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Efeitos dos períodos de competição do mato na cultura do amendoim: II. Safra das águas

Effects of weed competition periods on peanut: II. Wet season crop

Resumos

O presente trabalho foi realizado na safra das águas de 1989, no Núcleo de Agronomia da Alta Paulista, em Adamantina (SP) para estudar o efeito de diferentes períodos de competição do mato no amendoim. Adotou-se o delineamento estatístico de blocos ao acaso, com quatro repetições e 22 tratamentos. Os tratamentos resultaram da combinação da presença e da ausência do mato a partir do início da cultura, com as seguintes épocas de remoção da flora infestante: 0, 10, 20, 30, 40, 50, 60, 70, 80, 90 e 100 dias após a semeadura. As parcelas foram constituídas por quatro linhas de amendoim, perfazendo 6 m² de área útil. As principais plantas daninhas encontradas na área experimental foram: Cyperus lanceolatus Poir, Commelina benghalensis L., Brachiaria decumbens Stapf., Amaranthus viridis L., Eleusine indica (L.) Gaertn., Portulaca oleracea L., Digitaria horizontalis Willd. e Solanum americanum Mill. A convivência do mato diminuiu a produção de vagens, de grãos e a população do amendoim na colheita. Não se observou efeito do mato sobre o rendimento de grãos e sobre a matéria seca acumulada pela parte aérea do amendoim. Capinas aplicadas aos 13 e 67 dias após a semeadura, respectivamente para os sistemas sem e com mato a partir da semeadura, foram suficientes para a obtenção de produção de vagens de amendoim estatisticamente igual à obtida pela cultura mantida sem competição, durante todo o ciclo. Os componentes da produção do amendoim foram favorecidos com a aplicação do sistema sem mato, a partir do início da cultura.

Arachis hypogaea L.; interferência; plantas daninhas; amendoim "das águas"; produção


The present research was carried out at the Núcleo de Agronomia da Alta Paulista, in Adamantina, State of Sao Paulo, Brazil, to study the effects of different periods of weed competition with peanut.The treatments were all possible combinations among the presence/absence of weeds (at the sowing time) and the following periods of weed removal: 0, 10, 20, 30, 40, 50, 60, 70, 80, 90 and 100 days, after sowing. Each experimental plot was set up with four peanut lines (6.0 m² of useful area). The main weed species occurring in the experimental area were: Cyperus lanceolatus Poir, Brachiaria decumbens Stapf., Commelina benghalensis L., Amaranthus viridis L., Eleusine indica (L.) Gaertn., Portulaca oleracea L., Digitaria horizontalis Willd and Solanum americanum Mill. The main effects of weed presence in the peanut crop was to decrease pod kernel yields and peanut population at harvest. No significant effects were observed on shelling percentages and peanut dry matter for any of the studied periods. Weeding control, carried out at 13 and 67 days after sowing, not taking into account initial weed presence was enough for obtaining peanut pod yield statistically similar to that observed when the peanut crop was maintained with no competition during all cycle. Pods and kernel yields and peanut population at harvest increased with weeding control at the sowing stage.

Arachis hypogaea L; interference; weeds; wet season peanut; yield


FITOTECNIA

EFEITOS DOS PERÍODOS DE COMPETIÇÃO DO MATO NA CULTURA DO AMENDOIM: II. SAFRA DAS ÁGUAS(1 (1 )Recebido para publicação em 13 de janeiro e aceito em 28 de dezembro de 2000. )

EDISON MARTINS PAULO(2 (1 )Recebido para publicação em 13 de janeiro e aceito em 28 de dezembro de 2000. ); FRANCISCO SEIITI KASAI(2 (1 )Recebido para publicação em 13 de janeiro e aceito em 28 de dezembro de 2000. ); JOSÉ CARLOS CAVICHIOLI(2 (1 )Recebido para publicação em 13 de janeiro e aceito em 28 de dezembro de 2000. )

RESUMO

O presente trabalho foi realizado na safra das águas de 1989, no Núcleo de Agronomia da Alta Paulista, em Adamantina (SP) para estudar o efeito de diferentes períodos de competição do mato no amendoim. Adotou-se o delineamento estatístico de blocos ao acaso, com quatro repetições e 22 tratamentos. Os tratamentos resultaram da combinação da presença e da ausência do mato a partir do início da cultura, com as seguintes épocas de remoção da flora infestante: 0, 10, 20, 30, 40, 50, 60, 70, 80, 90 e 100 dias após a semeadura. As parcelas foram constituídas por quatro linhas de amendoim, perfazendo 6 m2 de área útil. As principais plantas daninhas encontradas na área experimental foram: Cyperus lanceolatus Poir, Commelina benghalensis L., Brachiaria decumbens Stapf., Amaranthus viridis L., Eleusine indica (L.) Gaertn., Portulaca oleracea L., Digitaria horizontalis Willd. e Solanum americanum Mill. A convivência do mato diminuiu a produção de vagens, de grãos e a população do amendoim na colheita. Não se observou efeito do mato sobre o rendimento de grãos e sobre a matéria seca acumulada pela parte aérea do amendoim. Capinas aplicadas aos 13 e 67 dias após a semeadura, respectivamente para os sistemas sem e com mato a partir da semeadura, foram suficientes para a obtenção de produção de vagens de amendoim estatisticamente igual à obtida pela cultura mantida sem competição, durante todo o ciclo. Os componentes da produção do amendoim foram favorecidos com a aplicação do sistema sem mato, a partir do início da cultura.

Palavras-chave: Arachis hypogaea L., interferência, plantas daninhas, amendoim "das águas", produção.

ABSTRACT

EFFECTS OF WEED COMPETITION PERIODS ON PEANUT: II. WET SEASON CROP

The present research was carried out at the Núcleo de Agronomia da Alta Paulista, in Adamantina, State of Sao Paulo, Brazil, to study the effects of different periods of weed competition with peanut.The treatments were all possible combinations among the presence/absence of weeds (at the sowing time) and the following periods of weed removal: 0, 10, 20, 30, 40, 50, 60, 70, 80, 90 and 100 days, after sowing. Each experimental plot was set up with four peanut lines (6.0 m2 of useful area). The main weed species occurring in the experimental area were: Cyperus lanceolatus Poir, Brachiaria decumbens Stapf., Commelina benghalensis L., Amaranthus viridis L., Eleusine indica (L.) Gaertn., Portulaca oleracea L., Digitaria horizontalis Willd and Solanum americanum Mill. The main effects of weed presence in the peanut crop was to decrease pod kernel yields and peanut population at harvest. No significant effects were observed on shelling percentages and peanut dry matter for any of the studied periods. Weeding control, carried out at 13 and 67 days after sowing, not taking into account initial weed presence was enough for obtaining peanut pod yield statistically similar to that observed when the peanut crop was maintained with no competition during all cycle. Pods and kernel yields and peanut population at harvest increased with weeding control at the sowing stage.

Key words: Arachis hypogaea L, interference, weeds, wet season peanut, yield.

1. INTRODUÇÃO

As plantas daninhas competem com as cultivadas pelos recursos do meio, necessários à sobrevivência dos vegetais. A duração do tempo da competição determina prejuízos no crescimento, no desenvolvimento e, conseqüentemente, na produção das culturas.

A interferência do mato na cultura do amendoim provoca a diminuição na produção de vagens (HAUSER e PARHAN, 1969; HILL e SANTELMANN, 1969; ISHAG, 1971; PITELLI, 1980; PITELLI et al., 1984 e HACKETT et al., 1987) e de grãos (YORK e COBLE, 1977 e PITELLI et al., 1984), no rendimento de grãos (ISHAG, 1971), na população de plantas (HAMADA et al., 1988), na massa seca da parte aérea (HILL e SANTELMANN, 1969), e no número de vagens por planta (ISHAG, 1971; HAMMERTON, 1976; PITELLI, 1980; PITELLI et al., 1984).

Foi também observado que a manutenção do amendoim livre das plantas daninhas durante os primeiros 30 dias já possibilita a plena produtividade da cultura (HAUSER et al., 1975; PACHECO, 1977; PITELLI, 1980 e KULANDAIVELU e MORACHAN, 1981). Há indicações de que a eliminação do mato, nos dez dias seguintes à germinação do amendoim, é suficiente para garantir os propósitos da produção (PACHECO, 1977 e PITELLI, 1980). Contudo, relatos apontam que as infestantes podem permanecer na cultura acima de 50 dias (PITELLI, 1980) e até 70 dias (HAUSER et al. 1975) sem causar prejuízos, e que o período crítico da competição das plantas daninhas com o amendoim está entre 30 e 70 dias após a semeadura da oleaginosa (RODRIGUEZ MARQUINA et al., 1974 e DRENNAN e JENNINGS, 1977). As diferenças entre os possíveis períodos de convívio das plantas daninhas com o amendoim estão relacionadas ao grau de competição da população infestante, às práticas culturais e às condições de clima e solo onde se desenvolve a cultura (BLANCO, 1972).

O presente trabalho objetivou estudar o efeito de diferentes períodos de convivência das plantas daninhas, submetidas a dois sistemas de capina, sobre a produção do amendoim "das águas", nas condições agroecológicas do oeste de São Paulo.

2. MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi instalado no Núcleo de Agronomia da Alta Paulista, em Adamantina (SP), em um LATOSSOLO VERMELHO Eutrófico típico (EMBRAPA, 1999), anteriormente utilizado com pastagem, após preparo com aração e gradagem.

Adotou-se o delineamento estatístico de blocos ao acaso, com quatro repetições e 22 tratamentos resultantes da combinação entre a presença de mato (CM) e a ausência de mato (SM) e as épocas de remoção da flora infestante, a partir do início da cultura. No sistema CM os tratamentos corresponderam à convivência da cultura com as plantas daninhas, por 0, 10, 20, 30, 40, 50, 60, 70, 80, 90 e 100 dias após a semeadura, enquanto no sistema SM os tratamentos ficaram livres das infestantes durante os mesmos períodos. A eliminação do mato foi feita com enxada nas entrelinhas e através de monda nas linhas.

As parcelas foram constituídas por quatro linhas espaçadas de 0,6 m e 5,0 m de comprimento, perfazendo 6,0 m2 de área útil.

Na semeadura, em 26/12/1988, utilizou-se a cultivar Tatu e realizou-se a adubação com 300 kg.ha-1 do adubo fórmula 0-22-15, efetuando-se durante o ciclo o controle de pragas e doenças, conforme GODOY et al. (1986).

A colheita foi realizada em 7/4/1989, por arrancamento manual dos amendoinzeiros. Em cada uma das áreas úteis das parcelas marcou-se, ao acaso, 0,5 metro linear e as plantas ali existente foram utilizadas para avaliação do número de vagens, da massa seca das plantas e da massa de grãos em 100 g de vagens, ou seja, o rendimento de grãos.

A densidade das plantas daninhas foi obtida após a contagem e a identificação botânica das infestantes presentes em dois aros de 0,2 m2 cada um, os quais foram dispostos ao acaso no terço médio das parcelas (IGUE et al., 1982), por ocasião da primeira capina dos tratamentos do sistema CM, e na colheita do amendoim nos tratamentos do sistema SM. As plantas daninhas amostradas foram secas em estufa a 70 °C, até massa constante, e as plantas de amendoim foram secas ao sol, para posterior obtenção da massa das plantas.

Estimou-se a produção de grãos dos tratamentos, utilizando-se a massa de vagens das parcelas e o rendimento de grãos.

Os dados foram analisados estatisticamente, aplicando-se o teste F para os tratamentos. Estudou-se a interação entre o sistema capinado (SM) ou não (CM), a partir do início do ciclo do amendoim, para as variáveis significativas, seguido pelo estudo de regressão polinomial. Utilizou-se o programa SANEST para a realização das análises estatísticas.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

As plantas daninhas Cyperus lanceolatus Poir, Commelina benghalensis L., Brachiaria decumbens Stapf, Amaranthus viridis L., Eleusine indica (L.) Gaertn., Portulaca oleracea L., Digitaria horizontalis Willd. e Solanum americanum Mill, em ordem decrescente de densidade, foram as principais espécies que ocorreram na área experimental, onde predominaram as monocotiledôneas com 73,24% dos indivíduos presentes na comunidade infestante. Verificou-se, para essas espécies, uma diminuição média da densidade, maior que 85%, do início ao final do ciclo da cultura do amendoim (Quadro 1).


A densidade e a massa seca da comunidade infestante foram afetadas significativamente pelos períodos de controle impostos às plantas daninhas e pelos dois sistemas de capina (SM e CM), havendo interação entre os sistemas e os períodos de controle. Os valores dos coeficientes de variação foram elevados devido à distribuição não-regular das plantas daninhas na área experimental (Quadro 2).


A diminuição da densidade das infestantes com o avançar do ciclo do amendoim, no sistema CM, pode ser atribuída principalmente à morte das plantas devido à competição intra e interespecífica, ocorrida na comunidade vegetal, ou por término do ciclo de vida de algumas espécies. No sistema CM ocorreu, ao longo do tempo, acúmulo de matéria seca da comunidade infestante (Quadro 2).

No sistema SM as capinas realizadas mais cedo apresentaram maior densidade de plantas daninhas na colheita do que as realizadas mais tardiamente. Deve-se observar que as capinas efetuadas até 30 dias após a semeadura apresentaram, na colheita, densidade de mato similar ao tratamento não capinado. Contudo, nesse sistema, uma capina realizada dez dias após a semeadura reduziu em cerca de 40% a matéria seca acumulada pela comunidade infestante, e a manutenção da cultura sem mato por um período de 20 a 30 dias impôs reduções maiores que 90% na matéria seca da flora daninha, em relação ao tratamento que não foi capinado durante todo o ciclo. Períodos maiores sem mato causaram redução da população das infestantes na colheita, e valores pouco expressivos da massa seca da flora daninha (Quadro 2).

Deve-se considerar que, embora as plantas daninhas tenham tido condições para germinar, emergir e recompor a população até cerca de 30 dias após a implantação da lavoura, quanto mais tardiamente isso tenha ocorrido, provavelmente mais desenvolvidas estavam as plantas de amendoim e, portanto, maior foi o grau da competição imposta pela cultura, resultando no menor acúmulo da matéria seca da flora infestante recomposta naqueles períodos. Os resultados do acúmulo da matéria seca pela comunidade infestante, no experimento, apresentam a mesma tendência dos obtidos por PITELLI (1980).

A massa seca do mato não se correlacionou bem com a densidade em ambos os sistemas de controle estudados (r(CM) = -0,30, r(SM) = 0,51) (Quadro 5). A possível explicação para tal fato pode estar na heterogeneidade da comunidade infestante, na qual uma ou mais espécies sensíveis à competição não acumularam matéria seca, proporcionalmente à sua contribuição numérica na população.



A massa de vagens e de grãos, o número de vagens por planta e a população final do amendoim foram afetados significativamente pelos períodos de convivência com o mato, não ocorrendo, porém, o mesmo para o rendimento de grãos e a massa seca da parte aérea do amendoim. Entre as variáveis estudadas, o número de vagens por planta, o rendimento de grãos e a massa seca da parte aérea do amendoim não foram influenciados pelos sistemas de controle utilizados, ressaltando-se que, apenas para essa última variável, não foi significativa a interação entre os sistemas e os períodos de controle das plantas daninhas (Quadro 3).

O amendoim apresentou menores produções de massa de vagens e de grãos e de número de vagens por planta e menor população final para períodos maiores de convivência com o mato (Quadro 3). A diminuição da massa de vagens pela competição do mato com a cultura tem sido verificada por muitos autores (HAUSER e PARHAN, 1969, HILL e SANTELMANN, 1969, ISHAG, 1971, PITELLI, 1980, PITELLI et al., 1984 e HACKETT et al., 1987), enquanto outros também constataram o decréscimo da massa de grãos (YORK e COBLE, 1977, PITELLI et al., 1984), do número de vagens por planta (ISHAG, 1971, HAMMERTON, 1976, PITELLI, 1980 e PITELLI et al., 1984) e da população final de plantas (HAMADA et al., 1988).

A decomposição do tempo para capinas nos tratamentos SM e CM, mostrou influência significativa do mato para massa de vagens, nos componentes cúbico e linear, e para o número de vagens, nos componentes quadrático e linear (Quadro 3).

Aplicando-se aos dados experimentais do sistema SM a equação obtida y = 213,219 + 105,703x -1,956x2 + 0,015x3 (Quadro 3) (Fig. 1), verifica-se a necessidade de impedir a emergência da flora infestante por um período de 13 dias após a semeadura (DAS), para não haver redução na massa de vagens. No sistema CM, a equação obtida y = 2333,93 - 15,98x permite inferir que o mato pode conviver com a cultura por até 67 DAS, não diferindo, estatisticamente, a massa de vagens da cultura mantida livre da flora infestante durante todo o ciclo. PACHECO (1977) e PITELLI (1980) assinalaram que o controle inicial do mato por curtos períodos - cinco e dez dias após a emergência - não diferiu, em termos de produção de vagens, das parcelas mantidas no limpo durante todo o ciclo, enquanto RODRIGUEZ MARQUINA et al. (1974), HAUSER et al. (1975) e DRENNAN e JENNINGS (1977) relataram que as infestantes podem conviver com o amendoim por um período de 60 a 70 dias após a semeadura, sem causar prejuízos. Esses resultados concordam com os obtidos no presente trabalho.


Os períodos em que a cultura deve estar livre de plantas daninhas para maior produção de grãos aproximaram-se daqueles encontrados para a produção de vagens. No sistema SM torna-se necessário evitar o mato por 14 dias a partir do início do ciclo da cultura, enquanto no sistema CM a flora infestante pode conviver na lavoura por até 71 dias. Tais períodos foram obtidos, respectivamente, através das equações y = 163,092 + 74,776x - 1,401x2 + 0,008x3 e y = 1616,531 - 10,744x (Quadro 3).

Os períodos de convivência do amendoinzeiro com o mato influenciaram a população final das plantas de amendoim e o número de vagens por planta, mas não o rendimento de grãos (Quadro 3). A correlação do número de vagens por planta com o rendimento de grãos, no experimento, foi negativa (r(SM) = -0,59 e r(CM) = -0,79) (Quadro 5). KASAI e PAULO (1993) observaram ainda a diminuição do rendimento de grãos com o aumento do número de vagens por planta de amendoim. A explicação para essa constatação baseia-se na possível existência de um efeito de compensação entre os componentes da produção da cultura do amendoim (população.ha-1, n° de vagens.planta-1, massa de grãos.vagem-1), promovendo, com o aumento de um ou mais desses componentes, a redução em outro ou outros, conforme já observado em outras plantas (BULISANI et al., 1987 e FERRAZ, 1987).

O acúmulo da massa seca da parte aérea das plantas de amendoim não foi influenciado com a competição imposta pela flora daninha, fato que não confirma o relatado por HILL e SANTELMAN (1969) e para o qual não há explicação com os dados deste trabalho (Quadro 3).

As massas secas do mato (Quadro 2) obtidas nos dois sistemas de controle tiveram melhor correlação com a massa de vagens (r(SM) = -0,73, r(CM) = -0,65), população final (r(CM) = -0,47, r(SM) = -0,62) e número de vagens por planta de amendoim (r(CM) = -0,64, r(SM) = -0,66) (Quadro 5), se comparado às suas respectivas densidades (Quadro 2). PITELLI (1980) encontrou melhor correlação (r = 0,87) para a matéria seca acumulada pelas plantas daninhas até a eliminação da flora e a massa de vagens das parcelas correspondentes. Esses resultados levam à constatação de que os períodos de convivência do mato com a cultura determinaram maiores prejuízos à produtividade do amendoim, do que a densidade da comunidade infestante.

No sistema de controle SM, com capinas aplicadas a partir do início do ciclo da cultura para posteriores períodos de convivência do amendoim com o mato, ocorreram menor densidade e acúmulo de matéria seca pela comunidade infestante, comparativamente ao sistema de controle CM. Decorrente dessa menor pressão da população daninha obtiveram-se, no sistema SM, maiores e significativas populações finais de plantas e produções de vagens e de grãos de amendoim (Quadro 4).


Os efeitos negativos observados sobre a cultura, devido à presença da vegetação espontânea, não devem ser atribuídos exclusivamente à competição imposta pelas plantas daninhas, mas são, em última análise, resultantes de um total de pressões ambientais que, direta (competição, alelopatia, interferência na colheita e outros) ou indiretamente (hospedando pragas, moléstias, nematóides e outros), estão ligadas à sua presença no ambiente agrícola. De todos os fatores que alteram o grau de competição, o mais importante é, talvez, o período em que a comunidade infestante e as plantas cultivadas estão disputando os recursos do meio (PITELLI, 1985).

De modo geral, conforme observado no presente trabalho, quanto maior o período de convivência da cultura com a comunidade infestante, maior será o grau de interferência. Assim, para os mesmos períodos de competição estabelecidos entre a cultura e a comunidade espontânea, durante o ciclo, vale dizer que maiores condições para retirar os recursos do meio terá a planta cultivada, quanto mais tardiamente essa relação se estabelecer, posto que estará em estádios fenológicos mais adiantados e, portanto, menores serão os prejuízos produtivos.

4. CONCLUSÕES

1) A convivência do mato com o amendoim pode diminuir a produção de vagens e de grãos e a população de amendoim na colheita.

2) Uma capina aplicada 13 ou 67 dias após a semeadura, respectivamente para os tratamentos sem e com mato desde o início do ciclo do amendoim, foi suficiente para a produção de vagens, apresentando resultado semelhante ao da cultura mantida sem competição durante todo o ciclo.

3) A produção de amendoim foi maior com a aplicação do sistema sem mato desde o início da cultura.

(2)Núcleo de Agronomia da Alta Paulista, Instituto Agronômico (IAC), Caixa Postal 191, 17800-000 Adamantina (SP). E-mail: edpaulo@brgold.com.br

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  • (1
    )Recebido para publicação em 13 de janeiro e aceito em 28 de dezembro de 2000.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      18 Jun 2001
    • Data do Fascículo
      2001

    Histórico

    • Recebido
      13 Jan 2000
    • Aceito
      28 Dez 2000
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