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Fadiga por compaixão e estratégias de enfrentamento diante da finitude

Resumo

A fadiga por compaixão é uma ameaça à saúde mental de profissionais de saúde diante da dificuldade em manejar a empatia. Assim, buscou-se verificar na literatura científica a correlação entre a fadiga por compaixão e a atuação de profissionais em unidades hospitalares que lidam constantemente com a morte, considerando estratégias adotadas para autocuidado. Realizou-se revisão integrativa da literatura, que identificou 11 artigos, nas bases de dados MEDLINE e PubMed, publicados entre 2011 e 2021. Constatou-se que a fadiga por compaixão ocorre com maior frequência em profissionais que lidam direta e recorrentemente com a morte, principalmente quando medidas distanásicas são adotadas. As principais estratégias de adaptação psicológica detectadas foram discussão de casos entre equipes, momentos de lazer e apoio de colegas, espiritualidade e meditação, além de uma liderança construtiva. Ressalta-se a necessidade de maior aprofundamento e novas pesquisas diante da escassez de estudos sobre o tema, principalmente no Brasil.

Fadiga por compaixão; Morte; Autocuidado; Adaptação psicológica

Abstract

Compassion fatigue threatens healthcare professionals’ mental health in face of difficulties in managing empathy. This integrative review sought to verify the correlation between compassion fatigue and health professionals’ performance in hospital units that frequently deal with death, considering the self-care strategies adopted. Bibliographic search conducted on the MEDLINE and PubMed databases retrieved 11 articles published between 2011 and 2021. Results show that compassion fatigue occurs frequently in professionals who deal directly and recurrently with death, especially when dysthanasia measures are adopted. Case discussion between teams, leisure time and peer support, spirituality and meditation as well as constructive leadership were the main psychological adaptation strategies identified. Further and in-depth research is needed given the scarcity of study on the topic, especially in Brazil.

Compassion fatigue; Death; Self care; Adaptation, psychological

Resumen

La fatiga por compasión es una amenaza para la salud mental de los profesionales de la salud ante la dificultad para gestionar la empatía. Se buscó en la literatura científica la correlación entre la fatiga por compasión y el trabajo de los profesionales en unidades hospitalarias que lidian constantemente con la muerte considerando las estrategias adoptadas para el autocuidado. La revisión integradora de la literatura realizada identificó 11 artículos en las bases de datos MEDLINE y PubMed, publicados entre 2011 y 2021. La fatiga por compasión se presenta más en los profesionales que lidian directa y recurrentemente con la muerte, especialmente durante la adopción de medidas de distanasia. Como principales estrategias de adaptación psicológica destacan la discusión de casos entre equipos, el tiempo libre y apoyo de los compañeros, la espiritualidad y meditación, y el liderazgo constructivo. Son necesarias más investigaciones a fondo dados los escasos estudios, especialmente en Brasil.

Desgaste por empatía; Muerte; Autocuidado; Adaptación psicológica

Até o fim do século XVII, aquilo que era denominado hospital tinha função de abrigar pobres em transição da vida para a morte, sendo um espaço de separação desses indivíduos, adoecidos e marginalizados, do restante da população. Com o avanço da tecnologia, guerras e epidemias, a prática médica se sobrepôs ao valor humano e ganhou um novo olhar diante do capitalismo: as pessoas tornaram-se investimento, e a estrutura do hospital passou a ser um instrumento de terapêutica, destinado ao tratamento e controle de doenças 11. Foucault M. Microfísica do poder. 8ª ed. Rio de Janeiro: Graal; 1989. .

Nesse campo de atuação, inserem-se profissionais de diversas áreas da saúde, com o objetivo de auxiliar no restabelecimento físico e mental do paciente diante do adoecimento. Entretanto, em determinadas situações, esses profissionais enfrentam situações adversas recorrentes, como piora do quadro clínico, morte e sofrimento familiar. Nesse cenário emergem questões subjetivas e, caso faltem habilidades emocionais de manejo, a dor e o sofrimento do outro poderão desencadear agravos na saúde dos envolvidos no cuidado do doente, como sintomas de ansiedade, depressão e burnout , impactando de maneira negativa sua saúde e a prática assistencial 22. Barbosa SC, Souza SM, Souza J. A fadiga por compaixão como ameaça à qualidade de vida profissional em prestadores de serviços hospitalares. Rev Psicol Organ Trab [Internet]. 2014 [acesso 15 fev 2023];14(3):315-23. Disponível: https://bit.ly/3Q9RcH0
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São características da atuação dos sujeitos envolvidos no campo da saúde o vínculo e a humanização. Tais práticas promovem o suporte à família e ao paciente hospitalizado, que vivenciam incertezas e angústias diante da ruptura de seu “mundo presumido”, sendo este o conjunto de concepções idealizadas da própria realidade 33. Parkes CM. Amor e perda: as raízes do luto e suas complicações. São Paulo: Summus; 2009. .

Na construção do vínculo, da sensibilidade, da empatia e do conhecimento científico, promove-se uma experiência acolhedora e assertiva diante da doença, proporcionando melhoria da qualidade de atendimento e das relações estabelecidas. Dessa forma, é possível trazer benefícios e promover o bem-estar do paciente e dos demais envolvidos no processo 44. Barcellos RA, Sgarabotto BL. Cuidado centrado em pacientes e familiares em terapia intensiva. Res Soc Dev [Internet]. 2020 [acesso 15 fev 2023];9(8):e55984400. DOI: 10.33448/Rsd-V9i8.4400
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Antes de definir o conceito de fadiga por compaixão, cabe ressaltar o significado de empatia, aspecto importante das relações humanas, que está atrelado aos recursos emocionais de reconhecimento do eu/outro. Ela pode ser definida como a capacidade de percepção, compreensão e perspectiva do contexto e vivência de outra pessoa. Devido à complexidade de seu significado, ainda não há consenso entre os autores sobre sua ocorrência, porém a empatia é multidimensional e abarca diversos fatores (cognitivos, emocionais, sociais e comportamentais), sendo essencial ao vínculo terapêutico e ao atendimento em saúde 55. Lago KC. Fadiga por compaixão: quando ajudar dói [dissertação] [Internet]. Brasília: Universidade de Brasília; 2008 [acesso 15 fev 2023]. Disponível: https://bit.ly/3rYQDYC
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6. Mufato LF, Gaiva MAM. Empatia em saúde: uma revisão integrativa. Rev Enferm Cent-Oeste Min [Internet]. 2019 [acesso 15 fev 2023];9:e2884. DOI: 10.19175/Recom.V9i0.2884
- 77. Magalhães ARV. A importância da empatia na comunicação clínica e avaliação do seu impacto terapêutico [dissertação] [Internet]. Covilhã: Universidade da Beira Interior; 2019 [acesso 15 fev 2023]. Disponível: https://bit.ly/3SkYFp8
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A compaixão, por sua vez, é definida como a habilidade de ter consciência do sofrimento de outrem e suscita preocupação, comoção, desejo de aliviar as aflições e disposição a ajudar, podendo ser entendida para além de um sentimento: é comportamento orientador de conduta 88. Garcia-Campayo J, Marti CA, Demarzo MMP. A ciência da compaixão. São Paulo: Palas Athena; 2010. . Portanto, enquanto a empatia trata da percepção e compreensão das emoções e sentimentos vivenciados por alguém, a compaixão é a ação tomada a partir dessa compreensão. Ou seja, é o comportamento empático, motivador do trabalho, que busca resoluções e intervenções que auxiliem no alívio do sofrimento e resulta em atuação cooperativa e altruísta direcionada ao outro diante do reconhecimento de sua dor 99. Lago KC. Compaixão e trabalho: como sofrem os profissionais de saúde [dissertação] [Internet]. Brasília: Universidade de Brasília; 2013 [acesso 15 fev 2023]. Disponível: https://bit.ly/3MkLG35
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A vulnerabilidade e o sofrimento a que são expostos, aliados à sobrecarga de trabalho e à dificuldade de manejo de sentimentos e emoções, pode provocar desgaste e exaustão nos profissionais, impossibilitando uma atuação efetiva e ocasionando fadiga por compaixão 22. Barbosa SC, Souza SM, Souza J. A fadiga por compaixão como ameaça à qualidade de vida profissional em prestadores de serviços hospitalares. Rev Psicol Organ Trab [Internet]. 2014 [acesso 15 fev 2023];14(3):315-23. Disponível: https://bit.ly/3Q9RcH0
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. Ressalta-se que a concepção de fadiga por compaixão descrita por Figley 1010. Figley CR. Compassion fatigue as secondary traumatic stress disorder: an overview. In: Figley CR, organizador. Compassion fatigue. New York: ScienceDirect; 1995. p. 1-20. é atualmente a mais utilizada na literatura científica, pois o conceito está ausente do Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (do inglês Diagnostic and statistical manual of mental disorders , mais conhecido como DSM) 1111. American Psychiatric Association. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. Porto Alegre: Artmed; 2014. .

O DSM utiliza o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) para referir-se ao transtorno relacionado a situações em que pessoas são atingidas diretamente por eventos estressores (violência, adoecimentos ou acidentes) 1111. American Psychiatric Association. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. Porto Alegre: Artmed; 2014. . Contudo, a fadiga por compaixão é um tipo de sofrimento causado indiretamente, diferindo do transtorno mencionado 1010. Figley CR. Compassion fatigue as secondary traumatic stress disorder: an overview. In: Figley CR, organizador. Compassion fatigue. New York: ScienceDirect; 1995. p. 1-20. .

É importante referir que, interligado aos conceitos anteriores, o burnout aparece com frequência nos textos sobre fadiga por compaixão e é definido como sensação de esgotamento emocional, despersonalização e diminuição da sensação de recompensa com o trabalho e conquistas pessoais 1212. Maslach C, Schaufeli WB, Leiter MP. Job burnout. Annu Rev Psychol [Internet]. 2001 [acesso 15 fev 2023];52:397-422. DOI: 10.1146/annurev.psych.52.1.397
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. Portanto, trata-se de exaustão emocional e física acompanhada da sensação de descaracterização profissional.

Isso significa que, devido a estresse crônico, a atuação que antes podia gerar satisfação e motivação torna-se um evento exaustivo e desagradável e, em casos mais graves, adoecedor. Essa situação caracteriza-se como parte da fadiga por compaixão, em sua dimensão física, impactando a atuação do profissional diante de situações que exigem empatia 1313. Lago K, Codo W. Fadiga por compaixão: o sofrimento dos profissionais em saúde. Petrópolis: Vozes; 2010. .

A exposição constante do profissional de saúde a perdas e mortes sinaliza a necessidade de desenvolver estratégias de adaptação psicológica e de enfrentamento. Traduzido do inglês coping , esse conceito é definido por quatro características principais: 1) uma interação que se dá entre o indivíduo e o ambiente ; 2) sua função é de administração da situação estressora, ao invés de controle ou domínio da mesma ; 3) os processos de coping pressupõem a noção de avaliação, ou seja, como o fenômeno é percebido, interpretado e cognitivamente representado na mente do indivíduo ; e 4) o processo de coping constitui-se em uma mobilização de esforço, através da qual os indivíduos irão empreender esforços cognitivos e comportamentais para administrar (reduzir, minimizar ou tolerar) as demandas internas ou externas que surgem da sua interação com o ambiente 1414. Antoniazzi AS, Dell’aglio DD, Bandeira DR. O conceito de coping: uma revisão teórica. Estud Psicol (Natal) [Internet]. 1998 [acesso 15 fev 2023];3(2):273-94. p. 276. DOI: 10.1590/S1413-294X1998000200006
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Segundo a literatura analisada, profissionais da saúde costumam utilizar, como apoio e autocuidado, o suporte social, a busca pela resolução de problemas, o gerenciamento de suas emoções, a evitação de situações consideradas estressantes/desnecessárias, a reavaliação de comportamento diante do contexto e a aceitação. Com isso, o sujeito assume a responsabilidade pela resolutividade do problema enfrentado, mantendo os dois objetivos principais do coping: mudar o desencadeador da questão problemática e controlar sua resposta emocional diante do conflito 1515. Costa ME, Maciel RH, Rêgo DP, Lima LL, Silva MEP, Freitas JG. Occupational burnout syndrome in the nursing context: an integrative literature review. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2017 [acesso 15 fev 2023];51:e03235. DOI: 10.1590/S1980-220X2016023403235
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A exposição constante do profissional de saúde à terminalidade torna necessário explorar e compreender tais vivências diante da finitude de seus pacientes. Considerando o contexto de atuação e cultura, é importante refletir sobre possíveis estratégias de autocuidado a fim de elaborar condutas institucionais e facilitar estratégias pessoais, de modo a evitar prováveis adoecimentos ocupacionais e a perda da qualidade de cuidado ofertado ao paciente.

Considerando esse contexto, este estudo objetivou verificar a ocorrência da fadiga por compaixão em profissionais que lidam constantemente com a finitude em unidades de cuidados de adultos, assim como possíveis estratégias de enfrentamento e adaptação psicológica, por meio da análise da literatura científica.

Método

Foi realizada pesquisa nas bases de dados eletrônicas MEDLINE e PubMed com os seguintes descritores: “ compassion fatigue and death and coping or self-care ”. Os critérios de inclusão foram: 1) ser estudo de campo qualitativo e/ou quantitativo com profissionais da saúde; 2) ter sido conduzidos em contexto de cuidado em saúde de adultos; e 3) ter sido realizado entre os anos de 2011 e 2021. Os critérios de exclusão foram: 1) ser revisão bibliográfica; 2) ter sido realizado em contexto neonatal e pediátrico; 3) ser validação de escalas; e 4) ser relato de experiência. Apenas artigos na íntegra foram selecionados, sem restrição de idioma, e os dados foram cruzados para evitar a duplicação ( Figura 1 ).

Figura 1
Fluxograma de seleção dos artigos

Após essa etapa, o corpus foi classificado de acordo com tipo de estudo, amostra, método, local de pesquisa e objetivos ( Quadro 1 ).

Quadro 1
Categorização dos artigos selecionados

Resultados e discussão

Por meio dos descritores, foram encontrados 44 artigos nas bases de dados mencionadas. A base PubMed apresentou maior número de resultados, com 33 artigos, seguida da MEDLINE, com 11 artigos. Após a exclusão de quatro artigos duplicados, também foram descartados revisões de literatura, validação de escalas, pesquisas com público não profissional de saúde e artigos que não abordavam fadiga por compaixão associada à finitude. No total, 11 artigos apresentaram compatibilidade com o objetivo deste estudo.

Dos artigos incluídos, apenas três empregaram a abordagem qualitativa, sendo oito quantitativos, representando o método mais adotado na temática revisada. Todos os artigos encontrados estavam em língua inglesa, entretanto, ressalta-se a diversidade dos locais das pesquisas: quatro trabalhos foram realizados nos Estados Unidos; um estudo multicêntrico incluiu Espanha, Brasil e Argentina; um era australiano; um israelense; um taiwanês; um espanhol; um do Reino Unido; e um de Portugal. Dos 11 artigos, seis foram constituídos predominantemente pelo sexo feminino, dois pelo masculino e os outros três estudos não consideraram a característica “sexo” em suas amostras ( Tabela 1 ).

Tabela 1
Categorização das características observadas

A maior parte dos participantes são da área de enfermagem (49%), seguidos dos profissionais de medicina (33%). As demais profissões, como psicologia (9%), serviço social (3,6%), auxiliares de enfermagem (1,6%) e outros (3,3%), representaram pouco mais de 1/6 dos entrevistados, considerando todos os estudos. O setor de atuação com maior recorrência foi o de cuidados paliativos (62,4%), seguido por unidades de terapia intensiva (UTI) (19,5%), oncologia (6,7%) e clínica médica (6,6%). Cirurgia geral, ginecologia, nefrologia e hematologia oncológica apresentaram percentual inferior a 3% dos entrevistados.

Após leitura minuciosa dos artigos, emergiram três categorias centrais que se correlacionam com o objetivo deste estudo: 1) sentimentos vivenciados diante da morte de pacientes; 2) correlação entre fadiga por compaixão e finitude, diferenças e comparações; e 3) propostas de autocuidado pessoais, institucionais e a competência para a morte.

Sentimentos vivenciados diante da morte de pacientes

Manifestações comportamentais e sentimentos encontrados em profissionais da saúde diante da finitude de pacientes foram: sensação de impotência 1717. Laor-Maayany R, Goldzweig G, Hasson-Ohayon I, Bar-Sela G, Engler-Gross A, Braun M. Compassion fatigue among oncologists: the role of grief, sense of failure, and exposure to suffering and death. Support Care Cancer [Internet]. 2020 [acesso 15 fev 2023];28(4):2025-31. DOI: 10.1007/s00520-019-05009-3 , 2121. Grech A, Depares J, Scerri J. Being on the frontline: nurses’ experiences providing end-of-life care to adults with hematologic malignancies. J Hosp Palliat Nurs [Internet]. 2018 [acesso 15 fev 2023];20(3):237-44. DOI: 10.1097/NJH.0000000000000433
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, resiliência 2121. Grech A, Depares J, Scerri J. Being on the frontline: nurses’ experiences providing end-of-life care to adults with hematologic malignancies. J Hosp Palliat Nurs [Internet]. 2018 [acesso 15 fev 2023];20(3):237-44. DOI: 10.1097/NJH.0000000000000433
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, cinismo 1818. Pattison N, Droney J, Gruber P. Burnout: caring for critically ill and end-of-life patients with cancer. Nurs Crit Care [Internet]. 2020 [acesso 15 fev 2023];25(2):93-101. DOI: 10.1111/nicc.12460
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, 2323. Pereira SM, Teixeira CM, Carvalho AS, Hernández-Marrero P. Compared to palliative care, working in intensive care more than doubles the chances of burnout: results from a nationwide comparative study. PLoS One [Internet]. 2016 [acesso 15 fev 2023];11(9):e0162340. DOI: 10.1371/journal.pone.0162340 , insensibilidade 1818. Pattison N, Droney J, Gruber P. Burnout: caring for critically ill and end-of-life patients with cancer. Nurs Crit Care [Internet]. 2020 [acesso 15 fev 2023];25(2):93-101. DOI: 10.1111/nicc.12460
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, dificuldade na expressão de emoções 1818. Pattison N, Droney J, Gruber P. Burnout: caring for critically ill and end-of-life patients with cancer. Nurs Crit Care [Internet]. 2020 [acesso 15 fev 2023];25(2):93-101. DOI: 10.1111/nicc.12460
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, exaustão 1818. Pattison N, Droney J, Gruber P. Burnout: caring for critically ill and end-of-life patients with cancer. Nurs Crit Care [Internet]. 2020 [acesso 15 fev 2023];25(2):93-101. DOI: 10.1111/nicc.12460
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, 2222. Ko W , Kiser-Larson N . Stress levels of nurses in oncology outpatient units. Clin J Oncol Nurs [Internet]. 2016 [acesso 15 fev 2023];20(2):158-64. DOI: 10.1188/16.CJON.158-164
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, 2323. Pereira SM, Teixeira CM, Carvalho AS, Hernández-Marrero P. Compared to palliative care, working in intensive care more than doubles the chances of burnout: results from a nationwide comparative study. PLoS One [Internet]. 2016 [acesso 15 fev 2023];11(9):e0162340. DOI: 10.1371/journal.pone.0162340 , choro 2121. Grech A, Depares J, Scerri J. Being on the frontline: nurses’ experiences providing end-of-life care to adults with hematologic malignancies. J Hosp Palliat Nurs [Internet]. 2018 [acesso 15 fev 2023];20(3):237-44. DOI: 10.1097/NJH.0000000000000433
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, 2222. Ko W , Kiser-Larson N . Stress levels of nurses in oncology outpatient units. Clin J Oncol Nurs [Internet]. 2016 [acesso 15 fev 2023];20(2):158-64. DOI: 10.1188/16.CJON.158-164
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, 2626. Zambrano SC, Chur-Hansen A, Crawford GB. The experiences, coping mechanisms, and impact of death and dying on palliative medicine specialists. Palliat Support Care [Internet]. 2014 [acesso 15 fev 2023];12(4):309-16. DOI: 10.1017/S1478951513000138
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, tristeza 2121. Grech A, Depares J, Scerri J. Being on the frontline: nurses’ experiences providing end-of-life care to adults with hematologic malignancies. J Hosp Palliat Nurs [Internet]. 2018 [acesso 15 fev 2023];20(3):237-44. DOI: 10.1097/NJH.0000000000000433
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, 2222. Ko W , Kiser-Larson N . Stress levels of nurses in oncology outpatient units. Clin J Oncol Nurs [Internet]. 2016 [acesso 15 fev 2023];20(2):158-64. DOI: 10.1188/16.CJON.158-164
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, ansiedade 2222. Ko W , Kiser-Larson N . Stress levels of nurses in oncology outpatient units. Clin J Oncol Nurs [Internet]. 2016 [acesso 15 fev 2023];20(2):158-64. DOI: 10.1188/16.CJON.158-164
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, sintomas depressivos 2222. Ko W , Kiser-Larson N . Stress levels of nurses in oncology outpatient units. Clin J Oncol Nurs [Internet]. 2016 [acesso 15 fev 2023];20(2):158-64. DOI: 10.1188/16.CJON.158-164
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, 2323. Pereira SM, Teixeira CM, Carvalho AS, Hernández-Marrero P. Compared to palliative care, working in intensive care more than doubles the chances of burnout: results from a nationwide comparative study. PLoS One [Internet]. 2016 [acesso 15 fev 2023];11(9):e0162340. DOI: 10.1371/journal.pone.0162340 e culpa 2626. Zambrano SC, Chur-Hansen A, Crawford GB. The experiences, coping mechanisms, and impact of death and dying on palliative medicine specialists. Palliat Support Care [Internet]. 2014 [acesso 15 fev 2023];12(4):309-16. DOI: 10.1017/S1478951513000138
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. Percebe-se que há uma gama de sentimentos e comportamentos relatados pelos autores, com leve variação nos estudos, tendendo a ser mais frequente a tristeza e por consequência o choro, além do esgotamento profissional.

As reações emocionais descritas nos resultados vão ao encontro de diversos estudos sobre reações emocionais diante do morrer 2727. Faria SS, Figuereido JS. Aspectos emocionais do luto e da morte em profissionais da equipe de saúde no contexto hospitalar. Psicol Hosp (São Paulo) [Internet]. 2017 [acesso 15 fev 2023];15(1):44-66. Disponível: https://bit.ly/3Sed2eZ
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, 2828. Gutierrez BAO. O processo de morrer no cotidiano do trabalho dos profissionais de enfermagem de unidades de terapia intensiva [dissertação] [Internet]. São Paulo: Universidade de São Paulo; 2003 [acesso 15 fev 2023]. DOI: 10.11606/T.83.2003.tde-26102005-123431
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. Entende-se que sensações de fracasso, tristeza e angústia estão diretamente ligadas ao despreparo profissional, por uma defasagem na formação acadêmica e dificuldade de manejo diante da vinculação intensa com o paciente no processo de finitude. Por outro lado, vale ressaltar que, em nossa cultura, há intensidade de nossos vínculos e a proibição do sofrer.

Reação com choro não foi percebida como comportamento negativo, mesmo na presença de paciente e familiares, constatando-se que estar ciente das características dos pacientes e prognóstico auxiliaram nas reações emocionais 2626. Zambrano SC, Chur-Hansen A, Crawford GB. The experiences, coping mechanisms, and impact of death and dying on palliative medicine specialists. Palliat Support Care [Internet]. 2014 [acesso 15 fev 2023];12(4):309-16. DOI: 10.1017/S1478951513000138
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. A idade do paciente foi uma característica ressaltada como desencadeadora de sofrimento, principalmente devido às identificações pessoais e à noção de que os pacientes teriam “uma vida pela frente” 2121. Grech A, Depares J, Scerri J. Being on the frontline: nurses’ experiences providing end-of-life care to adults with hematologic malignancies. J Hosp Palliat Nurs [Internet]. 2018 [acesso 15 fev 2023];20(3):237-44. DOI: 10.1097/NJH.0000000000000433
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. Entretanto, tal identificação pessoal pode ser considerada aspecto negativo ou neutro, dependendo do manejo do profissional diante de seu cuidado 2626. Zambrano SC, Chur-Hansen A, Crawford GB. The experiences, coping mechanisms, and impact of death and dying on palliative medicine specialists. Palliat Support Care [Internet]. 2014 [acesso 15 fev 2023];12(4):309-16. DOI: 10.1017/S1478951513000138
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O olhar natural perante o chorar e o permitir-se sofrer revela preparo emocional e competência para a morte. Também demonstra que profissionais de saúde capazes de lidar com a morte estão capacitados não somente com prática e compreensão teórica, mas com o próprio autoconhecimento de vivências e sentimentos desencadeados por lidarem diretamente com a morte, refletindo sua própria finitude e dos entes pelos quais têm afeto.

Foi considerado como aspecto negativo da atuação o manejo de relações e contextos considerados difíceis, como: dificuldade de atingir o controle total dos sintomas de pacientes em processo de morte em alguns casos, decisões distanásicas, falta de diretivas antecipadas de vontade de pacientes e familiares e invalidação de apontamentos referentes aos cuidados do paciente pela equipe médica 2121. Grech A, Depares J, Scerri J. Being on the frontline: nurses’ experiences providing end-of-life care to adults with hematologic malignancies. J Hosp Palliat Nurs [Internet]. 2018 [acesso 15 fev 2023];20(3):237-44. DOI: 10.1097/NJH.0000000000000433
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, 2222. Ko W , Kiser-Larson N . Stress levels of nurses in oncology outpatient units. Clin J Oncol Nurs [Internet]. 2016 [acesso 15 fev 2023];20(2):158-64. DOI: 10.1188/16.CJON.158-164
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, 2626. Zambrano SC, Chur-Hansen A, Crawford GB. The experiences, coping mechanisms, and impact of death and dying on palliative medicine specialists. Palliat Support Care [Internet]. 2014 [acesso 15 fev 2023];12(4):309-16. DOI: 10.1017/S1478951513000138
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. Decisões terapêuticas exclusivamente médicas ainda são desencadeadoras negativas da fadiga por compaixão, o que é corroborado por estudos, revelando que a centralização de decisões em profissionais médicos, ignorando as demais profissões, ocasiona frustrações e sensação de impotência 2929. Pawlowytsch PWM, Kovalski E. O entendimento da morte para profissionais de saúde de um hospital geral de Santa Catarina. Saúde Meio Ambient [Internet]. 2017 [acesso 15 fev 2023];6(2):28-38. DOI: 10.24302/sma.v6i2.1107

30. Aredes JS, Giacomin KC, Firmo JOA. A práxis médica no pronto atendimento diante do paciente com sequelas crônicas: culpa, temor e compaixão. Trab Educ Saúde [Internet]. 2018 [acesso 15 fev 2023];16(3):1177-99. DOI: 10.1590/1981-7746-sol00151
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- 3131. Monteiro DT, Mendes MRJ, Beck CLC. Medidas de conforto ou distanásia: o lidar com a morte e o morrer de pacientes. Rev SBPH [Internet]. 2019 [acesso 15 fev 2023];22(2):189-210. Disponível: https://bit.ly/491TFvP
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.

Para garantir qualidade de vida na terminalidade, é preciso considerar intervenções de uma equipe multiprofissional e seus diversos saberes. Por meio dessa pluralidade de perspectivas torna-se possível acolher a totalidade e complexidade do sofrimento humano, deixando a tecnologia voltada à cura e tornando a pessoa a prioridade e o centro de cuidado 3232. Gonçalves MB, Ciochetti AB, Rocha JA, Silva JJ, Carvalho RT. Dilemas de ordem moral nas decisões médicas em cuidados paliativos. Rev Iberoam Bioet [Internet]. 2019 [acesso 15 fev 2023];(11):1-19. DOI: 10.14422/rib.i11.y2019.009
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.

Assim, centralizar a decisão no médico é perpetuar a cultura medicalocêntrica, que ocasiona também sofrimento a essa categoria profissional, devido às limitações próprias da atuação. Nesse sentido, é necessário um olhar mais abrangente, uma escuta empática e uma corresponsabilização, não somente com demais profissionais, mas também com pacientes e familiares, por meio de discussões e diálogo 3030. Aredes JS, Giacomin KC, Firmo JOA. A práxis médica no pronto atendimento diante do paciente com sequelas crônicas: culpa, temor e compaixão. Trab Educ Saúde [Internet]. 2018 [acesso 15 fev 2023];16(3):1177-99. DOI: 10.1590/1981-7746-sol00151
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31. Monteiro DT, Mendes MRJ, Beck CLC. Medidas de conforto ou distanásia: o lidar com a morte e o morrer de pacientes. Rev SBPH [Internet]. 2019 [acesso 15 fev 2023];22(2):189-210. Disponível: https://bit.ly/491TFvP
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32. Gonçalves MB, Ciochetti AB, Rocha JA, Silva JJ, Carvalho RT. Dilemas de ordem moral nas decisões médicas em cuidados paliativos. Rev Iberoam Bioet [Internet]. 2019 [acesso 15 fev 2023];(11):1-19. DOI: 10.14422/rib.i11.y2019.009
https://doi.org/10.14422/rib.i11.y2019.0...
- 3333. Lago PM, Devictor D, Piva JP, Bergounioux J. Cuidados de final de vida em crianças: perspectivas no Brasil e no mundo. J Pediatr (Rio J) [Internet]. 2007 [acesso 15 fev 2023];83(2):S110-6. DOI: 10.1590/S0021-75572007000300013
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.

A alta carga de trabalho, a falta de apoio e a preparação inadequada também foram identificadas como fatores estressantes, porém em menor grau 2222. Ko W , Kiser-Larson N . Stress levels of nurses in oncology outpatient units. Clin J Oncol Nurs [Internet]. 2016 [acesso 15 fev 2023];20(2):158-64. DOI: 10.1188/16.CJON.158-164
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. A problemática leva pessoas a abandonar o emprego, gerando gastos com o treinamento de novos profissionais 2121. Grech A, Depares J, Scerri J. Being on the frontline: nurses’ experiences providing end-of-life care to adults with hematologic malignancies. J Hosp Palliat Nurs [Internet]. 2018 [acesso 15 fev 2023];20(3):237-44. DOI: 10.1097/NJH.0000000000000433
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. Dessa forma, queda na qualidade do trabalho, absenteísmo e rotatividade de profissionais são apontados como prejudiciais às empresas em termos financeiros e ao próprio sistema governamental, com afastamentos precoces e gastos públicos em saúde 3030. Aredes JS, Giacomin KC, Firmo JOA. A práxis médica no pronto atendimento diante do paciente com sequelas crônicas: culpa, temor e compaixão. Trab Educ Saúde [Internet]. 2018 [acesso 15 fev 2023];16(3):1177-99. DOI: 10.1590/1981-7746-sol00151
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.

Correlação entre fadiga por compaixão e finitude

Poucos estudos caracterizaram de forma significativa a amostra estudada, contudo aqueles que o fizeram apresentaram contraste em seus resultados. Um dos estudos apontou que a experiência profissional não demonstrou diferença significativa no “lidar com a morte” 11. Foucault M. Microfísica do poder. 8ª ed. Rio de Janeiro: Graal; 1989. , porém, outro identificou que, no início do percurso profissional, encontra-se maior dificuldade em lidar com a morte de pacientes, aumentando o risco de desenvolver fadiga por compaixão 1919. Phillips CS, Volker DL. Riding the roller coaster: a qualitative study of oncology nurses’ emotional experience in caring for patients and their families. Cancer Nurs [Internet]. 2020 [acesso 15 fev 2023];43(5):E283-90. DOI: 10.1097/NCC.0000000000000734
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. Assim, não é possível determinar diferenças características, como sexo ou idade, que se relacionem à maior ou menor probabilidade de vivenciar esse tipo de sofrimento.

Ao verificar a hipótese de que a fadiga por compaixão e o esgotamento estariam interligados – permanecendo a satisfação por compaixão independente, sem interligação com a fadiga por compaixão –, ficou evidente que a generalização dessa relação pode ser conflituosa. Aspectos culturais interferem no processo de enfrentamento e, consequentemente, na satisfação no trabalho, podendo ser vivenciadas ambas as situações simultaneamente, fadiga e satisfação por compaixão 1616. Oliver A, Galiana L, Simone G, Tomás JM, Arena F, Linzitto J et al. Palliative care professionals’ inner lives: cross-cultural application of the awareness model of self-care. Healthcare (Basel) [Internet]. 2021 [acesso 15 fev 2023];9(1):81. DOI: 10.3390/healthcare9010081 .

Os estudos 1616. Oliver A, Galiana L, Simone G, Tomás JM, Arena F, Linzitto J et al. Palliative care professionals’ inner lives: cross-cultural application of the awareness model of self-care. Healthcare (Basel) [Internet]. 2021 [acesso 15 fev 2023];9(1):81. DOI: 10.3390/healthcare9010081 , 1818. Pattison N, Droney J, Gruber P. Burnout: caring for critically ill and end-of-life patients with cancer. Nurs Crit Care [Internet]. 2020 [acesso 15 fev 2023];25(2):93-101. DOI: 10.1111/nicc.12460
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, 2323. Pereira SM, Teixeira CM, Carvalho AS, Hernández-Marrero P. Compared to palliative care, working in intensive care more than doubles the chances of burnout: results from a nationwide comparative study. PLoS One [Internet]. 2016 [acesso 15 fev 2023];11(9):e0162340. DOI: 10.1371/journal.pone.0162340 , 2424. Sansó N, Galiana L, Oliver A, Pascual A, Sinclair S, Benito E. Palliative care professionals’ inner life: exploring the relationships among awareness, self-care, and compassion satisfaction and fatigue, burnout, and coping with death. J Pain Symptom Manage [Internet]. 2015 [acesso 15 fev 2023];50(2):200-7. DOI: 10.1016/j.jpainsymman.2015.02.013
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demonstraram relações que não devem ser generalizadas, principalmente sobre a formação específica para cuidados relacionados à morte e a vivência simultânea de satisfação por compaixão e burnout . Aspectos subjetivos e culturais podem estar associados aos resultados, de modo que, por mais que profissionais vivenciem sofrimento, com sentimento de culpa e fracasso, não necessariamente apresentam fadiga por compaixão, talvez por não reconhecerem tais características como negativas à prática profissional, mas como esperadas para o contexto 1717. Laor-Maayany R, Goldzweig G, Hasson-Ohayon I, Bar-Sela G, Engler-Gross A, Braun M. Compassion fatigue among oncologists: the role of grief, sense of failure, and exposure to suffering and death. Support Care Cancer [Internet]. 2020 [acesso 15 fev 2023];28(4):2025-31. DOI: 10.1007/s00520-019-05009-3 .

Atrelado à hipótese anterior, também cabe ressaltar o pressuposto de que pertencer a uma equipe de cuidados paliativos possibilita maior satisfação por compaixão em relação a outras áreas. Por outro lado, apesar de profissionais intensivistas vivenciarem maiores chances de burnout , principalmente na característica de exaustão e despersonalização, apresentam também maior satisfação por compaixão em sua atuação 1818. Pattison N, Droney J, Gruber P. Burnout: caring for critically ill and end-of-life patients with cancer. Nurs Crit Care [Internet]. 2020 [acesso 15 fev 2023];25(2):93-101. DOI: 10.1111/nicc.12460
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, 2323. Pereira SM, Teixeira CM, Carvalho AS, Hernández-Marrero P. Compared to palliative care, working in intensive care more than doubles the chances of burnout: results from a nationwide comparative study. PLoS One [Internet]. 2016 [acesso 15 fev 2023];11(9):e0162340. DOI: 10.1371/journal.pone.0162340 . Os autores não conseguiram definir possíveis fatores, mas consideraram que o ambiente de trabalho e o apoio social entre profissionais sejam indicadores para intensivistas se sentirem mais recompensados em seu cotidiano profissional, influenciando na capacidade de lidar com a morte 1616. Oliver A, Galiana L, Simone G, Tomás JM, Arena F, Linzitto J et al. Palliative care professionals’ inner lives: cross-cultural application of the awareness model of self-care. Healthcare (Basel) [Internet]. 2021 [acesso 15 fev 2023];9(1):81. DOI: 10.3390/healthcare9010081 , 2020. Chang WP. How social support affects the ability of clinical nursing personnel to cope with death. Appl Nurs Res [Internet]. 2018 [acesso 15 fev 2023];44:25-32. DOI: 10.1016/j.apnr.2018.09.005
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.

Os principais motivos relatados pelos participantes em relação à exaustão profissional foram trabalho noturno, conflitos com outros profissionais, pacientes e familiares, e experiência de morte de pacientes 2323. Pereira SM, Teixeira CM, Carvalho AS, Hernández-Marrero P. Compared to palliative care, working in intensive care more than doubles the chances of burnout: results from a nationwide comparative study. PLoS One [Internet]. 2016 [acesso 15 fev 2023];11(9):e0162340. DOI: 10.1371/journal.pone.0162340 . Em contrapartida, paliativistas ressaltaram que a realização profissional depende principalmente da possibilidade de um olhar integral ao paciente, do controle de sintomas e de uma morte pacífica, isto é, sem medidas invasivas desnecessárias, possibilitando apoio emocional a pacientes e familiares 2626. Zambrano SC, Chur-Hansen A, Crawford GB. The experiences, coping mechanisms, and impact of death and dying on palliative medicine specialists. Palliat Support Care [Internet]. 2014 [acesso 15 fev 2023];12(4):309-16. DOI: 10.1017/S1478951513000138
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.

Em pesquisas conduzidas no Brasil, percebe-se que o fator cultural interfere significativamente na forma como o profissional maneja o cuidado diante da finitude do paciente, considerando que a medicina na América do Sul caracteriza-se por forte componente paternalista, como acontece no sul da Europa. Segundo Lago e colaboradores 3333. Lago PM, Devictor D, Piva JP, Bergounioux J. Cuidados de final de vida em crianças: perspectivas no Brasil e no mundo. J Pediatr (Rio J) [Internet]. 2007 [acesso 15 fev 2023];83(2):S110-6. DOI: 10.1590/S0021-75572007000300013
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, a cultura desses países, incluindo o Brasil, predispõe à visão de que a vida deve ser mantida a qualquer custo, desvalorizando a autonomia do paciente e privilegiando as decisões da equipe médica.

Dessa forma, as condutas são baseadas no conceito de beneficência e motivadas pelos valores culturais e morais de cada equipe, diante de decisões complexas que envolvem conflitos culturais, traumas emocionais, questionamento sobre valores pessoais e, inclusive, receios de ordem legal 3434. Lago PM , Devictor D , Piva JP , Bergounioux J . Op. cit . p. S113 .

A prática da distanásia pode ser evitada caso o profissional tenha formação e competência técnica e emocional, além de flexibilidade para discutir acerca da terminalidade e adotar uma postura mais adequada diante do paciente que está em finitude. Para isso, pode-se colocar em discussão o próprio plano terapêutico com a equipe multiprofissional, compreendendo os pontos de vista de cada profissional, em uma perspectiva de cuidado ampliado 3535. Ferreira JMG, Nascimento JL, Sá FC. Profissionais de saúde: um ponto de vista sobre a morte e a distanásia. Rev Bras Educ Méd [Internet]. 2018 [acesso 15 fev 2023];42(3):87-96. DOI: 10.1590/1981-52712015v42n3RB20170134
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. O diálogo empático e genuíno com paciente, família e equipe é importante ferramenta para evitar práticas nocivas, não só para o paciente, mas para todos os envolvidos no cuidado.

Propostas de autocuidado e competência para a morte

Estudos sugeriram intervenções psicológicas, como grupos terapêuticos, espaços de discussão e debriefing 1818. Pattison N, Droney J, Gruber P. Burnout: caring for critically ill and end-of-life patients with cancer. Nurs Crit Care [Internet]. 2020 [acesso 15 fev 2023];25(2):93-101. DOI: 10.1111/nicc.12460
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, 2222. Ko W , Kiser-Larson N . Stress levels of nurses in oncology outpatient units. Clin J Oncol Nurs [Internet]. 2016 [acesso 15 fev 2023];20(2):158-64. DOI: 10.1188/16.CJON.158-164
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, 2626. Zambrano SC, Chur-Hansen A, Crawford GB. The experiences, coping mechanisms, and impact of death and dying on palliative medicine specialists. Palliat Support Care [Internet]. 2014 [acesso 15 fev 2023];12(4):309-16. DOI: 10.1017/S1478951513000138
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como forma de amenizar a angústia e melhorar a relação entre profissional e paciente 1717. Laor-Maayany R, Goldzweig G, Hasson-Ohayon I, Bar-Sela G, Engler-Gross A, Braun M. Compassion fatigue among oncologists: the role of grief, sense of failure, and exposure to suffering and death. Support Care Cancer [Internet]. 2020 [acesso 15 fev 2023];28(4):2025-31. DOI: 10.1007/s00520-019-05009-3 , 2121. Grech A, Depares J, Scerri J. Being on the frontline: nurses’ experiences providing end-of-life care to adults with hematologic malignancies. J Hosp Palliat Nurs [Internet]. 2018 [acesso 15 fev 2023];20(3):237-44. DOI: 10.1097/NJH.0000000000000433
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. Valorização da atuação profissional e liderança construtiva também foram apontados 1717. Laor-Maayany R, Goldzweig G, Hasson-Ohayon I, Bar-Sela G, Engler-Gross A, Braun M. Compassion fatigue among oncologists: the role of grief, sense of failure, and exposure to suffering and death. Support Care Cancer [Internet]. 2020 [acesso 15 fev 2023];28(4):2025-31. DOI: 10.1007/s00520-019-05009-3 , 1818. Pattison N, Droney J, Gruber P. Burnout: caring for critically ill and end-of-life patients with cancer. Nurs Crit Care [Internet]. 2020 [acesso 15 fev 2023];25(2):93-101. DOI: 10.1111/nicc.12460
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, assim como apoio psicológico de colegas de trabalho, momentos de descontração com pacientes e equipe, melhora do sono e alimentação, prática da espiritualidade, meditação e atividades recreativas 1818. Pattison N, Droney J, Gruber P. Burnout: caring for critically ill and end-of-life patients with cancer. Nurs Crit Care [Internet]. 2020 [acesso 15 fev 2023];25(2):93-101. DOI: 10.1111/nicc.12460
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, 2020. Chang WP. How social support affects the ability of clinical nursing personnel to cope with death. Appl Nurs Res [Internet]. 2018 [acesso 15 fev 2023];44:25-32. DOI: 10.1016/j.apnr.2018.09.005
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, 2222. Ko W , Kiser-Larson N . Stress levels of nurses in oncology outpatient units. Clin J Oncol Nurs [Internet]. 2016 [acesso 15 fev 2023];20(2):158-64. DOI: 10.1188/16.CJON.158-164
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, 2626. Zambrano SC, Chur-Hansen A, Crawford GB. The experiences, coping mechanisms, and impact of death and dying on palliative medicine specialists. Palliat Support Care [Internet]. 2014 [acesso 15 fev 2023];12(4):309-16. DOI: 10.1017/S1478951513000138
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.

A construção de significado sobre o ciclo da vida, o aprendizado pessoal e a participação em funerais foram descritos em um estudo e considerados importantes para a oferta e continuidade de suporte e cuidado integral. A possibilidade de elaborar o luto profissional ao acompanhar familiares no momento do velório mostrou-se uma oportunidade para refletir sobre as vivências profissionais e pessoais e um encerramento adequado para a relação profissional-paciente-família, contribuindo para um autocuidado de melhor qualidade 2626. Zambrano SC, Chur-Hansen A, Crawford GB. The experiences, coping mechanisms, and impact of death and dying on palliative medicine specialists. Palliat Support Care [Internet]. 2014 [acesso 15 fev 2023];12(4):309-16. DOI: 10.1017/S1478951513000138
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.

Ressaltam-se, novamente, os aspectos culturais envolvidos no cuidado do paciente paliativo e suas características, como a idade. As percepções morais que permeiam o sofrimento diante do morrer, principalmente quando os pacientes são mais jovens, ocasionam questionamentos sobre o ideal de morte. Isso se relaciona principalmente às teorias de que a criança é incapaz de elaborar sua morte, em virtude de sua cognição, e de que o adulto teve a oportunidade de usufruir da vida e de se realizar, enquanto a mesma condição não foi possível para a criança 3636. Menezes RA, Barbosa PC. A construção da “Boa Morte” em diferentes etapas da vida: reflexões em torno do ideário paliativista para adultos e crianças. Ciênc Saúde Colet [Internet]. 2013 [acesso 15 fev 2023];18(9):2653-62. p. 2660. DOI: 10.1590/S1413-81232013000900020 , acarretando grande mobilização emocional.

A formação específica para cuidados paliativos possibilitou melhora na compreensão e condução de cuidados de pacientes em fim de vida. A maioria dos estudos sugere continuidade de treinamento profissional e implementação de novas estratégias de autocuidado profissional, incluindo atualização constante e prática de saúde baseada em evidência, como forma de fornecer atendimento de qualidade. Assim, auxilia-se a equipe no desenvolvimento de habilidades de enfrentamento em contextos permeados por sofrimento, a fim de diminuir as possibilidades de esgotamento e fadiga 1616. Oliver A, Galiana L, Simone G, Tomás JM, Arena F, Linzitto J et al. Palliative care professionals’ inner lives: cross-cultural application of the awareness model of self-care. Healthcare (Basel) [Internet]. 2021 [acesso 15 fev 2023];9(1):81. DOI: 10.3390/healthcare9010081 , 1919. Phillips CS, Volker DL. Riding the roller coaster: a qualitative study of oncology nurses’ emotional experience in caring for patients and their families. Cancer Nurs [Internet]. 2020 [acesso 15 fev 2023];43(5):E283-90. DOI: 10.1097/NCC.0000000000000734
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, 2020. Chang WP. How social support affects the ability of clinical nursing personnel to cope with death. Appl Nurs Res [Internet]. 2018 [acesso 15 fev 2023];44:25-32. DOI: 10.1016/j.apnr.2018.09.005
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, 2323. Pereira SM, Teixeira CM, Carvalho AS, Hernández-Marrero P. Compared to palliative care, working in intensive care more than doubles the chances of burnout: results from a nationwide comparative study. PLoS One [Internet]. 2016 [acesso 15 fev 2023];11(9):e0162340. DOI: 10.1371/journal.pone.0162340 , 2525. Mason VM, Leslie G, Clark K, Lyons P, Walke E, Butler C, Griffin M. Compassion fatigue, moral distress, and work engagement in surgical intensive care unit trauma nurses: a pilot study. Dimens Crit Care Nurs [Internet]. 2014 [acesso 15 fev 2023];33(4):215-25. DOI: 10.1097/DCC.0000000000000056
https://doi.org/10.1097/DCC.000000000000...
, 2626. Zambrano SC, Chur-Hansen A, Crawford GB. The experiences, coping mechanisms, and impact of death and dying on palliative medicine specialists. Palliat Support Care [Internet]. 2014 [acesso 15 fev 2023];12(4):309-16. DOI: 10.1017/S1478951513000138
https://doi.org/10.1017/S147895151300013...
.

Apenas dois estudos mencionaram que a formação específica em cuidados paliativos não demonstrou diferença significativa no lidar com a finitude de pacientes, entretanto, novamente se deve considerar a questão cultural, pois os grupos que trouxeram tais resultados eram de profissionais de saúde espanhóis 1515. Costa ME, Maciel RH, Rêgo DP, Lima LL, Silva MEP, Freitas JG. Occupational burnout syndrome in the nursing context: an integrative literature review. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2017 [acesso 15 fev 2023];51:e03235. DOI: 10.1590/S1980-220X2016023403235
https://doi.org/10.1590/S1980-220X201602...
, 2323. Pereira SM, Teixeira CM, Carvalho AS, Hernández-Marrero P. Compared to palliative care, working in intensive care more than doubles the chances of burnout: results from a nationwide comparative study. PLoS One [Internet]. 2016 [acesso 15 fev 2023];11(9):e0162340. DOI: 10.1371/journal.pone.0162340 . Na Espanha, os cuidados paliativos têm maior difusão e, segundo os próprios autores, a extensa capacitação ao longo da formação para a atuação em saúde, associada a uma cultura que aborda temáticas relacionadas ao morrer com mais frequência, faz com que os profissionais se sintam capazes em sua atuação, sem associar seu sofrimento à falta de conhecimento teórico.

De acordo com a pesquisa de Chan e Tin 3737. Chan WC, Tin AF. Beyond knowledge and skills: self-competence in working with death, dying, and bereavement. Death Stud [Internet]. 2012 [acesso 15 fev 2023];36(10):899-913. DOI: 10.1080/07481187.2011.604465 , a competência para morte é classificada como uma habilidade que envolve competência prática, pessoal, existencial, emocional e ambiental. Como parte de tal habilidade, pode-se dizer que experiência profissional, iniciativa em aprender, colaboração em equipe, percepção ampliada, criatividade, preocupação, flexibilidade e compaixão são fundamentais para o desenvolvimento dessa soft skill , associando a ela a compreensão da inevitabilidade da morte e dos limites da existência humana.

Os estudos desta revisão enfatizam que a competência em lidar com a morte promoveu níveis mais elevados de satisfação compassiva, funcionando como protetores da fadiga e do esgotamento 1616. Oliver A, Galiana L, Simone G, Tomás JM, Arena F, Linzitto J et al. Palliative care professionals’ inner lives: cross-cultural application of the awareness model of self-care. Healthcare (Basel) [Internet]. 2021 [acesso 15 fev 2023];9(1):81. DOI: 10.3390/healthcare9010081 . Os achados ratificam a ideia de que a prática do autocuidado e a ampliação da percepção diante do morrer são fatores importantes, ligados diretamente à qualidade de vida dos profissionais e do cuidado ao paciente 2424. Sansó N, Galiana L, Oliver A, Pascual A, Sinclair S, Benito E. Palliative care professionals’ inner life: exploring the relationships among awareness, self-care, and compassion satisfaction and fatigue, burnout, and coping with death. J Pain Symptom Manage [Internet]. 2015 [acesso 15 fev 2023];50(2):200-7. DOI: 10.1016/j.jpainsymman.2015.02.013
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. Além disso, ressalta-se a necessidade de mais estudos acerca da temática e da funcionalidade das estratégias adotadas.

Geralmente, tanto o Brasil como os demais países participantes das pesquisas analisadas reforçam a importância da continuidade de capacitação e estudos de cuidados paliativos e tanatologia. O processo de finitude de vida requer que os profissionais da saúde estejam preparados não só para a prática, mas também para as demais competências relacionadas à morte, com o objetivo de possibilitar um olhar integrativo diante da finitude e do cuidado da tríade paciente-família-equipe 3838. Sousa JV, Gonçalves GC, Almeida DRMF, Leite FB, Pinheiro JC, Melo AM. Aspectos atuais na formação e preparação dos profissionais da saúde frente aos cuidados paliativos. PubSaúde [Internet]. 2020 [acesso 15 fev 2023];3:A045. DOI: 10.31533/pubsaude3.a045
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.

Nesse sentido, ressalta-se que a ausência do ensino e das abordagens pedagógicas de cuidados paliativos durante a graduação da área da saúde inviabiliza conhecimentos fundamentais 3838. Sousa JV, Gonçalves GC, Almeida DRMF, Leite FB, Pinheiro JC, Melo AM. Aspectos atuais na formação e preparação dos profissionais da saúde frente aos cuidados paliativos. PubSaúde [Internet]. 2020 [acesso 15 fev 2023];3:A045. DOI: 10.31533/pubsaude3.a045
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, no âmbito profissional e pessoal. Assim, é de extrema necessidade inserir esses temas nas grades curriculares, propiciando empatia e habilidades requeridas.

Considerações finais

Conclui-se que lidar com a finitude de pacientes de forma constante pode desencadear fadiga por compaixão em profissionais de saúde, principalmente quando medidas distanásicas são associadas aos cuidados. Medidas fúteis ocasionam nos profissionais questionamentos morais e sentimento de invalidação diante de decisões que predominantemente ainda são médicas.

As principais estratégias de coping adotadas foram o debriefing (momento de reflexão e discussão de práticas e casos) e práticas integrativas como meditação, momentos de descontração em equipe e apoio de colegas, além de uma liderança construtiva. A formação profissional para o cuidado de pacientes em finitude é ressaltada como aspecto importante na prevenção da fadiga por compaixão e manejo do cuidado, principalmente em países que ainda estão desenvolvendo práticas efetivas de cuidados paliativos, considerando seu contexto cultural. Por fim, ressalta-se a necessidade de mais estudos sobre o tema, principalmente no Brasil.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Mar 2024
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    15 Abr 2022
  • rev-rec
    19 Nov 2022
  • Aceito
    20 Nov 2022
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