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Editorial

Editorial

Iniciamos neste número a inserção de Editoriais redigidos por membros da comunidade científica, tecnológica e industrial que atuam na área de Cerâmica.

O Editor

Imaginar e poder criar

Nunca estivemos tão perto da previsão que a indústria do futuro, além dos computadores e impressoras, terá uma pessoa e um cão. A pessoa para alimentar o cão e este para não deixar a pessoa tocar nas telas de comando. Vivemos momentos de grandes e rápidas mudanças onde as principais quebras de paradigmas ocorrerão na área de materiais e no processo produtivo via impressão 3D. O impacto destas duas áreas será tão grande que a revista inglesa "The Economist" afirmou em reportagem recente que elas serão responsáveis pela Terceira Revolução Industrial. O diferencial de mão de obra barata vai acabar e os processos de manufatura voltarão para os países ricos devido à necessidade de pessoas especializadas para usar os novos métodos de produção via softwares inteligentes. Os países emergentes que não aproveitaram os anos de bonança investindo eficazmente em educação e infraestrutura vão perder seus mercados produtivos para os países ricos nas poucas áreas onde ainda eram competitivos. A necessidade de associar a ciência dos materiais com a tecnologia de produção é uma tendência clara e inevitável neste novo cenário da engenharia de sistemas complexos, onde o projeto, a seleção de materiais e a fabricação são feitos em escala pequena e flexível. A nova geração de materiais será simulada em computadores (estrutura, propriedades e design), minimizando o custo experimental e o tempo, e fabricados em impressoras 3D como produtos taylor-made (adequados aos requisitos dos clientes). Isto já está acontecendo na área de biomateriais na produção de próteses e aparelhos auditivos. Mimetizar a natureza e aprimorá-la será uma constante na área de materiais. Em breve com a tecnologia 3D pode-remos imprimir partes sobressalentes dos carros, portanto sem a necessidade de manutenção de estoques, sem tempo de espera e quem sabe produzidas na nossa própria residência, comprando a permissão para uso do file que contem o código fonte do software. Assim como a informática criou o escritório móvel, a tecnologia 3D levará a "home production". Se você acha que estou falando de um futuro distante, veja esta realidade atual: A empresa inglesa 3TRPD (www.3trpd.co.uk) já esta oferecendo uma caixa de câmbio para carros de corrida feita por impressão 3D. Ela é 30% mais leve e devido aos contornos do produto ser bem melhor definidos (cantos arredondados) que os usinados (cantos vivos), o óleo de lubrificação flui mais eficientemente. O produto é mais leve, pois pode ser fabricado sem o uso de flanges, junções, rebites, soldas e principalmente sem sobras de material. Não haverá mais peças ou componentes que sairão de produção, desde que o computador e a impressora possam ler um determinado file. Isto também terá um forte impacto no que consideraremos novo e antigo, pois o valor será atribuído ao original, visto que cópias fiéis serão algo comum.

A indústria em breve será principalmente liderada pelos pequenos empreendedores, entu-siastas, do-it-yourself, inventores e pesquisadores, em suas home factories usando o conhecimento via crowd-sourcing e crowd-funding. Uma nova empresa Quirky (www.quirky.com), guarde este nome, permite que uma pessoa submeta sua ideia on-line. Sendo a proposta interessante, um protótipo é impresso, a comunidade virtual opina sobre o design, produção e aplicação, e quem quiser pode investir recursos neste projeto. A Quirky cuida da patente, arranja a distribuição e venda, e partilha 30% dos lucros proporcionalmente à participação de cada um. Isto já é conhecido como "produção social". Veremos ainda algumas produções no sistema "light out", isto é, impressoras e robôs trabalhando 24 horas por dia em um ambiente que não precisará nem de luzes acesas. Felizmente, por enqua nto, serão necessárias pessoas para a parte de montagem, projeto e para preparar os softwares mais complexos, pois para os mais simples já existem softwares específicos para isto. Ah, estava me esquecendo....também precisaremos das pessoas para alimentar o cachorro (se ele não for eletrônico)!!

Victor Carlos Pandolfell

Professor Titular do Departamento de Engenharia de Materiais da Universidade Federal de S. Carlos, SP, Brasil

Membro Titular da Academia Brasileira de Ciências e da World Academy of Ceramics

Coordenador do Laboratório ALCOA, UFSCar, S. Carlos, SP, Brasil

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Out 2012
  • Data do Fascículo
    Set 2012
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