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Relato de caso de cálculo de colédoco em forma de cigarro: uma rara complicação após coledocoduodenostomia

CARTAS AO EDITOR

Relato de caso de cálculo de colédoco em forma de cigarro: uma rara complicação após coledocoduodenostomia

Luciano Dias de Oliveira Reis; Anthony TR Axon

Hospital Nossa Senhora da Saúde, Santo Antônio da Platina, PR, Brasil

Correspondência Correspondência: Luciano Dias de Oliveira Reis e-mail: reisluciano@uol.com.br

INTRODUÇÃO

A coledocoduodenostomia tem sido relatada desde o século 19 para tratar doenças benignas e malignas da papila, do ducto biliar comum e pâncreas 1,6. Hoje em dia progressos da endoscopia e radiologia intervencionista biliar mudaram drasticamente o diagnóstico e o modo de tratamento da coledocolitíase, e a exploração aberta é utilizada somente quando esses métodos não operatórios falharem. Coledocoduodenostomia lateral é uma maneira muito eficaz para o tratamento de cálculos no ducto biliar comum, com baixa mortalidade e morbidade1,6. Complicações a longo prazo são raras e estão relacionadas à estenose da anastomose ou devidas à "sump syndrome" (síndrome do poço ou do depósito)2,4,5,7,8. Ela é uma complicação rara e devida à retenção de restos de alimentos e cálculos na parte distal do colédoco, entre a papila e o estoma cirúrgico. O que torna o "este cigarro" como especial é que ele foi localizado no ducto biliar comum a partir da coledocoduodenostomia até a bifurcação dos hepáticos, diferente da síndrome do depósito quando o cálculo é entre a anastomose e a papila hepatoduodenal.

RELATO DO CASO

Mulher de 56 anos foi submetida à colecistectomia e coledocoduodenostomia como tratamento de escolha para sua colecisto e coledocolitíase em dezembro de 1981. Permaneceu assim por muitos anos. Em julho de 2005, foi submetida à endoscopia digestiva alta para a esclarecimento de azia que era portadora. Esofagite de refluxo foi confirmada. Durante o exame, o endoscopista sabedor do procedimento cirúrgico anteriormene feito, decidiu examinar a anastomose. Surpreendentemente uma imagem amarela era vista na coledocoduodenostomia e foi removida facilmente com uma pinça de apreensão. O ducto biliar comum para cima até a bifurcação dos hepáticos estava limpo (Figura 1). O cálculo removido tinha o tamanho e calibre de um cigarro e sua característica especial resultou no presente relatório.


DISCUSSÃO

Colecistectomia é a mais comum das operações abdominais maiores, e isso não é surpreendente uma vez que de 20 a 30% das pessoas com idade acima de 40 anos têm pedras na vesícula. Cerca de 15% dos pacientes submetidos à colecistectomia, têm sintomas de cólicas biliares e precisarão de algum tipo de exploração das vias biliares3. Hoje em dia a ultrassonografia e a colangiopancreatografia endoscópica são usadas para identificar e tratar as pedras comuns do ducto biliar, mas no passado a identificação de cálculo por colangiografia operatória era seguida de exploração cirúrgica e remoção de cálculos biliares3. Quando os ductos estavam muito dilatados e a limpeza com remoção dos cálculos do colédoco não eram satisfatórias, algum tipo de desvio biliar era feito pelo cirurgião para drenagem e eliminação espontânea de futuros cálculos; a coledocoduodenostomia era uma das opções favoritas7.

A coledocoduodenostomia também é usada para estenoses benignas e malignas da extremidade distal do ducto biliar comum, por pedras impactadas na papila.

Os avanços da endoscopia e o aumento do número de especialistas em endoscopia biliar intervencionista alteraram radicalmente o manuseio dos cálculos do colédoco. A coledocoduodenostomia foi ultrapassada pela colangiopancreatografia retrógrada e papilotomia para a retirada de cálculos ou tratamento de obstruções biliares, antes cirúrgicas. Ela é considerada excelente técnica para o desvio biliar. Tem baixa morbidade e mortalidade e poucos efeitos colaterais6. Complicações a longo prazo são raras. Entre elas estão a estenose da anastomose, colangite, a migração de alimentos e parasitas para a árvore biliar e "síndrome do poço". Esta é raramente vista5,8 e devida ao acúmulo de material no duto biliar distal à anastomose. Este reservatório está localizado entre o estoma da coledocoduodenostomia e papila hepatoduodenal. O tratamento de escolha é a papilotomia endoscópica e remoção do conteúdo, alimentos ou cálculos, presos no reservatório, quase sempre com bons resultados4,7.

Neste caso, o conteúdo foi localizado no ducto biliar comum, do estoma cirúrgico até a confluência dos ductos hepáticos, enchendo-o completamente, mas sem obstrução. Ele foi achado devido à curiosidade do endoscopista em examinar paciente depois de um longo prazo com coledocoduodenostomia, durante endoscopia digestiva alta de rotina.

Recebido para publicação: 08/06/2009

Aceito para publicação: 05/05/2010

Fonte de financiamento: não há

Conflito de interesses: não há

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  • Correspondência:

    Luciano Dias de Oliveira Reis
    e-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      19 Jan 2011
    • Data do Fascículo
      Dez 2010
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