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Aortas com três luzes

RELATO DE CASO

Aortas com três luzes

Luiz Alberto BenvenutiI; Eduardo Noda Kihara FilhoII; Alfredo José MansurI; Paulo Sampaio GutierrezI

IInstituto do Coração, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, São Paulo

IIInstituto de Radiologia, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP - Brasil

Correspondência Correspondência: Paulo Sampaio Gutierrez Laboratório de Anatomia Patológica, Instituto do Coração, Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Avenida Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 44 Cerqueira César. CEP 05403-000, São Paulo, SP - Brasil E-mail: anppaulo@incor.usp.br

Palavras-chave: Aorta; Aneurismas dissecantes; Patologia; Necropsia.

Introdução

As dissecções aórticas são caracterizadas pela clivagem em duas lâminas ao longo do eixo longitudinal da parede1, em extensão que varia desde poucos milímetros até a aorta inteira. A delaminação ocorre na camada média, quase sempre em seu terço externo. Assim, ruptura e morte consequente à hemorragia são comuns. No entanto, alguns pacientes sobrevivem, com ou sem tratamento cirúrgico, e a doença tem, desse modo, evolução crônica.

Duas dissecções foram descritas em alguns dos casos, podendo inclusive ser crônicas e agudas2. Tais dissecções, porém, ocorreram em diferentes segmentos da artéria. Aqui, são apresentados três casos em que a parede da falsa luz de dissecção crônica dividiu-se, formando dissecção aguda e criando três luzes para a aorta.

Entre os cerca de 250 casos de necrópsia de dissecções aórticas do Instituto do Coração - HC FMUSP em mais de 35 anos, houve três com dissecções crônicas e agudas no mesmo segmento arterial (Figura 1). Esse aspecto estava presente na tomografia computadorizada em um dos casos (Figura 2). Todos os pacientes eram de meia idade (a idade variou de 48 a 62 anos) e hipertensos; dois deles eram homens. Nenhum tinha valva aórtica bicúspide, coartação da aorta, síndrome de Marfan ou outro distúrbio genético reconhecido. Em todos os casos, houve ruptura do segmento com dissecção aguda, que causou a morte dos pacientes.



Comentários

Os aspectos demográficos desses pacientes não diferiram dos da maioria dos casos de dissecção: em estatística prévia de nossa instituição3 (em que um dos presentes casos estava incluído), 77,1% dos pacientes eram homens, 76,4% morreram entre 40 e 76 anos de idade, 89,6% eram hipertensos e 57,5% nos não-operados morreram em decorrência de hemorragia (essa causa de morte assume menor importância porque foram incluídos só casos com dissecção crônica).

Embora a patogênese da doença não esteja totalmente esclarecida4, é provável que haja uma fragilidade da parede, ligada a alterações da matriz extracelular, incluindo diminuição no colágeno5. A existência de tal condição subjacente é reforçada pelo fato de que a artéria pode ter mais de uma dissecção: dissecção em aortas com aneurismas, e mais de uma dissecção em diferentes zonas da mesma aorta, inclusive dissecções agudas e crônicas, foram reconhecidas anteriormente2 e não são incomuns. Aqui, foram apresentados casos particularmente interessantes, em que dissecções agudas ocorreram no mesmo segmento da parede arterial com dissecção prévia, causando a partição da artéria em três luzes. É importante salientar que esse aspecto pode ser visto à tomografia computadorizada e deve ser reconhecido para evitar interpretação incorreta.

Agradecimentos

Este artigo foi aprovado pela Comissão de Ética para Análise de Projetos de Pesquisa (CAPPesq) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. O professor Gutierrez recebeu bolsa de produtividade em pesquisas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Contribuição dos autores

Concepção e desenho da pesquisa, Análise e interpretação dos dados e Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual: Benvenuti LA, Mansur AJ, Gutierrez OS; Obtenção de dados e Redação do manuscrito: Benvenuti LA, Kihara Filho EN, Mansur AJ, Gutierrez OS.

Potencial Conflito de Interesses

Declaro não haver conflito de interesses pertinentes.

Fontes de Financiamento

O presente estudo não teve fontes de financiamento externas.

Vinculação Acadêmica

Não há vinculação deste estudo a programas de pós-graduação.

Artigo recebido em 03/05/12; revisado em 01/08/12, aceito em 17/12/12.

  • 1. Roberts WC. Aortic dissection: anatomy, consequences, and causes. Am Heart J. 1981;101(2):195-214.
  • 2. Roberts CS, Roberts WC. Aortic dissection with the entrance tear in the descending thoracic aorta: analysis of 40 necropsy patients. Ann Surg. 1991;213(4):356-68.
  • 3. Gutierrez PS, Lopes EA. Patologia das dissecções aórticas. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 1994;4:413-20.
  • 4. Gutierrez PS, Pereira MA, Oliveira RC, Stolf NA, Higuchi Mde L. Níveis de hormônios tireoideanos em pacientes com dissecção aórtica. Comparação com controles e correlação com a porcentagem de área da camada média composta por depósitos mixóides. Arq Bras Cardiol. 2004;82(2):129-33.
  • 5. de Figueiredo Borges L, Jaldin RG, Dias RR, Stolf NA, Gutierrez PS. Collagen is reduced and disrupted in human aneurysms and dissections of ascending aorta. Human Pathol. 2008;39(3):437-43.
  • Correspondência:

    Paulo Sampaio Gutierrez
    Laboratório de Anatomia Patológica, Instituto do Coração, Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
    Avenida Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 44
    Cerqueira César. CEP 05403-000, São Paulo, SP - Brasil
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      09 Set 2013
    • Data do Fascículo
      Ago 2013
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