Resumo: Na maioria dos países do mundo ocidental, universidades que formam a elite costumam ser redutos da branquidade refratários a grupos socialmente excluídos. No Brasil, com mais da metade da população formada por pretos e pardos, as universidades públicas sempre foram um território quase exclusivamente branco. O Rio Grande do Sul, estado brasileiro com a segunda maior percentagem de população branca do país, reflete esse quadro. Ele enaltece o legado dos grupos imigrantes de origem europeia em contraste com a pequena visibilidade atribuída à contribuição da população negra e indígena. No período 2008 a 2012, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a mais importante do estado, implementou uma política de ação afirmativa que aumentou as oportunidades de alunos pretos, pardos e indígenas entrarem em seus cursos de graduação. O artigo discute essa política - sua aprovação, características, implantação, avaliação e reformulação, assim como seus resultados. Analisa a experiência de um grupo de universitários negros e indígenas, que foram dos primeiros a ingressar na UFRGS através da reserva de vagas. Ao final, aponta os significados das políticas de inclusão de negros e indígenas nas universidades públicas brasileiras e os desafios que elas representam para essas instituições.
Abstract: Rio Grande do Sul is the southernmost state of Brazil and has the second highest percentage of white population of the country. There, the legacy of European immigrants is praised in contrast with the much lower social and symbolic visibility of the contribution of Blacks and Natives. The Federal University of Rio Grande do Sul (UFRGS), the oldest, most traditional and important university of the state, has always been a stronghold of whiteness. From 2008 to 2012, it implemented an affirmative action policy that increased the opportunities for Blacks and Natives in its undergraduate courses. The first part of this article examines the discussion, approval, implementation, evaluation and reformulation of that policy, as well as its results in terms of access to the undergraduate courses. The second part analyses the experience of a group of black and native students, who were among the first to enter UFRGS through social and racially preferential admission. It, also, discusses challenges of Brazilian public universities in view of the affirmative action policies that are being implemented.