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Editorial

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EDITORIAL

Dialogismo e polifonia são dois conceitos centrais para o pensamento bakhtiniano, mobilizados não somente no âmbito exclusivo desses estudos, mas especialmente reconhecidos e apropriados, há algumas décadas, por várias outras tendências dos estudos da linguagem. Conhecendo a produtiva e, por vezes, polêmica circulação desses dois termos, tomados como categorias, noções, conceitos, dependendo da compreensão e do interesse dos pesquisadores que os acolhem, Bakhtiniana propôs para seu primeiro número de 2013 o tema A produtividade dos conceitos de dialogismo e polifonia nos estudos da linguagem. E obteve, como esperava, um expressivo número de submissões. Consequentemente, a atuação dos pareceristas e das duas editorias, português e inglês, foi muito grande para, em meio a tantos textos de qualidade, chegar aos quinze artigos que compõem este número: v.8, n.1 (2013)

Como se verá, são artigos diversos no que diz respeito ao enfrentamento dos dois conceitos e, algumas vezes, à tentativa de articulá-los. Alguns se voltaram mais à reflexão teórica. Outros, contando com as especificidades dos conceitos, com a possibilidade de articulá-los e, ainda, com seu possível enlace com outras noções e categorias, elegeram-nos como caminho para a leitura de corpus representativo de práticas sociais, culturais, discursivas, de diferentes momentos, de diversificado interesse para a pesquisa da linguagem em uso. O resultado, sem dúvida, beneficia tanto a teoria como sua intensa e necessária mobilização.

O conjunto, por sua vez, revela reflexões e experiências de pesquisadores da linguística, da linguística aplicada, da literatura, da linguagem de forma geral: são 15 artigos inéditos, congregando pesquisadores do Brasil, da Argentina (Universidade de Buenos Aires) e do Uruguai (Universidad de la República, Montevideo, Uruguay), todos avaliados pelo processo de avaliação cega, por mais de um parecerista, como exigem as normas atuais de publicação de periódicos. As instituições brasileiras estão assim representadas: um artigo e uma resenha de instituições paulistas (UNESP e PUC-SP); um artigo do Tocantins (UFT); dois de Minas Gerais (UFTM e UNIUBE); dois do Rio de Janeiro (UERJ e UNISUAM), três do Paraná (UTFPR e UNIOESTE), dois da Bahia (UESC); dois da região sul (UFSM e UcPel/UniRitter), aos quais se soma uma resenha também do sul (UFSM). Esse quadro revela, sem dúvida, a maneira como as pesquisas em torno dos estudos do discurso (literário e não literário), aqui convocadas a partir dos estudos bakhtinianos e seus diálogos com outras tendências, estão distribuídas por diferentes regiões brasileiras, em instituições públicas e privadas.

É preciso destacar, incialmente, o enfoque bakhtiniano em relação a importantes obras das literaturas brasileira e portuguesa, mobilizando aspectos teóricos e/ou empíricos, presentes em seis dos quinze artigos. Esse número expressivo de reflexões atesta a produtividade não apenas dos conceitos em pauta, mas da análise dialógica para a leitura e interpretação das significativas produções literárias escolhidas. Esse é o caso dos artigos de Maria Geralda de Miranda, de Raquel Trentin Oliveira/Gérson Werlang, de André Luis Mitidieri, de Eduardo Lopes Piris/Darling Moreira do Nascimento, e de Angela Maria Rubel Fanini.

O domínio dos estudos linguísticos/discursivos está representado por cinco artigos que oferecem ao leitor elementos consistentes para a discussão em torno do pensamento bakhtiniano relativo aos conceitos de dialogia e polifonia, considerando tanto algumas especificidades teóricas quanto condições históricas de produção e recepção. Três estão mais voltados para a reflexão teórica -caso dos de Michelle Dominguez, Vera Lúcia Pires/Adail Sobral, e Renata Marchezan. E dois, de Irene de Lima Freitas e de María Alejandra Vitale, empreendem, respectivamente, a leitura de questões observadas na imprensa: o sentido de revolução e revolución, no contraste entre textos da imprensa brasileira e argentina, e a perspectiva sobre cotas, em cartas de leitores de uma revista brasileira.

A relação entre linguagem, educação, ensino/aprendizagem, a qual poderíamos incluir na grande designação Linguística Aplicada, também está representada neste número. De posse da perspectiva dialógica -algumas vezes articulada a categorias advindas de outras tendências dos estudos da linguagem –, quatro artigos voltam seus olhares à escrita acadêmica, à alfabetização, às práticas de letramento, ao ensino e à pesquisa de forma geral. Estão assinados por Lívia Chaves de Melo/Adair Vieira Gonçalves/Wagner Rodrigues Silva, Virginia Orlando, Anselmo Pereira de Lima, Ivete Janice de Oliveira Brotto/Maria Lidia Sica Szymanski.

As resenhas, por sua vez, tratam de obras, sem dúvida fundamentais para todos nós, pesquisadores, autores e leitores. A primeira, realizada por Márcia Dresch (UFP/RS), mostra a importância da obra História das ideias: diálogos entre linguagem, cultura e história. Organizada pela pesquisadora e estudiosa da obra do Círculo, Ana Zandwais, que tem colaborado de forma significativa no sentido da tradução e divulgação dos estudos eslavistas, a obra apresenta 12 textos escritos por linguistas e analistas do discurso, brasileiros e estrangeiros, que tratam, entre outros, de estudos linguísticos na Rússia e na União Soviética do final do século XIX até meados do século XX. A resenha escrita por Ana Raquel Motta (pós-doc LAEL/PUC-SP) traz para o leitor de Bakhtiniana a obra Enunciação e discurso: tramas de sentidos, organizada por Maria da Glória Di Fanti e Leci Borges Barbisan, em que onze pesquisadores brasileiros e um francês abordam fenômenos da linguagem a partir de diferentes teorias do texto e do discurso.

Como se observa, participam deste número 23 autores, entre articulistas e resenhistas, pertencentes a 18 IES, sendo 16 universidades nacionais e 2 estrangeiras. Mais uma vez, Bakhtiniana cumpre seu objetivo de promover e divulgar pesquisas produzidas no campo dos estudos do discurso, reunidas semestralmente, escritas por pesquisadores do Brasil e do exterior, com alcance internacional, deixando aos leitores a oportunidade de conhecer, aproveitar e avaliar trabalhos que vêm sendo realizados nos diferentes âmbitos dos estudos da linguagem e, em especial, do discurso sob a perspectiva dialógica.

Beth Brait & Maria Helena Cruz Pistori

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Jul 2013
  • Data do Fascículo
    Jun 2013
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