O estado nutricional tem evoluído em duas direções no mundo: o baixo peso se tornou uma questão menor ou local, enquanto o sobrepeso ou obesidade passou a ter papel preponderante na carga global de doença. Em 2014, o Brasil ocupou terceiro lugar no mundo em número absoluto de homens obesos. O estudo teve como objetivo estimar as tendências nas taxas de baixo peso e obesidade entre adultos brasileiros, tendo como base um conjunto abrangente de inquéritos entre 1974 e 2019. Os dados utilizados no estudo se referem a indivíduos com 18 anos ou mais em seis pesquisas nacionais, apresentadas em ordem cronológica: Estudo Nacional de Despesa Familiar (ENDEF 1974-1975); Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN 1989); Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2002-2003, 2008-2009) e Pesquisa Nacional de Saúde (PNS 2013 e 2019). Todos os 6 inquéritos foram desenhados para obter amostras de complexos de domicílios que fossem representativas da população brasileira. O ídice de massa corporal foi calculado (kg/m2). O estado nutricional dos indivíduos foi classificado de acordo com as normas da Organização Mundial da Saúde. Modelamos a tendência da obesidade de acordo com as faixas de renda e escolaridade. As trajetórias de baixo peso e obesidade no Brasil ao longo do tempo mostram a forma clássica em “X” da transição nutricional. Entre 1975 e 2019, a taxa de baixo peso diminuiu de 9,1% para 2,5% entre homens e de 12,2% para 3,4% entre mulheres. Inversamente, as trajetórias da obesidade aumentaram de 3% para 22% entre homens e de 9% para 30% entre mulheres. O incremento na obesidade está relacionado diretamente e de maneira negativamente proporcional aos quintis de renda. A melhoria sociodemográfica (de renda e escolaridade) está associada ao aumento da obesidade. Todas as políticas públicas para interromper a expansão da obesidade no Brasil têm sido ineficazes, ou pequenas demais para ser eficazes.
Palavras-chave:
Transição Nutricional; Obesidade; Desnutrição