Violência intrafamiliar e fonoaudiologia: uma análise do conteúdo

pesquisa transversal, realizada por meio da aplicação de questionários com fonoaudiólogos do Paraná e Santa Catarina. Foram incluídos profissionais que prestavam atendimentos clínicos voltados a crianças e adolescentes, sendo excluídos fonoaudiólogos que atendiam apenas adultos e idosos. Os dados foram explorados por meio da metodologia de Análise do Conteúdo.

Resultados

foram incluídos 75 fonoaudiólogos, sendo 70,7% do Paraná e 29,3% de Santa Catarina. Dos participantes, 52% atenderam crianças e/ou, adolescentes com casos suspeitos ou confirmados de violência. Na análise de conteúdo, os resultados foram alocados em um único eixo, subdividido em três subeixos temáticos: 1.1 profissionais que não relataram dificuldades ou facilidades, subeixo 1.2 as facilidades e subeixo 1.3 as dificuldades.

Conclusão

as facilidades do fonoaudiólogo no atendimento às vítimas de violência intrafamiliar infantil e juvenil estão relacionadas ao bom vínculo terapêutico com paciente e/ou familiares, ao adequado trabalho multidisciplinar/interdisciplinar e em rede. Já as dificuldades no atendimento fonoaudiológico voltado a crianças e adolescentes vítimas de violência são relativas ao diálogo com a família, aos órgãos de apoio, à frequência do paciente, à elaboração de estratégias terapêuticas e à falta de preparo profissional e psicológico do fonoaudiólogo.

Palavras-chave:
Fonoaudiologia; Violência; Exposição à violência; Criança; Adolescente

	n	%
Não tiveram dificuldades ou facilidades	4	5,3
Facilidades devido ao vínculo terapêutico	2	2,7
Facilidades devido ao trabalho em rede	1	1,3
Dificuldades em dialogar com a família	7	9,3
Dificuldades em relação aos órgãos de apoio	7	9,3
Dificuldades em relação à frequência do paciente	1	1,3
Dificuldades em relação ao próprio paciente fazer a denúncia	1	1,3
Acreditam não ser função do fonoaudiólogo	2	2,7
Dificuldade no manejo com o paciente	3	4
Falta de preparo profissional	10	13,3
Falta de preparo psicológico	3	4

EIXO 1 – Dificuldades ou facilidades dos fonoaudiólogos em casos de violência intrafamiliar contra crianças e/ou adolescentes
Subeixo 1.1: Sem dificuldades ou facilidades
Categorias	Componentes das categorias	Exemplos de unidades de registro correspondentes às respostas enunciadas pelos participantes/numeral identificador do participante
Não tiveram dificuldades ou facilidades	Sem relatos de dificuldades ou facilidades.	Não (19, 48, 57). Tranquilo (67).
Acreditam não ser função do fonoaudiólogo	Por não acreditarem ser sua função, não relataram dificuldades ou facilidades.	Acredito não ser minha função intervir nisso (38). Acredito que não é minha função agir nesses casos (41).
Subeixo 1.2: Facilidades
Facilidades devido ao vínculo terapêutico	Transferência	Esse caso foi fácil, pois a mãe estabeleceu transferência e tinha na terapia um lugar de escuta (63). Percebi maior confiança na terapeuta (73).
	Escuta
	Confiança
Facilidades devido ao trabalho em rede	Trabalho em rede	A facilidade que enxergo é o fato de trabalharmos em rede, possibilitando o acesso a diferentes equipamentos sociais e a esferas de atendimento (81). A facilidade é trabalhar com equipe interdisciplinar (20).
Facilidades devido ao trabalho em rede	Trabalho em equipe
Subeixo 1.3: Dificuldades
Dificuldades em dialogar com a família	Dificuldades de conversar com a família. Dificuldades de conversar com os pais.	Dificuldade de conversar com a família; algumas não comparecem, outras não dialogam (23). Dificuldade de conversar com os pais (58).
Dificuldades em relação aos órgãos de apoio	Rede de apoio	Algumas vezes tive dificuldade com rede de apoio (20). Dificuldades, pois o Conselho Tutelar não queria fazer a denúncia, por se tratar de uma pessoa conhecida; fomos até a psicóloga do Ministério Público para levar a denúncia (26). Dificuldade em saber como me portar frente à situação e dificuldade em encontrar meios para que pudesse realizar uma denúncia de forma anônima, pois a paciente confiava a mim essa situação (29). A dificuldade está em não saber quais serviços buscar ou confiar, temendo que a criança possa sofrer ainda mais violência ou ser impedida de continuar com o atendimento (74). O Conselho Tutelar, quando acionado, mostrou bastante ambiguidade no seu direcionamento, deixando em mim dúvidas sobre a minha conduta de acionar o Conselho (1).
	Conselho tutelar
	Quais serviços buscar
Subeixo 1.3: Dificuldades
Categorias	Componentes das categorias	Exemplos de unidades de registro correspondentes às respostas enunciadas pelos participantes/numeral identificador do participante
Dificuldades em relação a frequência do paciente	Baixa frequência	Dificuldade de frequência dos pacientes na terapia! (6).
Dificuldades em relação ao próprio paciente fazer a denúncia	Paciente denunciar	Sim, o paciente denunciar o agressor (18).
Dificuldade no manejo com o paciente	Dificuldade de o profissional elaborar uma terapia engajadora.	Tem dificuldade para realizar a terapia proposta. Dificuldade de entender jogos simples, como jogo da memória (65).
Falta de preparo profissional	Despreparo,	Sim. Não soube lidar, não temos preparo para isso (37). Dificuldade em obter informação sobre a violência (38). Sim. Minha falta de conhecimento provavelmente, levou à desistência da terapia e possibilidade de alguma intervenção na situação de violência. Os pais sumiram do mapa após eu descobrir a situação de violência e conversar com eles para colocá-los na parede e confessarem (39). Dificuldade sobre o que fazer, pois dependendo da conduta, poderia piorar a situação (55).
	Desinformação,
	Desconhecimento,
	Falta de envolvimento.
Falta de preparo psicológico	Despreparo psicológico.	Dificuldades com minhas questões individuais (psicológicas). Por se tratar de um tema que envolve sofrimento e culpa (20). Muitas dificuldades. Não sabia como lidar, não sabia o que fazer. Desespero tomou conta. Medo de notificar e sofrer retaliação por parte dos pais (40). Tive muitas dificuldades em manejar os casos, mexendo muito com o meu psicológico, por isso, decidi procurar amparo psicanalítico para mim, voltei a fazer análise a fim de dar conta dessa escuta (61).

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[1] Conflito de interesses: Não.