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Silêncio organizacional: introdução e crítica

Organizational Silence: introduction and critique

Resumo:

Com as mudanças ocorridas a partir dos anos 1970, as organizações passaram a requerer maior participação de seus trabalhadores nos processos de trabalho. A comunicação franca e aberta torna-se vital nesse cenário. O silêncio organizacional (MORRISON e MILLIKEN, 2000MORRISON, E. W; MILLIKEN, F. J.Organizational silence: a barrier to change and development in a pluralistic world. Academy of Management Review, v. 25, n. 4, p. 706-25, 2000.) e o silêncio dos empregados (PINDER e HARLOS, 2001PINDER, C. C.; HARLOS, K. P. Employee silence: quiescence and acquiescence as responses to perceived injustice. Research in Personnel and Human Resource Management v. 20, p. 331-69, 2001.) passam a ser estudados com mais profundidade para se compreender os comportamentos que levam os empregados a se valerem da voz, via relato (speaking up), ou permanecerem em silêncio. Desde os anos 2000, o silêncio tem ganhado interesse crescente de pesquisa (BRINSFIELD, EDWARDS e GREENBERG, 2009BRINSFIELD, C. T.; EDWARDS, M. S.; GREENBERG, J. Voice and Silence in Organizations: historical review and current conceptualizations. In:; GREENBERG, J. EDWARDS, M. S. (Eds.). Voice and Silence in Organizations. Bingley, UK: Emerald Group Publishing Ltd., 2009, 3-33 p.), sendo que, neste ensaio, o objetivo é apresentar e inserir o silêncio organizacional na agenda de pesquisa sobre Comportamento Organizacional no Brasil. Para tanto, apresentamos o que a literatura estrangeira trata como motivos que levam os empregados a permanecerem em silêncio e quais as consequências desse silêncio tanto para eles quanto para a organização. Acreditamos, contudo, que há limitações nas reflexões desenvolvidas. Para não incorrermos em uma importação domesticada de saberes, apresentamos algumas reflexões, ainda incipientes sobre o tema, a partir de debates desenvolvidos por estudiosos brasileiros (especialmente, TRAGTENBERG, 1971TRAGTENBERG, M. A Teoria Geral da Administração é uma Ideologia?, Revista de Administração de Empresas São Paulo, v. 11, n. 4, p. 7-21, 1971.; 2005TRAGTENBERG, M. Administração, Poder e Ideologia. São Paulo: Editora Unesp, 2005.; PRESTES MOTTA, 1981PRESTES MOTTA, F. C. O poder disciplinar nas organizações formais., Revista de Administração de Empresas São Paulo, v. 21, n. 4, p. 33-41, out./dez. 1981.; PAES DE PAULA, 2002PAES DE PAULA, A. P. Tragtenberg revisitado: as inexoráveis harmonias administrativas e a burocracia flexível. Rev. Adm. Pública, Rio de Janeiro, v. 36, n. 1, p. 127-44, jan./fev. 2002.; FARIA e MENEGHETTI, 2011FARIA, J. H.; MENEGHETTI, F. K. Burocracia como organização, poder e controle., Revista de Administração de Empresas São Paulo, v. 51, n. 5, p. 424-39, set./out. 2011.) sobre o caráter ideológico e, portanto, opressor dos conhecimentos produzidos nas ciências administrativas. Criticamos, assim, alguns dos pressupostos da teoria sobre o silêncio organizacional, chamando atenção para a própria organização como fomentadora do silêncio e das consequências que dele podem surgir.

Palavra-chave:
abordagem crítica; silêncio organizacional; silêncio dos empregados.

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