Este artigo discute algumas convergências e desencontros entre governo e sociedade civil na abordagem de gênero de projetos comunitários de enfrentamento do HIV/AIDS em Moçambique. Baseia-se em material de pesquisa avaliativa realizada no país em 2006, incluindo 160 dos 1.124 projetos de organizações não governamentais desenvolvidos com apoio do Conselho Nacional de Combate ao SIDA (CNCS). A análise dos projetos e de documentos oficiais mostra que para o CNCS o termo gênero aparece destacando a dinâmica de epidemia em relação às mulheres. Nos projetos comunitários a abordagem de gênero muitas vezes será traduzida em ações de mitigação dos impactos econômicos da epidemia sobre viúvas. Atividades voltadas para a população masculina e para a população em geral pouco abordam as relações de poder entre homens e mulheres e suas conseqüências para a epidemia. Isto sugere que a transferência de tecnologias de análise e intervenção sobre a epidemia do HIV de países do ocidente para as demais regiões do planeta exige um cuidadoso trabalho de tradução e adaptação aos padrões culturais locais.
Síndrome de Imunodeficiência Adquirida; Doenças Sexualmente Transmissíveis; Gênero; África