Este artigo tem como objetivo evidenciar e analisar os vínculos parentais estabelecidos por escravos e libertos de procedência africana, sujeitos de diferentes categorias sociais e origens étnicas, no contexto de uma cidade portuária ao Sul do Brasil: Nossa Senhora do Desterro, localizada na Ilha de Santa Catarina. O ponto de partida do artigo é a trajetória de vida, construída a partir de alguns indícios, do africano forro Francisco de Quadros, da africana Catharina, de nação Benguela, e de Francisco de Siqueira, os quais, no contexto do século XIX, estabeleceram relações de solidariedade e vínculos familiares. A partir de suas trajetórias, nossa intenção é descortinar outras inúmeras experiências de vida das populações de origem africana na cidade. Partimos do princípio de que os estabelecimentos de vínculos parentais constituem, num contexto escravista, uma maneira de criar esperanças, de possibilitar a sobrevivência e de reinventar as identidades. Os africanos, ao criar seus vínculos familiares, conferiram sentido a suas vidas e marcaram de forma significativa o espaço social em que viviam.
This article aims to highlight and analyze parental bonds established by slaves and freedmen of african origins, subjects of different social classes and ethnic identity in the context of harbor town in southern Brazil: Nossa Senhora do Desterro, located on the island of Santa Catarina. The starting point of this article is the life path, constructed from some life evidences of the african freedman Francisco de Quadros, the African nation of Catharina Benguela and Francisco de Siqueira, which in the context of the nineteenth century established relationships of solidarity and family ties. From their trajectories our intention is to uncover numerous other lifes' experiences of people with african origins in the city of Desterro. We assume that establishments of parental bonds constitute, in a context of a slavery society, a way to create hope, to enable the survival and reinvent identities. By inventing their family ties, this african people gave meaning to their lives and marked significantly the social space in which they lived.