O artigo apresenta os resultados de uma pesquisa, desenvolvida entre 2016 e 2018, sobre as experiências de adolescentes que decidiram interromper a sua gravidez nas unidades de saúde para aborto legal em Montevidéu (Uruguai). Tinha como objetivo principal analisar o processo de tomada de decisão e o acesso ao aborto legal, do ponto de vista das próprias adolescentes. Isso envolvia avaliar as circunstancias, motivações e personagens que influenciaram a tomada de decisão e a forma como se deu no sistema de saúde. Foi construído um estudo transversal do tipo exploratório e descritivo baseado numa metodologia qualitativa. A técnica principal utilizada para a coleta de informação era a entrevista semiestruturada; foram entrevistadas 14 adolescentes entre 17 e 19 anos de idade, que tinham interrompido voluntariamente uma gravidez no sistema público de saúde. Os motivos para abortar refletem o peso das razões socialmente aceitas, incorporadas como motivos próprios. Observou-se que a mãe desempenha um papel relevante, como referente na decisão. As adolescentes afirmaram ter tomado a decisão de abortar antes de se dirigir à unidade de saúde. Destaca-se o papel positivo da existência de um marco legal que habilita serviços de aborto voluntário. Os resultados contribuem para o entendimento dos processos vivenciados pelas adolescentes diante de uma decisão vital difícil, o papel da família, em especial da figura materna, o lugar ocupado pelo marco legal na tomada da decisão, o peso do estigma e da sanção moral, além das expectativas sobre o atendimento nas unidades de saúde.
Palavras-chave:
Adolescência; Aborto; Tomada de Decisões; Serviços de Saúde