Peixes de riachos de bacias recentemente desmatadas na Amazônia Meridional, Mato Grosso, Brasil

Resumo:

A substituição de florestas tropicais por sistemas de produção representa uma das principais fontes de alteração nos ecossistemas de riachos. Contudo, a composição atual das assembleias também depende do tempo decorrente desde o início dessas transformações e, desta forma, o conhecimento de cenários históricos variados pode facilitar a realização de ações que envolvam a recuperação de ambientes aquáticos. Neste estudo, foi realizado o inventário dos peixes de riachos em bacias cujo desmatamento foi intensificado nos últimos 20 anos, para compor uma linha de base que possa ser usada em estudos ecológicos e taxonômicos. Foram amostradas as variáveis do hábitat, físicas e químicas e os peixes de 60 riachos da região noroeste do estado de Mato Grosso, nas bacias dos rios Aripuanã e Juruena. No total, 130 espécies foram registradas, com predominância numérica de pequenos caracídeos e grande número de espécies raras, sendo 50 espécies representadas por menos que dez indivíduos e 19 por apenas um indivíduo. Aproximadamente 15% dos táxons amostrados foram identificados somente no nível genérico e vários precisam de estudos taxonômicos e moleculares mais detalhados para alcançar identificações satisfatórias. As espécies não-nativas foram representadas por dois exemplares e nenhuma espécie sabidamente ameaçada foi registrada. Embora a qualidade do hábitat seja superior nos riachos florestados, não houve diferenças na riqueza das assembleias quando comparada aos riachos de microbacias de pastagem, porém com faixa ripária florestada, ou com maior desmatamento. Contudo, a abundância foi maior nesses dois grupos de riachos, como resultado da dominância de caracídeos de pequeno porte.

Palavras-chave:
inventário; ictiofauna neotropical; desmatamento; linha de base; Characidae