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Análises de livros

Análises de livros

CEREBRAL ANGIOMAS — ADVANCES IN DIAGNOSIS AND THERAPY. H. W. Pia, J. R. W. Gleave, E. Grote e J. Zierski, editores. Um volume com 282 páginas e 161 figuras. Springer Verlag Berlin-Heidelberg-New York, 1975.

Os princípios básicos do tratamento das malformações arteriovenosas cerebrais foram estabelecidos durante as primeiras fases da agressão neuro-cirúrgica dessas afecções, entre 1930 e 1960. A experiência, até essa época, demonstrara que a exerese completa do angioma arteriovenoso era a única cura certa e, desde então, foi considerada como o processo terapêutico de escolha. Numa segunda fase, importantes aquisições e técnicas de diagnóstico se desenvolveram como, por exemplo, a angiografia total, a angiografia seletiva e super-seletiva, a angiografia intra-operatória e pela fluoresceina, assim como o mapeamento pelo M.E.I. Ao mesmo tempo, novos aspectos fisiopatológicos puderam ser investigados, através de medidas diretas e indiretas do fluxo sangüíneo cerebral, regional e geral. Paralelamente a essas aquisições, novas técnicas operatórias foram desenvolvidas, melhoradas ou modificadas. Assim, uma atitude mais agressiva tem sido ensaiada em alguns desses angiomas que, anos atrás, eram considerados como inoperáveis. Entre esses processos modernos distinguem-se as técnicas microcirúrgicas, combinadas com métodos estereotáxicos, a embolização artificial em diferentes modalidades, assim como o tratamento pela criocirurgia. Muitas variáveis, como, por exemplo, a idade do paciente, o tipo, a localização, as dimensões do angioma, seus aspectos clínicos e suas possíveis complicações (principalmente hemorragias), têm sido equacionadas e melhor compreendidas, de forma a influenciar na escolha do processo terapêutico mais apropriado em cada caso.

No presente livro, comemorativo do 20.° aniversário de instalação do Serviço de Neurocirurgia da Universidade de Giessen, sob a direção do Prof. H. W. Pia, estão transcritos os trabalhos sobre os angiomas cerebrais, expostos em Congresso Médico destinado à investigação deste único assunto. Na introdução, o Prof. Pia analisa as indicações e as contra-indicações do tratamento dos angiomas. A seguir, em nove capítulos são investigados seus aspectos morfológicos, clínicos, angiográficos e fisiopatológicos. Numa segunda parte, destinada à revisão das mais modernas atitudes terapêuticas, são revistos os tratamentos operatórios macro e microcirúrgicos, a terapêutica criocirúrgica, a embolização artificial, a radioterapia e, finalmente, a história natural da afecção. Nesta série de trabalhos são quase que exclusivamente considerados os problemas práticos relacionados com os angiomas intracerebrais inoperáveis. Esses últimos são classificados como uma malformação que não pode ser excisada ou ocluida pelas técnicas neuro-cirúrgicas clássicas sem que se produzam deficits neurológicos graves, quer devido à localização nas regiões centrais do encéfalo ou porque se desenvolvem em áreas vitalmente ou funcionalmente importantes. Reconhecem os autores que não lhes foi possível propor soluções heróicas, particularmente no que concerne à escolha do tratamento operatório ou à técnica cirúrgica ideais. Este fato se deve principalmente a que muitas das técnicas recentemente desenvolvidas refletem apenas as experiências diversas de cirurgiões individuais e o número de pacientes a elas submetidos é ainda pequeno. No que concerne à epidemiologia, parece que aproximadamente 1/4 a 1/3 das malformações arteriovenosas cerebrais, vistas pelos clínicos ou anátomo-patologistas, ainda devem ser incluídas nas categorias de angiomas inoperáveis. No que con- cerne à radioterapia no tratamento das malformações arteriovenosas, cujos resultados eram questionáveis no passado, é hodiernamente considerada como inteiramente inútil, pelo menos a curto prazo.

R. Melaragno

STROKES — NATURAL HISTORY, PATHOLOGY AND SURGICAL TREATMENT. E. C. Hutchinson e E. J. Acheson. Um volume com 283 páginas. W. B. Saunders Co. Ltd. London-Philadelphia-Toronto, 1975.

Este livro constitui o volume IV da série "Major Problems in Neurology" editada por John N. Walton. Hutchinson e sua equipe foram dos primeiros a chamar a atenção para a importância da patologia dos vasos cerebrais extracranianos na gênese de insuficiências vasculares cerebrais, enquanto que Acheson, baseando-se em sua própria experiência e na literatura pertinente, estudou minuciosamente a história natural da isquemia cerebral. A monografia é composta por três partes: a primeira concerne à anatomia aplicada da circulação cerebral, sobretudo nas eventualidades de oclusões vasculares e com os mecanismos fisiológicos desencadeados nestes casos, com a finalidade de evitar, na medida do possível, as conseqüências nocivas na irrigação cerebral. Assim, nesta primeira parte são estudadas, por colaboradores especializados, a anatomia patológica das diferentes formas de acidentes vasculares cerebrais e, a seguir, a contribuição de estudos epidemiológicos na compreensão da história natural da isquemia cerebral. A segunda parte é concernente à história natural da isquemia cerebral transitória e do paciente acometido pelo icto, sendo considerados o papel da hipertensão arterial e o significado de eletrocardiogramas normais, assim como aumentos da área cardíaca evidenciados por estudos radiológicos. Outros fatores indiretos são também mencionados, sendo avaliada a sua importância: sede anatômica da isquemia, modo de início do quadro clínico, significado de hipercolesterolemia. Ainda nesta parte, são estudadas as causas da morte, sendo realçado o papel da hipertensão arterial. Na terceira parte são consideradas as normas gerais da terapêutica clínica e cirúrgica do acidente vascular cerebral. Interessante assinalar, no que concerne ao tratamento do paciente que apresentou um icto, duas conclusões dos autores: em primeiro lugar demonstram que o tratamento efetivo da hipertensão arterial é seguro e valioso, reduzindo a porcentagem de reincidência, da morbidade e, em última análise, também da mortalidade; além disso, novas evidências parecem consubstanciar o valor dos anticoagulantes na terapêutica dos acidentes isquêmicos transitórios, sobretudo nos primeiros dois a três meses após o episódio inicial.

R. Melaragno

SYRINGOMYELIA. H. J. M. Barnett, J. B. Foster e P. Hudgson. Um volume com 318 páginas. W. B. Saunders Co. Ltd. London-Philadelphia-Toronto, 1973.

A siringomielia, se comparada com várias outras doenças neurológicas, é afeccão incomum e, apesar de ter sido descrita há mais de 100 anos, ainda se reveste de aspectos mal compreendidos. As novas técnicas de investigação neurológica e tentativas de terapêutica neurocirúrgica reavivaram a curiosidade dos especialistas para essa condição mórbida. Acreditam os autores deste livro que a siringomielia — entendida no sentido clássico de uma afecção progressiva da medula espinhal, caracterizada por dissociações das alterações da sensibilidade, úlcera indolor e artropatias, associadas a cavitações sediadas nas porções mais centrais da medula — deve ser considerada hoje como um termo genérico abrangendo um grupo de alterações neurológicas. Os dois últimos autores desta monografia, pertencentes à escola britânica de New Castle upon Tyne, examinaram as duas principais causas desencadeantes do quadro da assim chamada "siringomielia comunicante", ambas dependentes de alterações hidrodinámicas da circulação liquórica. A primeira se associa a anomalias do desenvolvimento do rombencéfalo e região do foramen magno e, a segunda, com aracnoidites crónicas das cisternas basais. Por outro lado, Barnett, da escola canadense, estuda os casos em que as cavitações se desacompanham de comunicações ventriculares e subaracnóideas. São as siringomielias "não comunicantes", em que a cavitação depende de graves traumatismos da medula espinhal ou, então, mais raramente, de impactos menores da coluna.

Esta é a única monografia em língua inglesa já publicada e, na literatura mundial, o último trabalho sobre o assunto foi de Schlesinger, em 1902. A presente revisão, pois, muito bem elaborada e com cuidadosa revisão bibliográfica, constitui um marco importante para o estudo da afecção, incluindo suas variações clínicas, sua patogenia e seu tratamento. A primeira parte, de autoria de Foster e Hudgson, concerne à "siringomielia comunicante" e é dividida nos seguintes capítulos: introdução histórica, conceito tradicional da siringomielia, aspectos clínicos da siringomelia comunicante, tratamento cirúrgico da siringomielia comunicante, sua anatomia patológica e patogênese. A segunda parte, "siringomielia não comunicante", de autoria de Barnett, compreende os seguintes capítulos: traumatismos e siringomielia; siringomielia como conseqüência tardia de paraplegia e quadriplegia traumáticas; natureza, prognóstico e tratamento da siringomielia pós-traumática; registro de casos pessoais da siringomielia pós-traumática; siringomielia conseqüente a traumas mais moderados; anatomia patológica e patogênese da mielopatia progressiva cística como sequela tardia de traumatismo da medula espinhal; siringomielia associada a aracnoidite espinhal; patogênese da cavitação siringomiélica associada com aracnoidite e localizada na medula espinhal e, finalmente, siringomielia e tumores do sistema nervoso central.

R. Melaragno

O SUICIDIO E AS TENTATIVAS DE SUICIDIO. Eileen M. Brooke e M. Atkinson. Um volume com 144 páginas, editado pela Organização Mundial de Saúde (Cadernos de Saúde Pública n.º 58), Genève, 1975.

Em alguns países da Europa e da América do Norte o suicídio se classifica entre as 5 a 10 mais importantes causas de morte, sendo estimado que cerca de 1.000 pessoas se autoeliminam cada dia. Ressalta das estatísticas oficiais que a taxa de suicídios aumenta rapidamente entre os jovens de 15 a 24 anos e que ela está se elevando também entre crianças ainda mais jovens. As taxas de suicidio variam muito nos diferentes países; em diversos países da Europa elas se escalonaram entre 1,8 e 24,5 por 100.000 habitantes no periodo de 1968-1970, sendo esta variação explicada pela intervenção de fatores sociais, culturais, religiosos ou econômicos. É possível, entretanto, que ela seja devida simplesmente à falta de uniformidade na colheita de dados estatísticos. Se as regras e métodos empregados para a determinação do suicídio fossem uniformizadas em todos os países seria possível afirmar com mais segurança que a variação observada tenha base em diferenças reais na freqüência do suicídio.

Na primeira parte deste livro, Eileein M. Brooke e M. Atkinson revisam o problema da determinação do suicídio com base em dois estudos efetivados pela OMS por proposta do Prof. N. Kessel. Um deles consistia na comparação das decisões a que chegaram 21 avaliadores de 8 países a respeito do suicidio em 20 casos ingleses e 20 casos dinamarqueses; esta comparação mostrou que a taxa de suicídio podia ser influenciada pela variação das respostas dadas pelas pessoas que devem decidir se um óbito é devido, ou não, a suicídio. Dados suplementares sobre a variação no que concerne ao procedimento conduzindo à decisão relativa ao suicídio foram fornecidos pelas respostas de pesquisadores de 24 países a um questionário organizado pela OMS. Para melhorar as estatísticas de base foi sugerida a adoção de uma definição uniforme do suicídio e que, para os óbitos de causa indeterminada, seja prevista a inclusão, no atestado de óbito, de um espaço no qual o respon- sável indicará se o óbito foi devido, provavelmente, a suicídio, a homicídio ou a acidente.

Embora em caráter provisório este estudo serviu de base para um grupo de trabalho sobre o suicídio e as tentativas de suicídio nos jovens, reunido pelo Conselho Regional da OMS para a Europa em 1973. Um relatório sobre as deliberações deste grupo, redigido por Eileen M. Brooke, constitui a segunda parte deste livro. É de esperar que as recomendações do grupo sirvam de base para futuros trabalhos, tais como o estudo das variações regionais das taxas de suicídio, as diversas possibilidades de intervenção nas tentativas de suicídio, as diferentes formas de comportamento autodestruidor e a duração da observação necessária para determinar se foi evitada uma recidiva.

No Brasil este livro poderá ser adquirido na Biblioteca Regional de Medicina OMS/OPS, Unidade de venda de publicações, Rua Botucatu 862, Vila Clementino, 04023 São Paulo, SP (edições em inglês e francês).

Comunicado da OMS

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Abr 2013
  • Data do Fascículo
    Dez 1975
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