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Sobre a mensuração da dor de uma perspectiva neurocirúrgica

Comentário crítico sobre a seleção de pacientes com síndromes dolorosas crônicas para tratamento cirúrgico. A literatura sobre a mensuração da dor é vasta e os métodos de uso clínico corrente (escalas verbais e analógicas, métodos psicofísicos, testes psicológicos e estudo do comportamento não-verbal entre outros), proporcionam uma impressão subjetiva do fenômeno doloroso, baseando-se no relato do paciente, em seus tragos de personalidade e comportamento. A ausência de escala de dor fundamentada em parâmetros objetivos e abrangentes, a exemplo das escalas de coma, não permite que se estabeleçam grupos homogêneos de pacientes para comparação dos resultados. A escala de Hitchcock representa um avanço nessa direção, sendo a dor classificada em 5 graus em função da necessidade de analgésicos para o seu controle: Grau I, ausência de dor; Grau II, dor infrequente, com alívio completo obtido por analgésicos fracos não-narcóticos; Grau III, dor freqüente, com alívio completo obtido por analgésicos fracos não-narcóticos; Grau IV, dor constante, com alívio completo obtido por analgésicos narcóticos potentes; Grau V, dor constante, com alívio incompleto obtido por analgésicos narcóticos potentes. Essa escala pode ser empregada por qualquer equipe cirúrgica com atuação na área, porém sua validade é muito limitada por ser unidimensional (parece-nos particularmente útil na gradação da dor neoplásica). Uma escala de uso mais amplo deverá ser necessariamente multiaxial. A importância do exame psiquiátrico na indicação operatória é destacado, em particular nos casos de doença não-maligna e de substrato anátomo-patológico insuficientemente conhecido. A classificação de Lindqvist para os candidatos a cirurgia correlaciona os diagnósticos anatômico e psiquiátrico, contribuindo no processo decisório: Grupo A, casos neurológicos sem componentes psiquiátricos; Grupo B, casos com desordens psíquicas mais ou menos evidentes, que são irrelevantes para a doença em questão ou secundárias a elas; os fatores psiquiátricos são graduados em leves (B 1), moderados (B 2) e severos (B 3); Grupo C, componentes psiquiátricos consideráveis, porém cuja importância é, no momento, incerta; Grupo D, casos com desordens psíquicas que devem ser tratadas antes que se considere a conduta cirúrgica; Grupo E, casos nos quais o exame psiquiátrico demonstra que a cirurgia é desnecessária ou está contra-indicada.


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