Morfologia e anatomia das domácias em Coffea arabica L.

Barros, Myrthes Apparecida Adâmoli de

doi:10.1590/S0071-12761960000100017

Resumos

1. A presente contribuição trata do estudo morfológico e anatômico das domácias que ocorrem em 21 variedades e 4 formas da espécie Coffea arabica L. 2. Além da revisão da literatura, que se cingiu unicamente aos trabalhos que focalizam o assunto em aprêço, constam, na introdução, algumas obras que se referem às domácias existentes em outras famílias. 3. A fim de apreciar convenientemente os conceitos que os diferentes autores expediram a respeito das domácias, desde que se tornaram conhecidas, foram registradas, no capítulo correspondente, as funções e as diversas denominações que lhes foram atribuidas. 4. As principais classificações das domácias propostas são de CHEVALIER, LEBRUM e DE WILDEMAN. As domácias das variedades e formas de Coffea arabica L., se enquadram no tipo b, isto é, domácias em fenda, segundo a classificação de CHEVALIER. 5. O material utilizado no presente estudo, constante de ramos com fôlhas de várias idades, proveio do Instituto Agronômico de Campinas e da Secção de Agricultura Especial da E.S.A. "Luiz de Queiroz". As observações morfológicas das domácias foram feitas com o auxílio do microscópio estereoscópico e constam do Quadro I e II. A estrutura anatômica foi apreciada em cortes transversais medianos da domácia, coloridos pelo violeta cristal e eritrosina, com espessura de 18 micra, cujos dados acham-se anotados nos Quadros de n.os III a XI. 6. No capítulo referente à morfologia e à anatomia das domácias, para melhor apreciação do assunto foi introduzida a estrutura anatômica da fôlha adulta da variedade typica. 7. Morfològicamente as domácias foram examinadas nas suas duas faces, isto é, superior e inferior, anotando-se-lhes os aspectos apresentados, bem como a sua localização no limbo, isto é, na axila formada pelas nervuras principal e secundárias. No geral a sua distribuição vai desde a base do limbo até aos 2/3, aproximadamente, do seu comprimento. Na face ventral da fôlha, as domácias exibem uma elevação abaulada e na dorsal situam-se na área da axila, e em um plano um pouco mais elevado que o limbo, mostrando no centro um orifício de forma variável. Em cortes medianos, a domácia revela-se constituida de uma câmara embutida no mesofilo, a qual se comunica com o exterior por um canal; êste por sua vez, termina numa bôca que se abre na epiderme inferior do limbo. Histològicamente a domácia consta de uma epiderme, procedente do limbo e da nervura, e de um tecido parênquimatoso envolvente, composto de algumas camadas de células, o qual confina com os tecidos do mesofilo. Topogràficamente a domácia situa-se entre os seguintes tecidos da estrutura foliar: sistema vascular principal, nervura secundária, parênquima lacunoso lateral e parênquima lacunoso superior. Sua posição com relação às regiões mencionadas fica perfeitamente definida, determinando-se as distâncias que vão do centro da câmara até elas.

The morphology and anatomy of domatia structures of 21 varieties and 4 strains of coffee plants (Coffea arabica L.) were studied and the resultas may be summarized as follows: 1. All the domatia structures observed belongs to type b of CHEVALIER. 2. In all coffee plants studied the domatia structures have the same tópographic position: close to the primary vein, between this and the secondary veins. 3. In each leaf the domatiae are distributed from the base up to 2/3 of the midrib length. 4. Differences in structure occur among the epidermis that lined the mouth opening, channel and chamber. No stomata were found here. 5. Te morphological and anatomical variations found in the domatia structures are not enough to distinguish apart the several coffee plant varietis studied.

Morfologia e anatomia das domácias em Coffea arabica L.

Myrthes Apparecida Adâmoli de Barros

Escola Superior de Agricultura «Luiz de Queiroz»

RESUMO

1. A presente contribuição trata do estudo morfológico e anatômico das domácias que ocorrem em 21 variedades e 4 formas da espécie Coffea arabica L.

2. Além da revisão da literatura, que se cingiu unicamente aos trabalhos que focalizam o assunto em aprêço, constam, na introdução, algumas obras que se referem às domácias existentes em outras famílias.

3. A fim de apreciar convenientemente os conceitos que os diferentes autores expediram a respeito das domácias, desde que se tornaram conhecidas, foram registradas, no capítulo correspondente, as funções e as diversas denominações que lhes foram atribuidas.

4. As principais classificações das domácias propostas são de CHEVALIER, LEBRUM e DE WILDEMAN. As domácias das variedades e formas de Coffea arabica L., se enquadram no tipo b, isto é, domácias em fenda, segundo a classificação de CHEVALIER.

5. O material utilizado no presente estudo, constante de ramos com fôlhas de várias idades, proveio do Instituto Agronômico de Campinas e da Secção de Agricultura Especial da E.S.A. "Luiz de Queiroz". As observações morfológicas das domácias foram feitas com o auxílio do microscópio estereoscópico e constam do Quadro I e II. A estrutura anatômica foi apreciada em cortes transversais medianos da domácia, coloridos pelo violeta cristal e eritrosina, com espessura de 18 micra, cujos dados acham-se anotados nos Quadros de n.os III a XI.

6. No capítulo referente à morfologia e à anatomia das domácias, para melhor apreciação do assunto foi introduzida a estrutura anatômica da fôlha adulta da variedade typica.

7. Morfològicamente as domácias foram examinadas nas suas duas faces, isto é, superior e inferior, anotando-se-lhes os aspectos apresentados, bem como a sua localização no limbo, isto é, na axila formada pelas nervuras principal e secundárias.

No geral a sua distribuição vai desde a base do limbo até aos 2/3, aproximadamente, do seu comprimento. Na face ventral da fôlha, as domácias exibem uma elevação abaulada e na dorsal situam-se na área da axila, e em um plano um pouco mais elevado que o limbo, mostrando no centro um orifício de forma variável.

Em cortes medianos, a domácia revela-se constituida de uma câmara embutida no mesofilo, a qual se comunica com o exterior por um canal; êste por sua vez, termina numa bôca que se abre na epiderme inferior do limbo. Histològicamente a domácia consta de uma epiderme, procedente do limbo e da nervura, e de um tecido parênquimatoso envolvente, composto de algumas camadas de células, o qual confina com os tecidos do mesofilo.

Topogràficamente a domácia situa-se entre os seguintes tecidos da estrutura foliar: sistema vascular principal, nervura secundária, parênquima lacunoso lateral e parênquima lacunoso superior. Sua posição com relação às regiões mencionadas fica perfeitamente definida, determinando-se as distâncias que vão do centro da câmara até elas.

SUMARY

The morphology and anatomy of domatia structures of 21 varieties and 4 strains of coffee plants (Coffea arabica L.) were studied and the resultas may be summarized as follows:

1. All the domatia structures observed belongs to type b of CHEVALIER.

2. In all coffee plants studied the domatia structures have the same tópographic position: close to the primary vein, between this and the secondary veins.

3. In each leaf the domatiae are distributed from the base up to 2/3 of the midrib length.

4. Differences in structure occur among the epidermis that lined the mouth opening, channel and chamber. No stomata were found here.

5. Te morphological and anatomical variations found in the domatia structures are not enough to distinguish apart the several coffee plant varietis studied.

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AGRADECIMENTOS

Desejamos registrar nossos agradecimentos ao Prof. Dr. Walter Radamés Accorsi, catedrático de Botânica da "Luiz de Queiroz", pela orientação que nos deu e pelas valiosas sugestões apresentadas durante a realização dêste trabalho, bem como pela sua ajuda na revisão do texto.

Somos gratos ao Prof. Dr. Edgard A. Graner, catedrático de Agricultura Especial da E. S. A. "Luiz de Queiroz" e ao docentelivre Dr. Carivaldo Godoy, por colocarem à nossa disposição todo material necessário; ao Dr. Alcides Carvalho, Chefe da Secção de Genética do Instituto Agronômico de Campinas pelo seu espírito de cooperação, franqueando as coleções de cafeeiros para nossos estudos.

Agradecemos ao ex-Diretor da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", Prof. Dr. Érico da Rocha Nobre, pelas facilidades proporcionadas, quer quanto à obtenção do material bibliográfico como técnico; ao Serviço de Documentação da Reitoria da Universidade de São Paulo, pela presteza com que providenciou os microfilmes solicitados.

Nossos reconhecimentos à Fundação Rockfeller, ao Conselho Nacional de Pesquisas e aos Fundos de Pesquisa da Universidade de São Paulo pelo equipamento concedido à Cadeira de Botânica da "Luiz de Queiroz", permitindo-nos a elaboração desta contribuição .

Àqueles que nos ajudaram no transporte do material do campo para o laboratório, aos que nos auxiliaram na confecção das lâminas de estruturas anatômicas, enfim, a todos que de uma forma ou de outra nos deram o seu apoio, somos devéras agradecidos.

LITERATURA CITADA

CHEVALIER, AUGUSTE & FRANCIS CHESNA1S, 1941 - Botanique - Sur les doaties des feuilles de Juglandáceas. Extraido de C. R. Académie des sciencies 213: 389-392. Séance du lundi 22 septembre. 4 pp. 3 fig. Pres. de M. Louis Bouvier. Paris - 1941 - Botanique - Nou-velles observation sur les domaties des feuilles des Juglandacées. Extraido de C. R. Acad. Sc. 213: 597-601. Séance du lundi 3 Novembre. Pres. de M. Hyacinthe Vicent. 5 pp. 13 fig. Paris.

Recebido para publicação em 11/10/1960.

ACCORSI, W. R., 1941 - A ocorrência das células anexas dos estômatos na familia Rubiaceae: II. - «Anais da E. S. A. «Luiz de Queiroz» 1(7): 157-175. Piracicaba.
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*

Os autores assinalados com um asterisco são citados por MARIANI (1908), com dois, por DU RIETZ (1930), os quais figuram na presente bibliografia.

Datas de Publicação

Publicação nesta coleção
10 Set 2012
Data do Fascículo
1960

Histórico

Recebido
11 Out 1960

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[1] ACCORSI, W. R., 1941 - A ocorrência das células anexas dos estômatos na familia Rubiaceae: II. - «Anais da E. S. A. «Luiz de Queiroz» 1(7): 157-175. Piracicaba.

[2] BERNEGG, SPRECHER VON, 1938 - O café. 354 pp. 52 ilustrações. Departamento Nacional do Café. Empresa Gráfica «O Cruzeiro» S. A. - Rio de Janeiro.

[3] BITANCOURT, AGESILAU, 1927 - A acarofilia do cafeeiro e seu papel eventual na defesa da planta contra os fungos parasitos. Boletim Biológico, n.° 10.

[4] CHAMBERLAIN, CHARLES J., 1932 - Methods In Plant Histology. Fifth Revised Edition. XIV. 416 pp. The University of Chicago. Press. Cicago. Illinois.

[5] CHEVALIER, Augs., 1929 - Les caféiers du globe, fascicule I; généra-lites sur les Caféiers. (Encyclopédie Biologique, V). 196 pp. 32 figs. Paul Lechevalier. Paris - 1942 - Les caféiers du globe, fascicule II: iconographie des caféiers sauvages et cultivés e des Rubiacéees prises pour des Caféiers. (Encyclopédic Biologique, XXII). 36 pp. 158 planches. Paul Lechevalier Éditeur." Paris - 1947 - Les Caféiers du globe, fascicule III: systematique des caféiers et faux-caféiers. (Encyclopédic Biologique, XXVIII). 356 pp. Paul Lechevalier Éditeur. Paris.

[6] DELACROIX, Dr. G., 1900 - Les maladies et les ennemis des caféiers. Second edition. Bibliothéque D'Agriculture Coloniale. 212 pp. 50 fig. Augustin Challamel, Éditeur. Paris.

[7] DE WILDEMAN, E. de (*), 1900 - Notes dur quelques espécies du genre Coffea L. (Actes du Congrès International de Botanique, p. 234 et 236. Paris - (*) 1904 - Notices sur des plantes utiles ou intéressantes de 1a flore du Congo. (Publication de l'Etat indépendent du Congo, II, 271-284, Bruxelas): Sur les Acarophytes (C. R. Ac. Sc, CXXXVII), p. 1437) - (*) 1904 - Nouveaux Caféiers de la Côte occidentale d'Afrique (Bull. Jard. colonial, IV, p. 114) - (*) sem data - Mission Emile Laurent, p. 326, 337, 344, 324 - 1910 - Matériaux pour une étude botanico-agronomique du genre Coffea (Caféiers cultivés). 384 pp. Ann. du Jardim bot. de Buitenzerg, 2.Sér. Supplem. III.

[8] DUBARD, M. (*), 1905 - Les Caféiers Sauvages de la montagne d'Ambre Bull. Jard. col., V. p. 96; VII, 1906, p. 521) - (*) 1907 - Les Caféiers Sauvages de Madagascar (Bull. Mus. nat. Hist, nat, p. 280-282).

[9] DU RIETZ, G. EINAR, 1930 - On domatia in the Genus Nothofagus. Svensk Botanisk Tidskrift. 24(4): 304-510. 3 figs.

[10] FONT QUER, P., 1953 - Diccionario de Botánica. Editorial Labor S. A. Barcelona. Madrid.

[11] FROEHNER, A. (*) - sem data - Loc. cit, p. 269.

[12] GOELDI, EMILE AUGUSTE, 1887 - Relatório sôbre a moléstia do cafeeiro na Provincia do Rio de Janeiro. Imprensa Nacional, Rio de Janeiro. 121 p. 4 estampas. 1 mapa.

[13] HAMILTON, A. G. (*), 1896 - On Domatia in Certain Australian and other Plants. Proceed. Linn. Soc. of New South Wales, Part. 4 Sydney.

[14] HOOKER, S. J. D| (*) - sem data - Bot. Magazine, t. 7475.

[15] JACKSON, BENJAMIN DAIDON, 1928 - A glossary of Botanic Terms. With Their Derivation and Accent. Fourth Edition. Duckworth. London. J. B. Lippimcett Company. Philadelphia. VII a XII. 481 p.

[16] JOHANSEN, DONALD ALEXANDER, 1940 - Plant microtechique. New York, McGraw-Hill publications in the botanical sciences). New York and London.

[17] KRUG, C. A., J. E. T. MENDES e A. CARVALHO, 1939 - Taxonomia de Coffea arabica L. Descrição das variedades e formas encontradas no Estado de São Paulo. Boletim Técnico do Instituto Agronômico de Campinas, n.° 62. 57 pp. 122 figs. Secret. Agr., Ind. Com. E. de São Paulo - 1949 - Taxonomia de Coffea arabica L. var. Caturra e sua forma xanthocarpa. Separata de Bragantia 9:157-163, est. 1-3. Campinas, Instituto Agronômico. Secret. Agr., Ind. Com. E. de São Paulo.

[18] LEBRUM, J., 1941 - Recherches morphologiques et systématiques sur les caféiers du Congo. Bruxelas. Publications de L'Institut National pour l'etude agronomique du Congo Belge. (I.N.É.A.C.

[19] LECOMTE, HENRI, 1899 - Le café. Culture, manipulation e production. 342 pp. Georges Carré et C. Naud, Éditeurs. Paris.

[20] LUNDSTROEM, A. N. (*), 1886-1887 - Pflanzenbiologische Studien II. Die Anpassungen der Pflanzenan Thiere. Domtienführende Planzen 1-88, 4 pl. (Nova Acta regiae societatis Scientiarum Upsaliensis, 3e c, 13).

[21] MALME, G. (*), 1900 - Brasilianska akarodomatieförande Rubiacéer Bihang till K. Svenska Vet. Akad. Handl., Band 25, Afd. Ill, n.ş 9. Stockholm.

[22] MARIANI, M. JACQUES, 1908 - Les Caféiers. Structur anatomique de la feuille. These pour l'obtention du diplome de Docteur de l'Université de Paris. Paris. 137 pp.

[23] MENDES, JOSÉ E. TEIXEIRA, 1939 - O cafeeiro San Ramon. Revista do Instituto de Café do Estado de S. Paulo. p. 450-452. 1 fig.

[24] METCALFE, C. R. e CHALK, L., 1950 - Anatomy of the Dicotyledons. V. I., II. Vol. I. LXIV. 724 pp. Volume II, 725-1500 pp. at the Clarendon Press. Oxford.

[25] PENZIG, O. e C. CHIABRERA, 1903 - Contributo alla conoscenza delle piante acarofile (Malpighia, vol. XVII, 429-487, pi. XVI-XVIII).

[26] SAMPAIO, A. J., 1927 - Actuaes difficuldades da Systematica do Gênero Coffea L. Relatório especialmente elaborado para o Congresso do Café, de São Paulo - outubro de 1927, compilando os dados de maior interêsse geral. 87 pp. Boletim do Museu Nacional. Rio de Janeiro.

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