As espécies Brasileiras do gênero Axonopus (Gramineae)

Dedecca, D. M.

doi:10.1590/S0006-87051956000100019

Resumos

O gênero Axonopus faz-se merecedor de estudos intensivos por duas razões: primeiramente, pelo importante papel que pode desempenhar na agronomia, dado o grande valor forrageiro de muitas das suas espécies e, em segundo lugar, pelo fato de apresentar, até os dias atuais, uma taxonomía extremamente confusa. Na verdade, devido às várias interpretações e conceitos que diversos autores lhe emprestaram, o gênero Axonopus, reunindo espécies de afinidades discutidas apresenta-se taxonómicamente mal definido, fazendo-se necessários urgentes estudos, não só morfológicos, como também anatômicos e citológicos das suas diversas espécies, visando ao esclarecimentos das suas afinidades. No presente trabalho são estudadas detalhadamente, do ponto de vista morfológico, 38 espécies brasileiras, distribuidas nas mesmas três seções já estabelecidas por Chase, em 1911, a saber: 1) Seção Euaxonopus, compreendendo 28 espécies; 2) Seção Cabrera, com oito espécies e 3) Seção Lappagopsis, com duas espécies. Além dessas, breves referências são feitas a outras seis espécies; assinaladas para a flora brasileira e que não puderam ser estudadas por motivos diversos. Quatro novas combinações são aqui propostas, representando transferências de espéeies do gênero Paspalum L. para Axonopus Beauv., a saber: Axonopus conplanatus (Nees) nov. cob., A. polydactylus (Steudel) nov. comb., A. ulei (Häckel) nov. comb. e A. triglochinoides (Mez) nov. comb., baseadas respectivamente em Paspalum complanatum Nees, P. polydactylon Steudel, P. ulei Häckel e P. triglochinoides Mez. Completam o trabalho chaves artificiais para a classificação das seções e das espécies, descrições destas últimas, sua distribuição geográfica, ilustrações das espécies e uma relação dos binômios válidos e seus sinônimos à luz dos conhecimentos atuais.

The genus Axonopits, created by Palisot de Boauvois in 1812, is nearly confined to the tropical and subtropical regions of America, its species, being particularly numerous in Brazil. The taxonomic status of the genus has been a matter of continuous controversy, some authors refusing to accept its validity and prefering to consider it as a simple section of the genus Paspalwm. Nevertheless, the majority of modern agrostologists do recognize Axonopu.s as a real genus, adopting the generic concept, proposed by Chase in 1811, who established once for all the foundations of the genus. In so doing, Chase conside?ed as capital generic characteristics for Axonopus the reversed and solitary spikelets (in which the first glume is wanting), and the racemes aggregated at the summit of the culm. Adopting this same concept as to the validity of the genus, the author presents in this paper a detailed morphological study of 38 Brazilian species, distributed in the same three sections established previously by Chase, namely: 1) Section Enaxonopus (28 species), 2) Section Cabrera (8 species), and 3) Section Lappagopsis (2 especies). Brief references are also made of six other species reported for Brazil, hut which on account of the author's lack of botanical material and general informations, could not he studied in details. Besides giving a morphological account of the species and their distribution in Brazil, the author provides also keys for the classification, of the sections and species; finally he studies the enormous synonymy that has been developed around the genus Axonopus, listing the valid binomies and their synonyms in a final chapter. Four new combinations are herein proposed, representing species formely included in the genus Paspalum. These are: Axonopus complanatus (Neos) nov. comb., A. polydactylus (Steud.) nov. comb., A. ulei (Häck.) nov. comb, and A. triglochinoides (Mez) nov. comb, which are based upon Paspalum complanatum Nees, P. polydactylon Steudel, P. ulei Häck., and P. triglochinoides Mez, respectively.

As espécies Brasileiras do gênero Axonopus (Gramineae)(^* (* ) Trabalho apresentado ao II Congresso Pan-americano de Agronomia, realizado em Piracicaba e S. Pedro, Estado de São Paulo, de 29 de abril a 6: de maio de 1954. )

The Brazilian species of Axonopus (Gramineae)

D. M. Dedecca

Engenheiro-agrônomo, Seção de Botânica, Instituto Agronômico

RESUMO

O gênero Axonopus faz-se merecedor de estudos intensivos por duas razões: primeiramente, pelo importante papel que pode desempenhar na agronomia, dado o grande valor forrageiro de muitas das suas espécies e, em segundo lugar, pelo fato de apresentar, até os dias atuais, uma taxonomía extremamente confusa. Na verdade, devido às várias interpretações e conceitos que diversos autores lhe emprestaram, o gênero Axonopus, reunindo espécies de afinidades discutidas apresenta-se taxonómicamente mal definido, fazendo-se necessários urgentes estudos, não só morfológicos, como também anatômicos e citológicos das suas diversas espécies, visando ao esclarecimentos das suas afinidades.

No presente trabalho são estudadas detalhadamente, do ponto de vista morfológico, 38 espécies brasileiras, distribuidas nas mesmas três seções já estabelecidas por Chase, em 1911, a saber: 1) Seção Euaxonopus, compreendendo 28 espécies; 2) Seção Cabrera, com oito espécies e 3) Seção Lappagopsis, com duas espécies.

Além dessas, breves referências são feitas a outras seis espécies; assinaladas para a flora brasileira e que não puderam ser estudadas por motivos diversos.

Quatro novas combinações são aqui propostas, representando transferências de espéeies do gênero Paspalum L. para Axonopus Beauv., a saber:

Axonopus conplanatus (Nees) nov. cob., A. polydactylus (Steudel) nov. comb., A. ulei (Häckel) nov. comb. e A. triglochinoides (Mez) nov. comb., baseadas respectivamente em Paspalum complanatum Nees, P. polydactylon Steudel, P. ulei Häckel e P. triglochinoides Mez.

Completam o trabalho chaves artificiais para a classificação das seções e das espécies, descrições destas últimas, sua distribuição geográfica, ilustrações das espécies e uma relação dos binômios válidos e seus sinônimos à luz dos conhecimentos atuais.

SUMMARY

The genus Axonopits, created by Palisot de Boauvois in 1812, is nearly confined to the tropical and subtropical regions of America, its species, being particularly numerous in Brazil. The taxonomic status of the genus has been a matter of continuous controversy, some authors refusing to accept its validity and prefering to consider it as a simple section of the genus Paspalwm. Nevertheless, the majority of modern agrostologists do recognize Axonopu.s as a real genus, adopting the generic concept, proposed by Chase in 1811, who established once for all the foundations of the genus. In so doing, Chase conside?ed as capital generic characteristics for Axonopus the reversed and solitary spikelets (in which the first glume is wanting), and the racemes aggregated at the summit of the culm. Adopting this same concept as to the validity of the genus, the author presents in this paper a detailed morphological study of 38 Brazilian species, distributed in the same three sections established previously by Chase, namely: 1) Section Enaxonopus (28 species), 2) Section Cabrera (8 species), and 3) Section Lappagopsis (2 especies). Brief references are also made of six other species reported for Brazil, hut which on account of the author's lack of botanical material and general informations, could not he studied in details.

Besides giving a morphological account of the species and their distribution in Brazil, the author provides also keys for the classification, of the sections and species; finally he studies the enormous synonymy that has been developed around the genus Axonopus, listing the valid binomies and their synonyms in a final chapter. Four new combinations are herein proposed, representing species formely included in the genus Paspalum. These are: Axonopus complanatus (Neos) nov. comb., A. polydactylus (Steud.) nov. comb., A. ulei (Häck.) nov. comb, and A. triglochinoides (Mez) nov. comb, which are based upon Paspalum complanatum Nees, P. polydactylon Steudel, P. ulei Häck., and P. triglochinoides Mez, respectively.

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LITERATURA CITADA

Recebido para publicação em 24 de agosto de 1955.

O autor agradece aos diretores e curadores dos herbários do Instituto de Botânica de S. Paulo, Jardim Botânico do Rio de Janeiro, "Barbosa Rodrigues" de Itajaí, S. Catarina, Instituto Agronômico do Norte, Belém, Pará, Departamento de Botânica da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de S. Paulo, Instituto Agronômico de Belo Horizonte, Seção de Agrostologia e Alimentação dos Animais, Seropédica, Rio de Janeiro, aos Senhores D. Bento Pickel e Eng.° Agr.° J. H. Hunziker, pelo empréstimo e doações de material para estudo. Agradece também ao Prof. L. R. Parodi, da Faculdade de Agronomia e Veterinária de Buenos Aires, Dr. J. R. Swallen e Dra. A. Chase, do Herbário Nacional de Washington, D. C, U. S. A., Dr. George Black e Dr. João Murça Pires do Instituto Agronômico do Norte, pela ajuda na identificação de plantas e no fornecimento de diagnoses de algumas espécies. Finalmente agradece a colaboração prestada pela desenhista Zorah de Mello, na confecção dos desenhos.

1. BEAUVOIS, A. M. F. J. PALISOT DE. Essai d'une nouvelle agrostographie ou nouveaux genres de Graminées. Paris, tip. Fain., 1812. p. 12 e 154.
2. BENTHAM, G. & HOOKER, J. D. Genera Plantarum. III. Londres, Reeve & Co., 1883. p. 1098.
3. BLACK, G. A. Novas espécies de Paniceae (Gramineae) no Brasil. Bol. Técn. I. A. N. 4(20) :34-35. 1950.
4. BROWN, W. V. A cytological study in the Gramineae. Amer. J. Bot. 35:368-387. 1948.
5. BURTON, G. W. A cytological study of some species in the tribe Paniceae. Amer. J. Bot. 29:355-359. 1942.
6. CHASE, A. The North American species of Paspalum. Contr. U. S. nat. Herb. 28:5-7. 1928.
7. ________ Notes on genera of Paniceae. IV. Proc. biol. Soc. Wash. 24:129-136. 1911.
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12. HITCHCOCK, A. S. Types of american grasses. Contr. U. S. nat. Herb. 12:141. 1908.
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15. JANAKI-AMMAL, E. K. In Darlington, C. D. & Janaki-Ammal, E. K., Chromosome Atlas of Cultivated Plants. Londres, George Allen & Unwin Ltd., 1945. p. 322.
16. KUHLMANN, J. G. Gramíneas. Rio de J., Comm. Linh. Teleg. M. Grosso Amaz., 1922. 95 p. (publicação n.° 67)
17. LANJOUW, J. & STAFLEU, F. A Index Herbariorum. I. The herbaria of the world. 2nd Ed. Utrecht, International Association of Plant Taxonomy, 1954. p. 131-144.
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19. NEES ab ESENBECK, C. G. Agrostologia Brasiliensis. Stuttgart, J. G. Cottae. 1829. p. 18-83.
20. PARODI, L. R. Gramíneas austroamericanas nuevas o críticas. Not. Mus. La Plata, 3 (Bot. 17) : [15]-33. 1938.
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24. STAPF, O. In Dyer, R. A., Flora capensis. VIL Londres, 1898. p. 418.
25. SWALLEN, J. R In Macguire, B. Plant explorations in 1944, chiefly to the Tafelberg and the Kaieteur plateau. Bull. Torrey bot. CI. 75(1) -.82-83 1948.

(*

) Trabalho apresentado ao II Congresso Pan-americano de Agronomia, realizado em Piracicaba e S. Pedro, Estado de São Paulo, de 29 de abril a 6: de maio de 1954.

Datas de Publicação

Publicação nesta coleção
24 Maio 2010
Data do Fascículo
1956

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[1] 1. BEAUVOIS, A. M. F. J. PALISOT DE. Essai d'une nouvelle agrostographie ou nouveaux genres de Graminées. Paris, tip. Fain., 1812. p. 12 e 154.

[2] 2. BENTHAM, G. & HOOKER, J. D. Genera Plantarum. III. Londres, Reeve & Co., 1883. p. 1098.

[3] 3. BLACK, G. A. Novas espécies de Paniceae (Gramineae) no Brasil. Bol. Técn. I. A. N. 4(20) :34-35. 1950.

[4] 4. BROWN, W. V. A cytological study in the Gramineae. Amer. J. Bot. 35:368-387. 1948.

[5] 5. BURTON, G. W. A cytological study of some species in the tribe Paniceae. Amer. J. Bot. 29:355-359. 1942.

[6] 6. CHASE, A. The North American species of Paspalum. Contr. U. S. nat. Herb. 28:5-7. 1928.

[7] 7. ________ Notes on genera of Paniceae. IV. Proc. biol. Soc. Wash. 24:129-136. 1911.

[8] 8. DEDECCA, D. M. Estudos citológicos no gênero Axonopus. [Em preparo]

[9] 9. DOELL, J. C. In Von Martius, C. F. P., Flora Brasiliensis. II (2). Gramineae. Leipzig, Frid. Fleischer, 1871-1877. p. 35.

[10] 10. HÀCKEL, E. In Engler, A. & Prantl, K., Die nat. Pflanzenfam. 2(2). Leipzig, Wilhelm Engelmann, 1887. p. 35.

[11] 11. HENRARD, J. T. Two new grasses from Paraguay. Meded. Herb. Leid. 47:1-4. 1922.

[12] 12. HITCHCOCK, A. S. Types of american grasses. Contr. U. S. nat. Herb. 12:141. 1908.

[13] 13. ________ Types of American grasses. Contr. U. S. nat. Herb. 12:207. 1909.

[14] 14. HOOKER, J. D. Flora of British India. VII. Londres, W. Pamplin, 1896. p. 64.

[15] 15. JANAKI-AMMAL, E. K. In Darlington, C. D. & Janaki-Ammal, E. K., Chromosome Atlas of Cultivated Plants. Londres, George Allen & Unwin Ltd., 1945. p. 322.

[16] 16. KUHLMANN, J. G. Gramíneas. Rio de J., Comm. Linh. Teleg. M. Grosso Amaz., 1922. 95 p. (publicação n.° 67)

[17] 17. LANJOUW, J. & STAFLEU, F. A Index Herbariorum. I. The herbaria of the world. 2nd Ed. Utrecht, International Association of Plant Taxonomy, 1954. p. 131-144.

[18] 18. MEZ, C. C. Generis Paspali species novae. In Fedde, R., Rep. Sp. Nov. 15:60-66. 1917.

[19] 19. NEES ab ESENBECK, C. G. Agrostologia Brasiliensis. Stuttgart, J. G. Cottae. 1829. p. 18-83.

[20] 20. PARODI, L. R. Gramíneas austroamericanas nuevas o críticas. Not. Mus. La Plata, 3 (Bot. 17) : [15]-33. 1938.

[21] 21. PILGER, R. In Engler, A. & Prantl, K., Die nat. Pflanzenfam. 14(2). Leipzig. Wilhelm Engelmann, 1940. p. 53-55.

[22] 22. ROEMER, J. J. & SCHULTES, J. A. Systema Vegetabilium. II. Stuttgart. J. G. Cottae. 1817. p. 2.

[23] 23. SCHLECHTEND AL, D. F. L. In Chase, A. Notes on genera of Paniceae. IV Proc. biol. Soc. Wash. 24:130. 1911.

[24] 24. STAPF, O. In Dyer, R. A., Flora capensis. VIL Londres, 1898. p. 418.

[25] 25. SWALLEN, J. R In Macguire, B. Plant explorations in 1944, chiefly to the Tafelberg and the Kaieteur plateau. Bull. Torrey bot. CI. 75(1) -.82-83 1948.

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