Autopercepção do paciente com doença pulmonar obstrutiva crônica sobre seu desempenho ocupacional em tempo de pandemia de COVID-19

Vasconcelos, Roberta Fontenele de; Frota, Marília Ximenes Freitas; Albuquerque, Valéria Barroso de; Munguba, Marilene Calderaro da Silva

doi:10.1590/2526-8910.ctoAO22612983

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Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional

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Sumário

Artigo Original • Cad. Bras. Ter. Ocup. 30 • 2022 • https://doi.org/10.1590/2526-8910.ctoAO22612983 copiar

Autopercepção do paciente com doença pulmonar obstrutiva crônica sobre seu desempenho ocupacional em tempo de pandemia de COVID-19¹ 1 Pesquisa integrante do trabalho de conclusão da Residência Integrada em Saúde da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP-CE) do componente hospitalar e ênfase em Cardiopneumologia. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Dr. Carlos Alberto Studart Gomes sob parecer de nº3.927.816 e CAAE nº 29585520.6.0000.5039. Todos os pacientes expressaram seu consentimento em participar da pesquisa.

Autoria SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

Resumo

Introdução

A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é caracterizada pela limitação progressiva do fluxo aéreo. Os pacientes também desenvolvem manifestações sistêmicas que determinam o declínio progressivo da capacidade funcional.

Objetivo

Conhecer a autopercepção do paciente com DPOC sobre seu desempenho ocupacional destacando a influência da pandemia de COVID-19 no seu cotidiano.

Método

Pesquisa de natureza descritiva e abordagem qualitativa, tendo como técnica a análise de conteúdo na modalidade temática. A amostra foi constituída de nove pacientes com DPOC atendidos no programa de manutenção pós-reabilitação pulmonar em hospital de referência de saúde em cardiopneumologia. A coleta dos dados ocorreu de junho a agosto de 2020, mediante roteiro de entrevista semiestruturada, por meio de chamadas telefônicas. As entrevistas gravadas foram transcritas e submetidas à análise do conteúdo, por meio da análise temática.

Resultados

As ocupações cotidianas percebidas com dificuldade de serem realizadas em decorrência da DPOC foram sono, trabalho, participação social, lazer, além de Atividades de Vida Diária (AVD) – mobilidade funcional, banho, higiene pessoal, vestir e atividade sexual – e Atividades Instrumentais da Vida Diária (AIVD) – gerenciamento do lar e fazer compras. As ocupações limitadas pela DPOC foram ainda mais impactadas pelas medidas restritivas causadas pela COVID-19.

Conclusão

Com base na compreensão das dificuldades do paciente com DPOC em realizar suas ocupações, foi possível conhecer o quanto a DPOC repercute no desempenho ocupacional e interfere nas mais diversas ocupações que trazem significado e propósito à vida. A pandemia de COVID-19 limitou ainda mais o envolvimento do paciente com DPOC nas suas ocupações significativas.

Palavras-chave:
Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica; Atividades Cotidianas; COVID-19; Terapia Ocupacional

Atividades de Vida Diária (AVD)	Contexto das Unidades de Significado
Mobilidade funcional	“Ao andar, eu canso ” (P1)
	“Sinto dificuldade de subir escada ” (P4)
	“Subir e descer escada é um problema” (P6)
	“Subir a escada é um sufoco” (P7)
	“Não consigo caminhar carregando sacola” (P9)
Banho	“Sinto dificuldade de levantar os braços para lavar os cabelos e baixar para passar a escovinha nos pés” (P1)
	“Vou tomar banho e canso” (P2)
	“A água do chuveiro cai na minha cabeça e fico com falta de ar; canso quando faço um banho mais demorado” (P5)
	“No banho, eu canso” (P6)
	“Termino o banho já cansada” (P7)
	“Banho só com o cateter nasal” (P8)
	“Termino de tomar banho cansada” (P9)
Higiene Pessoal	“Gostava muito de cuidar das minhas unhas, usar o alicate; não consigo abaixar para poder fazer; quem fazia era eu” (P1)
	“Não consigo pentear o cabelo, mas, com o aparelho (cateter nasal), eu faço” (P8)
	“Lavar o cabelo eu canso” (P10)
Vestir-se	“Se baixar para me calçar, canso” (P2)
	“Sinto dificuldade de abotoar o sutiã. ” (P3)
	“Me sinto cansada ao vestir a roupa, com falta de ar” (P5)
	“Vestir roupa apertada eu fico cansada, abotoar um sutiã” (P9)
	“Calçar o sapato cansa. (P10)
Atividade sexual	“Mudou drasticamente a minha vida conjugal; a parte da relação sexual é muito difícil para mim. ” (P3)
	“Namorar é devagarinho; tem que ser com calma” (P7)
	“O marido também tem as limitações dele; aí dá certo. ” (P9)

Atividades Instrumentais de Vida Diária (AIVDs)	Contexto das Unidades de Significado
Estabelecimento e gerenciamento do lar	“Não varro mais a casa” (P1)
	“Dificuldade em estender a roupa” (P3)
	“Dificuldade de varrer casa” (P6)
	“Lavo na mão uma peça pequena” (P7)
	“Não lavo roupa; varrer a casa, tem que tirar tudo do meio” (P8)
	“Tenho dificuldade de varrer, passar o pano” (P9)
Fazer compras	“Não faço mais compra sozinha” (P5)
Fazer compras	“Nunca vou sozinha fazer compra; não consigo empurrar o carrinho’ (P7)

Outras Ocupações	Contexto das Unidades de Significado
Sono	“A tosse me acorda e demoro a dormir” (P5)
Sono	“Não durmo bem, me sinto sufocar” (P7)
Participação social	“Não vou mais para meu grupo da igreja; não consigo ajudar nas funções” (P6)
Participação social	“Depois que comecei a usar o oxigênio, não saio mais de ônibus, quase não saio para casa dos familiares” (P8)
Trabalho	“Antes vendia produtos para ajudar nas contas de casa; nem isso agora consigo fazer” (P1)
	“Adoeci e me aposentei” (P2)
	“Aposentada devido à DPOC, trabalhava em uma confecção; não tinha como continuar” (P5)
Lazer	“Não vou na praia, nada eu vou” (P1)
	“Tenho dificuldade de passear, fico cansando, faltando o ar, fica querendo faltar o ar na gente, faltando o fôlego” (P2)
	“Não tenho uma vida social” (P3)
	“Deixei de me divertir, não danço mais” (P5)

Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Terapia Ocupacional Rodovia Washington Luis, Km 235, Caixa Postal 676, CEP: , 13565-905, São Carlos, SP - Brasil, Tel.: 55-16-3361-8749 - São Carlos - SP - Brazil
E-mail: cadto@ufscar.br

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[1] Contribuição dos Autores

Roberta Fontenele de Vasconcelos: Coleta, organização, transcrição e análise das entrevistas. Marília Ximenes Freitas Frota: Orientação e revisão textual. Valéria Barroso de Albuquerque: Revisão crítica final. Marilene Calderaro da Silva Munguba: Revisão crítica final. Todos os autores aprovaram a versão final do texto.