. As traduções dessa frase fornecem um exemplo nítido no qual uma língua-V expressa a trajetória nos verbos, enquanto as línguas-S o fazem com o uso de satélites. Chama atenção o fato de que todos os verbos adicionados na versão portuguesa são Vtraj enquanto o verbo adicionado na versão polonesa (“brnąć” – ‘ir com grande dificuldade’), acompanhado do prefixo “do-” (‘até’), é um verbo de modo (que expressa modo+movimento na raiz, Vmodo). Esse exemplo, portanto, corrobora a hipótese de que línguas-S costumam focar mais o modo de movimento.

Em um primeiro momento, Slobin baseou sua hipótese referente à saliência de modo nas diferentes línguas nas análises de narrativas orais realizadas a partir de estímulos pictóricos. Depois disso, ele se voltou para pesquisas de outros tipos de discursos, tais como ficção literária e tradução, adaptando o termo Pensar para falar, para Pensar para escrever e Pensar para traduzir, respectivamente. Ambos os tipos de expressão, a escrita e a tradução, não se caracterizam pela pressão de tempo na hora de formular a verbalização, tão presente na fala. Apesar da diferença relevante do tempo no processo de escrita literária, as descobertas de Slobin (2000)Slobin, Dan. “Verbalized events: a dynamic approach to linguistic relativity and determinism”. In: Niemeier, Susanne & Dirven, René (Orgs.). Evidence for linguistic relativity. Berlin: Mouton de Gruyter, 2000. p. 107-138. DOI: https://doi.org/10.1075/cilt.198.10slo
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para essa modalidade de expressão verbal não divergiam muito das observadas no processo da fala, o que confirmou a hipótese de que as línguas-S costumam salientar mais modo de movimento não somente na fala, mas também na escrita.

Moura & Badaracco (2019)Moura, Heronides & Badaracco, Lucas. “Translating verbs of motion from English to Portuguese: lexicon and constructions”. Cadernos de tradução, 39, p. 166-183, 2019. DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7968.2019v39n2p166
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, em estudo sobre narrações em inglês, português e espanhol de jogos de basquete nos Estados Unidos, puderam atestar que o repertório de Vmodo é de fato muito mais amplo nas narrações em língua inglesa. Embora as narrações em português apresentem um número equivalente de ocorrências de verbos de modo, os verbos utilizados são em número bem menor. Ou seja, a hipótese da alta saliência de modo deve ser entendida não tanto como uma diferença de estilos narrativos nas duas línguas (neste contexto específico de narração esportiva), mas como uma possibilidade mais ampla de escolha lexical pelos falantes do inglês.

Tradução

O processo cognitivo de tradução exige que o tradutor pense para ler (thinking for reading) e pense para escrever (thinking for writing). Nas palavras de Slobin (2000, p. 123)Slobin, Dan. “Verbalized events: a dynamic approach to linguistic relativity and determinism”. In: Niemeier, Susanne & Dirven, René (Orgs.). Evidence for linguistic relativity. Berlin: Mouton de Gruyter, 2000. p. 107-138. DOI: https://doi.org/10.1075/cilt.198.10slo
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:

[na tradução] é necessário passar da imagem mental produzida ao ler a língua-fonte para uma representação apropriada dessa imagem mental na língua-alvo. A tradução revela o quanto a língua-alvo consegue se ajustar à língua-fonte e o quanto precisa assimilar o original a seus próprios padrões do pensar para escrever

(Slobin, 2000Slobin, Dan. “Verbalized events: a dynamic approach to linguistic relativity and determinism”. In: Niemeier, Susanne & Dirven, René (Orgs.). Evidence for linguistic relativity. Berlin: Mouton de Gruyter, 2000. p. 107-138. DOI: https://doi.org/10.1075/cilt.198.10slo
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, p. 123).

Slobin (2000)Slobin, Dan. “Verbalized events: a dynamic approach to linguistic relativity and determinism”. In: Niemeier, Susanne & Dirven, René (Orgs.). Evidence for linguistic relativity. Berlin: Mouton de Gruyter, 2000. p. 107-138. DOI: https://doi.org/10.1075/cilt.198.10slo
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constatou que, nas traduções de inglês (língua-S) para espanhol (língua-V), somente a metade dos Vmodo ingleses são traduzidos para Vmodo em espanhol. Em outros casos, os tradutores, no processo de “pensar para traduzir”, adaptam o texto ao estilo retórico da língua-alvo, substituindo os Vmodo por Vtraj (3, tradução para português) ou omitindo o verbo de movimento por completo (4).

3.

a. Ing.: ... then Piglet ran after you.

‘então o Leitão correu atrás de você’.

b. Pol.: ... potem Prosiaczek pobiegł za tobą (p. 39).

‘então o Leitão correu atrás de você’.

c. Port.: ... depois o Leitão foi atrás (p. 55).

4.

a. Ing.: Piglet is so small that he slips into a pocket.

‘Leitão é tão pequeno que escorrega para dentro do bolso’.

b. Pol.: Prosiaczek jest tak malutki, że świetnie mieści się w kieszeni (p. 7).

‘Leitão é tão pequeno que excelentemente cabe dentro do bolso’.

c. Port.: Leitão é tão pequeno que cabe no bolso (p. 12).

Observe-se que, no (4), a omissão do verbo do movimento tem o efeito de enfatizar o resultado final do movimento omitido, o que é uma das características das línguas-V.

Segundo as observações de Slobin (2000)Slobin, Dan. “Verbalized events: a dynamic approach to linguistic relativity and determinism”. In: Niemeier, Susanne & Dirven, René (Orgs.). Evidence for linguistic relativity. Berlin: Mouton de Gruyter, 2000. p. 107-138. DOI: https://doi.org/10.1075/cilt.198.10slo
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, os Vmodo tendem a ser mantidos nas traduções de inglês para outras línguas-S (no caso, alemão, holandês, russo e servo-croata) e neutralizados, diminuídos ou omitidos nas traduções para línguas-V pesquisadas por ele (francês, espanhol, italiano, português, turco e hebraico).

Voltando à sentença (4), vale observar que na versão polonesa foi adotada a mesma estratégia aplicada pela tradutora brasileira. Em polonês, apesar de se tratar de uma língua-S, como o inglês, a tradutora decidiu omitir o componente de movimento e empregar o verbo “caber” (“mieścić się”). Vemos, portanto, que os falantes e os tradutores das línguas tipologicamente mais próximas nem sempre têm que escolher padrões de lexicalização semelhantes. Esse aspecto é levantado e discutido por Molés-Cases (2018), a qual argumenta pela inclusão da análise das decisões de tradutores na pesquisa de padrões de lexicalização nos textos traduzidos. Segundo a linguista, o produto da tradução é influenciado tanto pelos diversos padrões de lexicalização aceitos pelas línguas envolvidas, como pelas decisões dos tradutores, os quais podem omitir elementos que considerem desnecessários ou confusos, ou adicionar elementos novos. Essas decisões podem ser agrupadas em técnicas de tradução aplicadas para o componente semântico modo nos eventos de movimento, resumidas no Quadro 1:

Quadro 1
Técnicas de tradução de modo nos eventos de movimento

É importante frisar que a tradução do modo de movimento pode ocorrer não somente com o auxílio de um verbo, mas também de outros componentes superficiais. Como apontam Ibarretxe (2003)Ibarretxe, Iraide. “What translation tells us about motion: a contrastive study of typologically different languages”. International Journal of English Studies, 3(2), p. 151-175, 2003. https://revistas.um.es/ijes/article/view/48421/46371
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e Kopecka (2010)Kopecka, Anetta. “Motion events in Polish. Lexicalization patterns and the description of manner”. In: Hasko, Victoria & Perelmutter, Renee (Orgs.). New approaches to slavic verbs of motion: paths for exploration. Amsterdam: John Benjamins Publishing, 2010. p. 225-246. DOI: https://doi.org/10.1075/slcs.115.14kop
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, no caso de traduções de uma língua-S para uma língua-V, o tradutor, perante a falta de um Vmodo adequado, pode valer-se, além de um Vtraj, de um outro tipo de expressão, como um advérbio, um gerúndio ou um sintagma nominal, entre outras.

Saliência de modo em inglês, português e polonês

Seguindo a classificação de Talmy (1985)Talmy, Leonard. “Lexicalization patterns: semantic structure in lexical forms”. In: Shopen, Timothy (Org.). Language typology and syntactic description, vol. 3: grammatical categories and the lexicon. Cambridge: Cambridge University Press, 1985. p. 36-149., a nossa análise envolverá a comparação dos padrões de lexicalização tanto entre línguas do mesmo tipo, inglês e polonês (línguas-S), como entre línguas de tipos diferentes, inglês e português (língua-V). Na acepção de Slobin (2000)Slobin, Dan. “Verbalized events: a dynamic approach to linguistic relativity and determinism”. In: Niemeier, Susanne & Dirven, René (Orgs.). Evidence for linguistic relativity. Berlin: Mouton de Gruyter, 2000. p. 107-138. DOI: https://doi.org/10.1075/cilt.198.10slo
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, inglês e outras línguas germânicas são consideradas línguas de alta saliência do componente modo, o que se manifesta, por exemplo, pela maior quantidade de diferentes Vmodo de movimento encontrados nos textos analisados, em comparação com o espanhol.

Quanto às línguas eslavas, apoiado nas suas pesquisas da língua russa e servo-croata, Slobin (2005)Slobin, Dan. “Relating narrative events in translation”. In: Ravid, Dorit & Shyldkrot, Hava (Orgs.). Perspectives on language and language development: essays in honor of Ruth A. Berman. Dordrecht: Kluwer, 2005. p. 115-130. DOI: http://dx.doi.org/10.1007/1-4020-7911-7_10
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chega à conclusão de que elas se encontram em uma posição intermediária do contínuo línguas-S – línguas-V. Este deslocamento das línguas eslavas na direção delínguas-V deve-se aos padrões de lexicalização do componente trajetória, o qual não é expresso nas partículas separáveis como nas línguas germânicas, mas nos prefixos verbais. Isso faz com que a lexicalização de trajetórias complexas ocorra, nas línguas eslavas, com o emprego de mais de um verbo, já que os prefixos que expressam a trajetória não podem se separar do verbo3 3 Vejamos que no (2) isso não ocorreu e a lexicalização do componente trajetória na língua polonesa foi realizada com auxílio de várias preposições e com a adição de somente um verbo (no último trecho da trajetória). e não é possível acumular vários prefixos, afixados a uma única raiz verbal. Essa característica aproxima as línguas eslavas das línguas-V, tais como as línguas românicas. Hickmann et al. (2012)Hickmann, Maya; Hendriks, Henriette; Soroli, Efstathia; Iakovleva, Tatina & Ji, Yinglin. “Space and language typology: encoding motion across languages”. 2012. Disponível em: https://citeseerx.ist.psu.edu/document?repid=rep1&type=pdf&doi=1aed534b9259057cfb95e460187fc412ff4257ec. Acesso em 3 mar. 2023.
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concordam sobre essa posição intermediária das línguas eslavas, especialmente do russo, pois observaram que o russo expressa o componente modo de maneira separada com uma frequência menor do que o inglês, adotando um padrão relativamente mais próximo ao do francês.

Dito isso, Slobin (2005)Slobin, Dan. “Relating narrative events in translation”. In: Ravid, Dorit & Shyldkrot, Hava (Orgs.). Perspectives on language and language development: essays in honor of Ruth A. Berman. Dordrecht: Kluwer, 2005. p. 115-130. DOI: http://dx.doi.org/10.1007/1-4020-7911-7_10
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admite que a diversidade dos Vmodo de movimento nas línguas eslavas é comparável à das línguas germânicas, o que as torna línguas com alta saliência do componente modo. Um dos dados que corroboram essa hipótese é o fato de que, nas falas elicitadas por Slobin, os falantes de inglês usaram 30% de Vmodo de movimento, enquanto os falantes de russo o fizeram em 100% dos casos (Łozińska, 2019). Essa alta incidência de Vmodo de movimento em russo e, também, em polonês (Łozińska, 2019Łozińska, Joanna. “The expression of path in three satellite-framed languages. A cognitive study of Polish, Russian and English”. Jezikoslovlje, 20(1), p. 31-61, 2019. DOI: https://doi.org/10.29162/jez.2019.2
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), deve-se à obrigatoriedade da expressão do modo de movimento nessas línguas (Pavlenko & Volynsky, 2015Pavlenko, Aneta & Volynsky, Maria. “Motion encoding in Russian and English: moving beyond Talmy’s typology”. The Modern Language Journal, 99, p. 32-48, 2015. DOI: https://doi.org/10.1111/modl.12177
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). Enquanto os falantes de inglês frequentemente valem-se dos verbos de movimento genéricos, tais como “to come” (‘vir’), “to go” (‘ir’), “to get to” (‘chegar’), os falantes de polonês, em quase todos os contextos, são obrigados a diferenciar o movimento a pé (iść/chodzić ‘caminhar’) do movimento com o uso de um meio de transporte de rodas ou de um animal (jechać/jeździć, correspondente aos verbos em inglês “to ride”, “to drive”).

A classificação de Talmy (1985)Talmy, Leonard. “Lexicalization patterns: semantic structure in lexical forms”. In: Shopen, Timothy (Org.). Language typology and syntactic description, vol. 3: grammatical categories and the lexicon. Cambridge: Cambridge University Press, 1985. p. 36-149. da terceira língua objeto deste artigo, o português, como uma língua-V também gera discussões entre os pesquisadores. É interessante lembrarmos que, embora as línguas românicas sejam consideradas línguas-V, a sua língua-mãe, o latim, era uma língua-S. O padrão de lexicalização do componente trajetória nos satélites é visível, por exemplo, no verbo latim ex-ire (‘para fora-ir’), que deu origem ao verbo inglês exit ou italiano uscire (Iacobini, 2015Iacobini, Claudio. “Particle-verbs in romance”. In: Müller, Peter; Ohnheiser, Ingeborg; Olsen, Susan & Rainer, Franz (Orgs.). Word-formation. An International Handbook of the Languages of Europe. Berlin/New York: De Gruyter, 2015. p. 626-658. DOI: https://doi.org/10.1515/9783110246254
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).

A estrutura latina, como língua-S, deixou traços nas línguas românicas. Viaro (2001)Viaro, Mario. A construção verbo + advérbio de lugar no romanche: herança latina ou decalque germânico? Tese (Doutorado em Letras Clássicas). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001. https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8143/tde-02022018-120013/pt-br.php.
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observa que o reto-romano, também chamado de romanche, apresenta a construção verbo-advérbio de lugar, típica de línguas-S, o que ele interpreta como uma herança latina. Queriquelli & Moura (2021)Queriquelli, Luiz & Moura, Heronides. “Path marking on the satellite in Latin, old Portuguese, and vernacular Brazilian Portuguese”. Fórum Linguístico, 18, p. 6124-6136, 2021. DOI: http://dx.doi.org/10.5007/1984-8412.2021.e76267
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mostram que, na transição do latim para as línguas românicas, os dois padrões (língua-S e língua-V) competiam entre si e, no português brasileiro coloquial, esta superposição de padrões ainda pode ser observada.

Meirelles (2019)Meirelles, Letícia. “Verbos de movimento do português brasileiro: evidências contra uma tipologia binária”. Revista Estudos Linguísticos, 27(2), p. 1101-1124, 2019. DOI: https://doi.org/10.17851/2237-2083.27.2.1101-1124
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também aponta que o português brasileiro atual permite construções nos quais o Vmodo de movimento é seguido por um satélite que indica a trajetória, o que seria um comportamento típico de uma língua-S. Um exemplo desse tipo de padrão de lexicalização pode ser encontrado no nosso corpus (5), onde na tradução brasileira observamos, como na versão inglesa, o Vmodo (“rastejar”), seguido por um sintagma preposicionado que indica trajetória:

5.

a. Ing.: So he crept to the side of the Trap.

‘então ele rastejou até o lado da armadilha’.

b. Pol.: Więc na paluszkach pod-szedł do Pułapki (p. 62).

‘então nos dedinhos para perto-andou até Armadilha’

c. Port.: Ele rastejou até a beira da Armadilha (p. 80).

Metodologia

Dado o exposto acima, a nossa hipótese para a análise dos padrões de lexicalização proposta é que, na tradução de inglês para português, ocorram reduções do componente modo e o uso mais frequente dos Vtraj, tanto em comparação com o inglês como em comparação com o polonês. Considerando a quase obrigatoriedade do componente modo nos eventos de movimento na língua polonesa, espera-se que a frequência do uso desse componente seja maior do que em inglês. O corpus da pesquisa é composto da introdução e de sete dos dez capítulos que compõem o livro4 4 São os capítulos 1-5 e 7 e 8. Winnie-the-Pooh, de Alan Milne (2022)Milne, Alan. “Winnie-the-Pooh”. 03/01/2022. Project Gutenberg. Disponível em https://www.gutenberg.org/files/67098/67098-h/67098-h.htm. Acesso em 3 mar. 2023.
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, e de duas traduções: a de Irena Tuwim para o polonês (Milne, 2019Milne, Alan. Kubuś Puchatek. Tradução de Irena Tuwim. Warszawa: Nasza Księgarnia, 2019.) e a de Monica Stahel para o português brasileiro (Milne, 2018Milne, Alan. Ursinho Pooh. Tradução de Monica Stahel. São Paulo: Martins Fontes, 2018.).

A análise dos dados será baseada nas metodologias de Slobin (2000)Slobin, Dan. “Verbalized events: a dynamic approach to linguistic relativity and determinism”. In: Niemeier, Susanne & Dirven, René (Orgs.). Evidence for linguistic relativity. Berlin: Mouton de Gruyter, 2000. p. 107-138. DOI: https://doi.org/10.1075/cilt.198.10slo
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, Ibarretxe (2003)Ibarretxe, Iraide. “What translation tells us about motion: a contrastive study of typologically different languages”. International Journal of English Studies, 3(2), p. 151-175, 2003. https://revistas.um.es/ijes/article/view/48421/46371
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e Kopecka (2010)Kopecka, Anetta. “Motion events in Polish. Lexicalization patterns and the description of manner”. In: Hasko, Victoria & Perelmutter, Renee (Orgs.). New approaches to slavic verbs of motion: paths for exploration. Amsterdam: John Benjamins Publishing, 2010. p. 225-246. DOI: https://doi.org/10.1075/slcs.115.14kop
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. Serão comparados, nos três textos, os eventos de movimento físico, com o enfoque na expressão do componente modo, a ser considerado sob dois critérios: i) a presença ou a ausência do componente modo nos eventos de movimento; ii) o uso de Vmodo de movimento vs. de Vtraj.

Na nossa análise, a exemplo de trabalhos de Ibarretxe (2003)Ibarretxe, Iraide. “What translation tells us about motion: a contrastive study of typologically different languages”. International Journal of English Studies, 3(2), p. 151-175, 2003. https://revistas.um.es/ijes/article/view/48421/46371
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e Molés-Cases (2018)Molés-Cases, Teresa. “Some advances in the study of the translation of manner of motion events: integrating key concepts of descriptive translation studies and ‘thinking for translating’”. Review of Cognitive Linguistics, 16(1), p. 152-190, 2018. DOI: https://doi.org.10.1075/rcl.00007.mol
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, estudaremos também as estratégias da tradução do componente modo usadas pelas duas tradutoras. O objetivo desta análise é demonstrar as diferenças e as semelhanças nas estratégias de expressão de modo de movimento nas línguas analisadas, por um lado impostas pelos padrões de lexicalização típicos de cada uma das línguas e, por outro lado, sujeitas às decisões criativas dos falantes dessas línguas, aqui, no caso, das tradutoras Tuwim e Stahel.

Análise dos dados

Expressão de modo de movimento

No corpus sob escrutínio foram identificados 235 eventos de movimento, cuja distribuição de expressão do componente modo está apresentada na Tabela 1:

Tabela 1
Expressão de modo nos eventos de movimento no corpus

Como podemos observar na Tabela 1, no texto original em inglês cerca da metade dos eventos de movimento contém o modo de movimento, o que contrasta com quase 82% das expressões de modo na língua polonesa. Essa discrepância se deve principalmente à já mencionada quase obrigatoriedade da expressão de modo de movimento nessa língua eslava. A grande maioria das frases que, em inglês, contêm os verbos como “to go”, “to come”, “to get to” foram traduzidas com o uso do verbo “iść” (‘caminhar’), acompanhado de prefixos que costumam indicar a trajetória. Esses casos constituem 35% dos eventos de movimento na versão polonesa do texto.

Quanto à versão brasileira, observa-se a presença do modo em 40% dos eventos de movimento, o que, contrariando as expectativas, não diverge de maneira significativa do texto original em inglês. É importante lembrarmos que os dados acima consideram alguma expressão de modo de movimento, incluindo, portanto, as expressões de modo que não envolvem verbos de modo de movimento5 5 Essas expressões serão analisadas abaixo: no Gráfico 2 e no comentário que o segue. .

Para que os nossos dados possam ser comparados com os resultados de Slobin (2000)Slobin, Dan. “Verbalized events: a dynamic approach to linguistic relativity and determinism”. In: Niemeier, Susanne & Dirven, René (Orgs.). Evidence for linguistic relativity. Berlin: Mouton de Gruyter, 2000. p. 107-138. DOI: https://doi.org/10.1075/cilt.198.10slo
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, apresentamos no Gráfico 1 a porcentagem de todos os eventos de movimento que contêm Vmodo:

Gráfico 1
Porcentagem dos eventos de movimento com Vmodo

Essa vez, como esperado, o uso dos Vmodo no PB é consideravelmente mais baixo do que em inglês e em polonês, o que está em concordância com a tipologia dessas línguas. Esses dados estão muito próximos aos obtidos por Slobin (2000)Slobin, Dan. “Verbalized events: a dynamic approach to linguistic relativity and determinism”. In: Niemeier, Susanne & Dirven, René (Orgs.). Evidence for linguistic relativity. Berlin: Mouton de Gruyter, 2000. p. 107-138. DOI: https://doi.org/10.1075/cilt.198.10slo
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, em cuja análise de ficção literária 41% dos verbos no texto inglês e 19% dos verbos em espanhol eram Vmodo. A alta frequência de Vmodo em polonês se deve não somente à quase obrigatoriedade da expressão do modo nessa língua, pois mesmo retiradas as ocorrências do verbo “iść”, ela estaria ligeiramente mais alta do que em inglês (46%). Isso quer dizer que, enquanto a tradutora brasileira manteve somente a metade dos Vmodo do texto original, substituindo-os por Vtraj (exemplo 6c, abaixo), a tradutora polonesa adicionou alguns Vmodo nos trechos onde o texto original se valia de Vtraj (exemplo 7b, mais abaixo).

6.

a. Ing.: One fine day Pooh had stumped.

‘um lindo dia Pooh andou de modo pesado e barulhento.

up to the top of the Forest (…).

‘para cima até o topo da Floresta’.

b. Pol.: Pewnego pięknego poranka Puchatek przy-dreptał.

‘uma linda manhã Pooh para cá-andou com passos pequenos.

na skraj Lasu (…) (p. 96).

até a borda da Floresta’.

c. Port.: Um belo dia, Pooh foi até o alto da Floresta (...) (p. 119).

No exemplo acima, percebemos como o Vmodo inglês “to stump” (‘andar de maneira barulhenta e pesada, principalmente por estar irritado ou aborrecido’6 6 Todas as definições dos vocábulos analisados foram retiradas de: Oxford Learner’s Dictionary (2022) (inglês), Słownik języka polskiego (2022) (polonês) e Houaiss, Villar & Franco (2001) (português). ) foi substituído na tradução para o português brasileiro por um simples Vtraj “ir”, enquanto o modo de movimento foi totalmente omitido. Na versão polonesa, observamos o uso de um Vmodo, o qual, no entanto, expressa um modo diferente. O elemento do peso e do barulho que acompanha o movimento original foi substituído pela informação sobre o tamanho do passo, ausente no texto em inglês. Assim, percebemos duas estratégias diferentes ao enfrentar a dificuldade de tradução de um Vmodo de movimento ausente em ambas as línguas. No primeiro caso, ocorreu a omissão do modo, e no segundo, a sua modulação.

Essa tendência da língua polonesa de usar Vmodo está demonstrada no exemplo 7, no qual um Vtraj inglês foi traduzido para um Vmodo polonês:

7.

Ing.: So he took his largest pot of honey and escaped with it‘então ele pegou seu maior pote de mel e escapou com ele

to a broad branch of his tree.

para um largo galho da sua árvore’.

Pol.: Wziął więc największy garnek miodu, jaki miał, i w-gramolił się

‘pegou então maior pote de mel que tinha e para cima-entrou de modo desajeitado e com dificuldade

z nim na najwyższą gałąź drzewa (p. 116).

com ele até mais alto galho da árvore’.

Port.: Assim, pegou seu maior pote de mel e escapou para um galho bem largo de sua árvore (p. 144).

Embora a língua polonesa disponha de um verbo com o significado muito próximo ao “to escape” (‘sair de um lugar de onde não se podia sair ou de um lugar perigoso ou desagradável; escapar’), o verbo polonês “uciec” (‘fugir’, ‘escapar’), a tradutora decidiu adicionar o modo de movimento para descrever a fuga da enchente de um urso gordinho e desajeitado, carregando o seu maior tesouro, um enorme pote de mel, até o galho de uma árvore.

Contudo, como já mencionamos ao comentar os dados da Tabela 1, o modo de movimento pode ser lexicalizado fora do verbo principal, o que certamente foi uma das estratégias da tradutora brasileira, já que, como vimos, somente a metade dos eventos que expressam o modo de movimento na versão brasileira contém um Vmodo.

Gráfico 2
A lexicalização de modo de movimento e os elementos de superfície utilizados

Os dados apresentados no Gráfico 2 permitem a visualização de algumas tendências na lexicalização de modo no corpus da pesquisa. Com base nos dados coletados, pode-se observar que, no inglês e no polonês, os Vmodo são os elementos de superfície que expressam o modo com maior frequência. Por outro lado, a língua inglesa lexicaliza o componente modo também com o auxílio de Vtraj, acompanhado por alguma expressão modificadora, estratégia quase ausente no texto polonês e bastante comum no texto em português. Percebemos que a maioria das expressões de modo nessa última língua ocorre justamente com o uso desse tipo de construção, o que pode ter sido uma estratégia adotada pela tradutora para manter as expressões de modo de movimento presentes no texto original. As expressões modificadoras encontradas nos textos sob escrutínio englobam principalmente advérbios, gerúndios e sintagmas nominais, como pode ser visto no exemplo 8:

8.

a. Ing.: He (...) splashed across [the stream].

‘ ele chapinhou através do riacho’.

b. Pol.: Z pluskiem prze-brnąć

‘Com chape através-moveu-se com dificuldade atolado na água

w bród wodę (p. 64).

a pé pela água a água’.

c. Port.: Atravessou o riacho, chapinhando (p. 85).

Gráfico 3
Técnicas de tradução do modo de movimento

É interessante notarmos que o verbo inglês “to splash” como verbo de movimento (‘movimentar-se por um líquido fazendo com que ele se espalhe, voe pelo ar’) trouxe certas dificuldades na tradução tanto para português como para polonês. Stahel fez uso do gerúndio do verbo “chapinhar”, embora este não seja muito comum no português brasileiro. Tuwim usou um Vmodo, o qual, no entanto, foca mais a dificuldade de se movimentar pelo terreno úmido ou arenoso do que o ato de “chapinhar” a água. Talvez por isso, a tradutora tenha adicionado mais dois sintagmas nominais para reproduzir o efeito da frase original: “z pluskiem” (‘com chape’) e “w bród” (‘a pé pela água’). Vale mencionar que na língua polonesa existe um verbo “pluskać” com o significado muito próximo ao inglês “to splash”. Contudo, seu uso é restrito aos eventos não caracterizados pelo deslocamento.

Técnicas de tradução

Para compreender melhor as decisões tradutórias tomadas em vista das diferenças da saliência de modo entre as línguas envolvidas, vejamos abaixo a relação das técnicas tradutórias aplicadas pelas tradutoras referentes a esse componente semântico de movimento. A quase obrigatoriedade da indicação do modo de movimento na língua polonesa fez com que a tradutora polonesa precisasse adicionar o modo em todos os casos da tradução dos verbos ingleses “to go”, “to come” e “to get to”. Já que 30% de todos os eventos traduzidos são desse tipo e considerando que não se trata nesses casos de uma decisão, mas de uma obrigatoriedade, eles foram retirados dos dados apresentados abaixo:

Os dados apresentados no Gráfico 3 nos levam a uma conclusão surpreendente: apesar da diferença tipológica entre a língua inglesa e portuguesa, a tradutora brasileira parece ter se mostrado mais fiel aos modos de movimento contidos no texto original. Embora ela não tenha encontrado os Vmodo correspondentes para a metade dos Vmodo ingleses usados no texto (Gráfico 1), conseguiu reproduzir esse componente semântico no texto-alvo em medida nitidamente maior (44%) do que o fez a tradutora polonesa (28%). No caso dessa última, a estratégia adotada com quase a mesma frequência que a tradução do modo, foi a da modulação, já apresentada anteriormente no exemplo 6.

Assim, Tuwim substituía o andar pesado e barulhento do Ursinho-Pooh, contido no significado do verbo “to stump”, pela informação do tamanho dos seus passos pequenos (“dreptać”); o “trotar” de um animal (“to trot”) deixava espaço para um movimento devagar e difícil de andar, expresso pelo verbo polonês “łazić” e assim por diante. A estratégia de certa liberdade literária adotada pela tradutora polonesa transparece também na quantidade das adições de modo aplicados no texto polonês, quando o simples “get into” (na versão brasileira: “entrar”) torna-se um movimento acidental e brusco do “wpaść” polonês, ou quando o movimento de “fazer uma roda” (“to go round”) adquire o elemento de um passeio prazeroso no verbo polonês “przechadzać się”. Observemos ainda que o alto índice da estratégia da tradução do modo de movimento no caso do texto brasileiro está acompanhado de uma porcentagem relativamente alta dos casos da omissão do modo (12%), como se Stahel preferisse omitir certos significados em vez de modulá-los, como o fez Tuwim.

Conclusões

Os dados apresentados e analisados acima nos levam a duas conclusões principais. A primeira delas confirma a hipótese da maior frequência (Gráfico 1) de verbos que expressam modo de movimento nos textos escritos nas línguas-S. Enquanto nos textos em inglês e em polonês mais de 40% dos verbos usados nos eventos de movimento estão veiculando modo, no texto em português encontramos somente 21% desse tipo de verbos. No caso da língua polonesa, essa porcentagem chega até 80%, refletindo a quase obrigatoriedade da indicação de modo nessa língua eslava.

A segunda conclusão é de que, apesar do menor número de Vmodo no texto brasileiro, os modos de movimento expressos no texto original estão, em boa medida, reproduzidos no texto traduzido para o português. Mônica Stahel faz uso de várias expressões modificadoras, tais como gerúndios, advérbios e sintagmas nominais, para trazer a vivacidade da descrição de movimento do texto inglês para o seu texto-alvo. A quantificação das técnicas tradutórias utilizadas por ambas as tradutoras referentes a modo de movimento revelou que o texto brasileiro se mantém mais fiel, nesse aspecto, ao texto inglês, pois a técnica de tradução de modo (não necessariamente por intermédio de verbos) foi aplicada pela tradutora brasileira com a frequência muito maior do que pela tradutora polonesa. Irena Tuwim, cujo texto contém até mais expressões de modo do que o texto original, se mostrou mais livre na sua estratégia tradutória, abundante em modulações e adições de modo de movimento em comparação com o texto original.

Com isso, a nossa análise comprova a teoria de Molés-Cases (2018)Molés-Cases, Teresa. “Some advances in the study of the translation of manner of motion events: integrating key concepts of descriptive translation studies and ‘thinking for translating’”. Review of Cognitive Linguistics, 16(1), p. 152-190, 2018. DOI: https://doi.org.10.1075/rcl.00007.mol
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de que o texto traduzido é um produto tanto da direcionalidade linguística, pois os padrões de lexicalização de cada língua afetam a escrita e a tradução do texto, como das decisões dos tradutores que, mesmo condicionados pelos estilos retóricos e padrões gramaticais de suas línguas, podem adotar estratégias de maior ou menor fieldade ao texto-fonte e explorar a sua própria criatividade na expressão, entre outros, de modos de movimento.

  • 1
    Todas as traduções apresentadas no texto são nossas.
  • 2
    Os exemplos em polonês e em português referem-se sempre às traduções da obra: Milne (2019)Milne, Alan. Kubuś Puchatek. Tradução de Irena Tuwim. Warszawa: Nasza Księgarnia, 2019. e Milne (2018)Milne, Alan. Ursinho Pooh. Tradução de Monica Stahel. São Paulo: Martins Fontes, 2018., respectivamente.
  • 3
    Vejamos que no (2) isso não ocorreu e a lexicalização do componente trajetória na língua polonesa foi realizada com auxílio de várias preposições e com a adição de somente um verbo (no último trecho da trajetória).
  • 4
    São os capítulos 1-5 e 7 e 8.
  • 5
    Essas expressões serão analisadas abaixo: no Gráfico 2 e no comentário que o segue.
  • 6
    Todas as definições dos vocábulos analisados foram retiradas de: Oxford Learner’s Dictionary (2022)Oxford Learner’s Dictionaries. Oxford: Oxford University Press, 2022. Disponível em: https://www.oxfordlearnersdictionaries.com/. Acesso em 3 mar. 2023.
    https://www.oxfordlearnersdictionaries.c...
    (inglês), Słownik języka polskiego (2022)Słownik Języka Polskiego. Warszawa: Wydawnictwo Naukowe PWN, 2022. Disponível em: https://sjp.pwn.pl/. Acesso em 3 mar. 2023.
    https://sjp.pwn.pl/...
    (polonês) e Houaiss, Villar & Franco (2001)Houaiss, Antônio; Villar, Mauro & Franco, Francisco. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2001. (português).

Referências

  • Hickmann, Maya; Hendriks, Henriette; Soroli, Efstathia; Iakovleva, Tatina & Ji, Yinglin. “Space and language typology: encoding motion across languages”. 2012. Disponível em: https://citeseerx.ist.psu.edu/document?repid=rep1&type=pdf&doi=1aed534b9259057cfb95e460187fc412ff4257ec. Acesso em 3 mar. 2023.
    » https://citeseerx.ist.psu.edu/document?repid=rep1&type=pdf&doi=1aed534b9259057cfb95e460187fc412ff4257ec
  • Houaiss, Antônio; Villar, Mauro & Franco, Francisco. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2001.
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Nov 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    24 Set 2022
  • Aceito
    07 Fev 2023
  • Publicado
    Mar 2023
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