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Securitizando a COVID- 19? A política de saúde global e os limites da Escola de Copenhagen

Resumo

A pandemia de COVID-19 tem gerado controvérsias em torno das políticas de saúde adotadas em diferentes países. A necessidade de controlar a propagação do vírus tem sido usada como justificativa para medidas de restrição da mobilidade e para largos investimentos em dispositivos de vigilância, o que pode abrir espaço para formas não democráticas de governo. Nesse contexto, a Escola de Copenhague tem oferecido o instrumental teórico que informa muitas das análises nos campos de estudos críticos de segurança e saúde global. Segundo esta perspectiva, a securitização da COVID-19 agiliza as respostas à crise, mas guarda caráter discriminatório, contribuindo ainda para o avanço de políticas autoritárias potencialmente duradouras. Neste artigo, exploramos os debates recentes em torno das políticas de contenção da pandemia para abordar os limites políticos e analíticos da teoria da securitização. Por um lado, demonstramos que o foco em momentos de ruptura e políticas de exceção negligencia práticas de segurança que se desenvolvem no dia a dia das disputas institucionais e na construção de conhecimento especializado sobre saúde pública. Por outro, apontamos que a proposta da Escola de Copenhague impede uma genealogia dos aparatos modernos de segurança e ignora formas violentas de governo que não se manifestam em grandes atos disruptivos, mas na rotina de sociedades desiguais. Sugerimos, por fim, que a análise das disputas burocráticas e controvérsias científicas que constituem os conhecimentos e práticas dos campos de segurança e saúde permite que abordagens críticas se engajem com os múltiplos e, por vezes, mundanos processos pelos quais a (in)segurança é produzida, disseminada e contestada.

Palavras-chave
securitização; Escola de Copenhague; política cotidiana; segurança sanitária; sociologia política internacional; estudos críticos de segurança; pandemias.

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