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Tripanossomíase cerebral e SIDA

Uma mulher negra de 36 anos, procurou a emergência do hospital com quadro de cefaléia holocraniana há 1 mês. Evoluiu com náuseas e vômitos, sonolência e diminuição da memória, associadas a emagrecimento, sem história de febre. Tabagista, usuária de drogas endovenosas, história de promiscuidade sexual. Exame físico: hemianopsia homômima esquerda, hemiparesia esquerda, sem papiledema, hiperreflexia profunda difusa e lentificação dos movimentos. A TC de crânio mostou lesão expansiva no esplênio do corpo caloso com 3,5 x 1,4 cm, com impregnação heterogênea pelo contraste, sugestiva de tumor primário do SNC. Por causa da possibilidade de neuroinfecção, foi realizada uma punção lombar que revelou pressão de abertura de 380 mmH2O; 11 leucócitos (mononucleares), glicose 18 mg/dl (glicemia 73mg/dl), proteínas 139 mg/dl, presença de parasitas com características de Trypanossoma. Testes para HIV foram reagentes. Iniciado tratamento com benzonidazol, a paciente apresentou melhora neurológica e tomográfica. Faleceu 6 semanas após, por insuficiência respiratória. A infecção por T. cruzi no SNC é entidade rara, observando-se número crescente de casos em pacientes imunocomprometidos por infecção pelo HIV. O diagnóstico por exame direto no líquor é incomum, em sua maioria sendo os casos diagnosticados por exame anátomo-patológico (biópsia ou necrópsia). É doença de alta letalidade, mesmo com diagnóstico e tratamento adequados. É necesário incluir a tripanossomíase cerebral no diagnóstico diferencial das patologias expansivas intracranianas, principalmente em pacientes imunodeprimidos e provenientes de áreas endêmicas.

tripanossomíase; tripanosoma cruzi; SIDA; benzonidazol; nifurtimox


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